terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Notorious - Um Hitchcock no Brasil


Notorious (br: Interlúdio) é um filme norte-americano de suspense, dirigido em 1946 por Alfred Hitchcock.









Alicia Huberman (Ingrid Bergman), a filha de um espião americano condenado por ser nazista, é recrutada pelo agente do governo TR Devlin (Cary Grant) para se infiltrar em um grupo de alemães que se mudaram para o Brasil após a Segunda Guerra Mundial.

Enquanto aguarda os detalhes de sua atribuição, no Rio de Janeiro, Alicia se apaixona por Devlin. Seus sentimentos por ela são complicados por seu conhecimento do seu passado selvagem. Quando Devlin é ordenado a convencê-la a seduzir Alex Sebastian (Claude Rains), um dos amigos de seu pai e um membro do grupo, Devlin tenta convencer seus superiores que Alicia não está apta para o trabalho. Mas ao ver Alicia novamente, ele mostra-se resoluto, escolhendo o dever ao amor. Alicia conclui que ele não a ama, e ela logo se casa com Alex para espioná-lo melhor e seus associados.

Alicia e Devlin descobrem o elemento-chave da trama por acaso, mas no processo deixam um indício de que o marido remonta a ela. Agora, Alex tem um problema: ele tem de silêncio Alicia, mas não pode expor o seu, sem ser desacreditado por seus companheiros nazistas. Alex discute a situação com a mãe (Konstantin Leopoldina), que sugere que Alicia "morra lentamente" por envenenamento. O veneno é inicialmente misturado no café de Alicia, e ela rapidamente cai doente. Devlin fica alarmado quando ela não aparece em seu próximo encontro. Depois de dirigir a casa de Sebastian, ele foge ao quarto de Alicia, onde ela diz que Alex e sua mãe estão envenenando-a. Depois de confessar seu amor por ela, Devlin transporta-a para fora da mansão, à vista dos conspiradores. Alex implora para ir com eles, e não abandoná-lo à vingança dos nazistas.








CINELANDIA

O filme se passa no Rio dos anos 40; há cenas com a Cinelandia, o Palácio Monroe, o Teatro Municipal, a Avenida Rio Branco dividida por uma calçada central, o Hotel Avenida e a Galeria Cruzeiro, a “Gaiola de Ouro”, o Outeiro da Glória, a praia de Copacabana.

Não há lugar onde o Rio seja mais cosmopolita que na Cinelândia. Agitação, diversidade de tipos, mistura de gente de tantas procedências, comércio, cinema, teatro, música para todos os gostos, política de todas as tendências, boemia de todas as horas, arte, cultura e arquitetura. O mundo.

Talvez o cosmopolitismo pleno explique o fato de que, quando íamos ao encontro de todas essas luzes, dizíamos que íamos à Cidade. Não a um lugar. Mas à Cidade, como se a Cinelândia resumisse o Rio e, por conseqüência, o representasse: o espaço público por todos dividido.

De bonde, o carioca saía de seus bairros, qualquer bairro, e chegava ao Tabuleiro da Baiana, no Largo da Carioca, que se confundia com a própria Cinelândia, sendo mesmo uma de suas fronteiras – perímetro da Galeria Cruzeiro, da Livraria Freitas Bastos, do Café Nice, do Cinema Parisiense, do Cineac Trianon, da Loja Palermo Irmãos & Cia. – com os melhores discos do mundo –, da Leiteria Silvestre, do Clube Naval, do Jockey Clube.

Mas a Cinelândia – principalmente o chamado 'Quarteirão Serrador' – foi, acima de tudo, a nossa Broadway – ou aquilo que a gente pensava que fosse a Broadway –, o lugar dos melhores cinemas da Cidade: o Odeon – em cujo prédio até hoje está a sede da empresa Luiz Severiano Ribeiro e, em uma de suas salas, o estúdio da Foto Preuss, que perpetuou o chuca-chuca de centenas de bem-nascidos bebês –, o Império, o Pathé, o Capitólio – rival do Cineac, a garantir sempre que "a sessão começa quando você chega" –, o Rex – no prédio do hotel com o mesmo nome –, o Rivoli, o Vitória, o espetacular Palácio, o Metro Passeio e, já na fronteira sul, o Plaza e o Colonial.

Não nos esqueçamos de que, embora fosse uma cinelândia, havia ainda teatros de primeira: o Glória e o Rival, sem falar, é claro, no Municipal, sua jóia maior. E tínhamos também o Amarelinho – onde, numa mesa de calçada, Gary Grant namorou Ingrid Bergman, sem nunca terem vindo ao Rio –, a Americana, o Hotel Serrador – em cuja boate, a Night and Day, Carlos Machado lançou alguns dos seus mais belos espetáculos –, o Hotel Ambassador, o OK e o Itajubá – ninhos de mineiros vindos de todas as alterosas –, o Grande Hotel, o Avenida...

No capítulo do comércio, tínhamos, no território da Cinelândia, aquela que desbancou a Notre Dame de Paris – na velha Rua do Ouvidor – como o maior magazine do Rio, a loja de Mestre et Blatgé, que simplificou seu nome para Mesbla. E, no capítulo da cultura e da política, a Biblioteca Nacional, o Museu Nacional de Belas-Artes, o Supremo Tribunal Federal e o Palácio Monroe, reconstruído para a Terceira Conferência Pan-Americana, em 1906, tornando-se depois sede do Senado da República.

E o que dizer da boemia da Cinelândia, sua razão de ser ? A noite ainda ferve com o Cordão da Bola Preta. Serviu ela de palco para o desfile das grandes escolas de samba – final dos anos 50, começo dos 60 – e para a apoteose das grandes sociedades carnavalescas, os préstitos; na Senador Dantas, por sinal, foi fundado o Clube dos Fenianos.

Conta a lenda que, em 1917, um grupo de sócios deixou o Clube dos Democráticos passando a se encontrar no Bar Nacional (atual Edifício Avenida Central) e, entre chopes e bravatas carnavalescas, resolveu fundar um "Cordão", o do Bola Preta, em homenagem ao vestido de uma mulata que passava na hora.

Como na Broadway, era quando a Avenida Rio Branco chegava à Cinelândia que os grandes eventos do Rio tinham o seu momento culminante: a parada de Sete de Setembro e dos colégios, durante o Estado Novo; o desfile dos Pracinhas da FEB, em 1945; a passeata dos Cem Mil, em 1968; o coro pelo impeachment, em 1992. Era o ponto em que, antes do satélite, os cariocas se reuniam para ouvir as partidas da Copa do Mundo, ou reverenciar seus ídolos, como Carmen Miranda, Francisco Alves ou Garrincha.

Como arquiteto, não posso deixar de lembrar ainda aos que estas linhas lerem que, na Cinelândia e arredores, podem ser apreciados alguns dos mais belos prédios do Rio, do Colonial ao Neoclássico, do Art Nouveau ao Art Déco, e um espetacular chafariz, que já andou pela cidade toda e que, em boa hora, veio ocupar o espaço que era do Palácio Monroe, derrubado pela pobreza de espírito.
texto de Luiz Paulo Conde
Fotos:

































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