segunda-feira, 25 de julho de 2016

O Animal Satisfeito Dorme

“O animal satisfeito dorme”, texto de Mário Sérgio Cortella

O sempre surpreendente Guimarães Rosa dizia: “o animal satisfeito dorme”. Por trás dessa aparente obviedade está um dos mais fundos alertas contra o risco de cairmos na monotonia existencial, na redundância afetiva e na indigência intelectual. O que o escritor tão bem percebeu é que a condição humana perde substância e energia vital toda vez que se sente plenamente confortável com a maneira como as coisas já estão, rendendo-se à sedução do repouso e imobilizando-se na acomodação.
A advertência é preciosa: não esquecer que a satisfação conclui, encerra, termina; a satisfação não deixa margem para a continuidade, para o prosseguimento, para a persistência, para o desdobramento. A satisfação acalma, limita, amortece.

Por isso, quando alguém diz “fiquei muito satisfeito com você” ou “estou muito satisfeita com teu trabalho”, é assustador. O que se quer dizer com isso? Que nada mais de mim se deseja? Que o ponto atual é meu limite e, portanto, minha possibilidade? Que de mim nada mais além se pode esperar? Que está bom como está? Assim seria apavorante; passaria a idéia de que desse jeito já basta. Ora, o agradável é quando alguém diz: “teu trabalho (ou carinho, ou comida, ou aula, ou texto, ou música etc.) é bom, fiquei muito insatisfeito e, portanto, quero mais, quero continuar, quero conhecer outras coisas.

Um bom filme não é exatamente aquele que, quando termina, ficamos insatisfeitos, parados, olhando, quietos, para a tela, enquanto passam os letreiros, desejando que não cesse? Um bom livro não é aquele que, quando encerramos a leitura, o deixamos um pouco apoiado no colo, absortos e distantes, pensando que não poderia terminar? Uma boa festa, um bom jogo, um bom passeio, uma boa cerimônia não é aquela que queremos que se prolongue?

Com a vida de cada um e de cada uma também tem de ser assim; afinal de contas, não nascemos prontos e acabados. Ainda bem, pois estar satisfeito consigo mesmo é considerar-se terminado e constrangido ao possível da condição do momento.

Quando crianças (só as crianças?), muitas vezes, diante da tensão provocada por algum desafio que exigia esforço (estudar, treinar,EMAGRECER etc.) ficávamos preocupados e irritados, sonhando e pensando: por que a gente já não nasce pronto, sabendo todas as coisas? Bela e ingênua perspectiva. É fundamental não nascermos sabendo e nem prontos; o ser que nasce sabendo não terá novidades, só reiterações. Somos seres de insatisfação e precisamos ter nisso alguma dose de ambição; todavia, ambição é diferente de ganância, dado que o ambicioso quer mais e melhor, enquanto que o ganancioso quer só para si próprio.

Nascer sabendo é uma limitação porque obriga a apenas repetir e, nunca, a criar, inovar, refazer, modificar. Quanto mais se nasce pronto, mais refém do que já se sabe e, portanto, do passado; aprender sempre é o que mais impede que nos tornemos prisioneiros de situações que, por serem inéditas, não saberíamos enfrentar.

Diante dessa realidade, é absurdo acreditar na idéia de que uma pessoa, quanto mais vive, mais velha fica; para que alguém quanto mais vivesse mais velho ficasse, teria de ter nascido pronto e ir se gastando…

Isso não ocorre com gente, e sim com fogão, sapato, geladeira. Gente não nasce pronta e vai se gastando; gente nasce não-pronta, e vai se fazendo. Eu, no ano que estamos, sou a minha mais nova edição (revista e, às vezes, um pouco ampliada); o mais velho de mim (se é o tempo a medida) está no meu passado e não no presente.

Demora um pouco para entender tudo isso; aliás, como falou o mesmo Guimarães, “não convém fazer escândalo de começo; só aos poucos é que o escuro é claro”…
Excerto do livro “Não nascemos prontos! – provocações filosóficas”. De Mário Sérgio Cortella

Redes Socias diminuem o Quociente Intelectual

By Bruno Torturra

Seguinte: passei 20 dias sem postar nada nessa rede ou em qualquer outra. Senti uma mudança real no meu nível de ansiedade, na capacidade de foco, na energia disponível para trabalho e para outros temas e interesses. E, principalmente, na forma de "verbalizar" (grandes aspas aqui) internamente os pensamentos. Ontem cometi o pecado de meter uns 4 posts na timeline durante e depois da votação do Congresso.
Eu havia subestimado o benefício de me manter distante do Facebook. Dormi mal, uma ansiedade contida ressurgiu com tudo, voltou um pensamento circular que se constrói a partir de outros posts - e como posts que nunca serão escritos. Completa falta de foco. E uma energia enorme dispersada a troco de quase nada.
Sem brincadeira, até porque levo drogas e adição muito a sério, nunca vivi nada mais parecido com uma recaída do que isso.
Já não tinha muitas dúvidas, tenho menos agora: esse dinâmica de comunicação a que estamos submetidos precisa ser entendida como estrutural nessa depressiva crise psicopolítica. Está drenando energia, serotonina, dopamina e muita força que poderia ser gasta com trabalho, articulação, organização e construção de saídas a partir de nossa perplexidade e indignação.
Vou sair do Facebook? Não. Ainda não. Como jornalista independente, sem veículo ou vínculo com outros meios de comunicação, preciso da rede que consolidei com o meu trabalho por aqui. Uma pena, no fundo.
Mas vou seguir em silêncio por uns tempos, finalizando a reforma do meu site (está ficando bom!) e tocando trabalhos mais consistentes que vão ficando cronicamente em segundo plano nessa cracolândia da procrastinação e micro autoafirmações.
Até porque, droga por droga, conheço muitas bem mais interessantes - e mais saudáveis - do que a timeline.
Em frente.

Decrescimento Positivo

Se desfazer de tudo não torna você mais feliz, e sim mais pobre

O decrescimento positivo existe. E não tem nada a ver com ficar sem casa
A crise chegou. Foi arrasadora. Os jornais se encheram de gente que perdeu tudo: o lar, o trabalho, a família. É impossível encontrar felicidade em situações assim e em tantos dramas que povoam a mídia todo dia. Mas há uma tendência em alta que defende abandonar um ritmo exaustivo de trabalho para desfrutar do lazer acima do dinheiro e das coisas materiais. Não tem nada a ver com ficar na miséria. Faz parte do chamado decrescimento, uma corrente que abrange uma mudança total de paradigma político, econômico e social. Não se trata de tornar-se um asceta: os teóricos defendem uma prosperidade sustentável e um melhor uso de nosso tempo no qual o consumo não seja o elemento primordial. O objetivo é alcançar a felicidade em harmonia com o ambiente.

Não é nada novo. Apesar de agora haver histórias de superação e autodescoberta baseadas na máxima do “dejar todo y largarse, ¡qué maravilla!” , cantada por Silvio Rodríguez, as teorias sobre as vantagens de abandonar o supérfluo existem há muito tempo. Antes, inclusive, que o pensador francês Serge Latouche as popularizasse com a publicação do artigo La Décroissance no início do século XX. Vêm desde o famoso livro/manual Walden, de Henry David Thoreau, que dizia em 1854 coisas como estas:

“A maioria dos homens está tão preocupada com os cuidados fáticos e as tarefas rudes mas supérfluas da vida que não consegue colher seus melhores frutos. Na realidade, o homem trabalhador e esforçado carece de tempo livre para desenvolver uma vida cotidiana íntegra e pessoal, sequer pode manter as relações mais viris com outros homens, pois seu trabalho se depreciaria no mercado. Não tem tempo de ser outra coisa além de uma máquina”.

A partir deste testemunho, a editora Errata Naturae acaba de recuperar o original de A country year, uma mistura de diário pessoal e ensaio publicado por Sue Hubbell na década de setenta do século passado. A escritora norte-americana (Michigan, 1935) deixou seu emprego de bibliotecária para se dedicar à apicultura nas montanhas do Missouri. Assim, afirma, teria menos dinheiro, mas mais tempo livre e menos pesos com os quais se preocupar. Sua renda menor, além disso, representaria menos impostos levados por “um governo que amparava a injustificada guerra do Vietnã”.

O que aconteceu? “Na verdade, não larguei tudo”, esclarece previamente Hubbell por e-mail, “mas levei comigo um conjunto de competências e habilidades para confiar em mim mesma e amar o lugar. Mas suponho que abandonar um emprego e tudo o mais me faz entrar, de certa forma, na categoria de pessoa em risco”. Sua passagem pela natureza a ensinou a “observar como sobreviviam os animais a cada momento e afiar sua compreensão do meio ambiente”, mas sobretudo lhe fez gozar de grandes momentos de felicidade que ela detalha no livro em descrições da paisagem ou em passagens cotidianas. “Nunca me interessei por dispositivos tecnológicos e não sei como se pode ser vítima desse afã por consumir tanto”, acrescenta diante da pergunta sobre se vale a pena adquirir objetos materiais. “O maior problema não é esse, mas que muitos seres humanos ainda demonstram intolerância em relação ao outro; são violentos, cruéis e tentam prejudicar os que estão em volta”, afirma.

Prosperidade versus crescimento
Julio García Camarero concorda com ela. O engenheiro técnico florestal passou mais de mil páginas teorizando sobre o dano do crescimento disparatado, gerador da “crise terminal”. No ano passado publicou um livro que qualificava o decrescimento de “infeliz”. “Há dois decrescimento opostos e, para que não haja ambiguidade, é preciso dar-lhes um sobrenome. Um é o infeliz, de 99% da população, ligado ao crescimento de uma oligarquia, o outro 1% da população, e que provém do desemprego, dos cortes para a maioria etc. Há outro, muito diferente, que consiste em consumir menos, em um desenvolvimento mais humano. Esse é o feliz”, pondera.

“Há quem confunda progresso com crescimento, tanto em termos pessoais como materiais. Gosto de falar de prosperidade, que se ajusta mais ao verdadeiro progresso e não inclui a acumulação de bens e a criação de pseudonecessidades”, acrescenta. “O decrescimento feliz passa por abastecer-se de uma agricultura ecológica, despojar-se da escravidão e alcançar qualidade de vida com o lazer e as relações de amizade”, conclui quem, aos 80 anos, investe sua aposentadoria em assistir assembleias de bairro, colaborar com hortas urbanas ou visitar filhos e netos em carros compartilhados.

Seus postulados, se olharmos para trás, se adivinham nas linhas do famoso Direito à preguiça, de Paul Lafargue, que — a partir de seu ativismo marcante 8— assevera: “Uma estranha loucura se apoderou das classes trabalhadoras dos países dominados pela civilização capitalista. Esta loucura traz como resultado as misérias individuais e sociais que, há séculos, torturam a triste humanidade. Esta loucura é o amor ao trabalho, a paixão moribunda por ele, levada ao esgotamento das forças vitais do indivíduo e de seus filhos. Entorpecidos por seu vício, os trabalhadores não conseguiram se elevar à compreensão do fato de que, para que haja trabalho para todos, era necessário racioná-lo como a água em um barco à deriva”.

Seus defensores consideram o decrescimento algo imprescindível para o bem-estar do planeta. É o que propõe o veterinário e doutor em Administração de Empresas Gustavo Duch em seu livro Lo que hay que tragar (Los livros del lince, 2010): “De alguma forma que me escapa, há um pensamento dominante que relaciona diretamente crescimento econômico (mais produção, mais consumo) com desenvolvimento, com prosperidade e até chegam a considerá-lo um remédio contra as desigualdades. O decrescimento não é uma proposta que podemos ou não adotar, é uma situação que cedo ou tarde chegará e que devemos assumir. A crise econômica generalizada poderia ser interpretada como um primeiro sinal do colapso ou, ao contrário, se agimos de acordo, poderia se tornar um ponto de inflexão, em um momento de reflexão obrigatória e em uma oportunidade histórica para antecipar-se e evitar que o decrescimento acabe constituindo-se em um fardo pesado. Partindo dessas premissas, as medidas frente à crise não se concentrariam no aumento da produtividade — receita aplicada pela maioria dos governos — mas em analisar os modos de produção e hábitos de consumo”.

Mais tempo é mais riqueza
Trata-se de pensar em um crescimento sustentável que não seja medido exclusivamente por índices econômicos e que nos ajude a viver com tranquilidade, sem angústias, e reforçando os gostos de cada um, definitivamente. Nada a ver com as frases positivas de gurus que perderam tudo e se reencontraram graças à pobreza. “Sequer os milionários conseguem comprar dias de mais de 24 horas. Nesse sentido, o tempo é muito democrático, porque entre um e outro amanhecer todos dispomos da mesma quantidade de horas, do mesmo capital de tempo. E, como todas as economias, a do tempo é uma economia política”, analisa María Ángeles Durán, pesquisadora do Centro de Ciências Humanas e Sociais do CSIC, em seu estudo El valor del tiempo.

Trata-se portanto de possuir bens relacionais, como relembra em Menos es más (Los libros del lince, 2009) o divulgador francês Nicolas Ridoux. “O lugar essencial de nossas vidas está ocupado pelo consumo. O tempo acumulado em nossas decisões de compra, a gestão das mesmas e de suas consequências, é considerável, em detrimento do tempo dedicado a uma verdadeira plenitude. O decrescimento, pela humildade e a sobriedade que representa, poderia oferecer soluções, ao mesmo tempo coletivas e individuais, aos grandes desafios de nossa época, assim como alegria de viver”, sentencia.

Curso para Coxinhas Esclarecidos

By site Viomundo

Agora que você conseguiu derrubar uma presidente da República com premissas e argumentos falsos, é hora de sofisticar sua capacidade de debate.
Não seja confundido com um mero seguidor do intelectual pornô Alexandre Frota. Pega mal na turma. Você certamente é muito mais sofisticado que isso.
Provavelmente você é admirador dos Estados Unidos e, ao mesmo tempo, do Estado Mínimo, escrito assim em maiúsculas para denotar a centralidade deste item na pauta neoliberal.
Nunca confunda uma coisa com outra. Por mais que a Miriam Leitão sugira isso, os Estados Unidos NÃO SÃO um Estado Mínimo.
Palavra de quem morou lá duas décadas e tem duas filhas novaiorquinas (na verdade, de tripla nacionalidade, dentre as quais preferem a brasileira), com direito a tirar proveito do estado de bem estar social dos Estados Unidos.
Você costuma confundir estado de bem estar social com comunismo (como em Bolsa Família, médicos cubanos, etc.). Nos Estados Unidos, ele é resultado do ANTICOMUNISMO.
Prestenção: quem implantou o estado de bem estar social nos Estados Unidos foi o presidente Roosevelt. O país vinha do crash econômico de 1929. Depressão econômica. Os sindicatos eram fortes. Para cooptar os sindicatos e evitar a ascensão dos comunistas, Roosevelt resolveu implantar programas sociais e SALVAR O CAPITALISMO. Portanto, as coisas que ele bolou e implantou eram uma forma de combater o comunismo. Logo, anticomunistas.
Chamar o Roosevelt de comunista é tão absurdo quanto chamar o Lula ou a Dilma ou o PT de comunista. Eles são SOCIAL DEMOCRATAS.
No Brasil, o partido que tem social e democratas no nome não é nem uma coisa, nem outra.
Voltemos aos Estados Unidos. Por mais que a partir daquele seu grande herói, o Reagan, os EUA tenham dilapidado o estado de bem estar social, os pilares deles subsistem: Social Security, Medicare, Medicaid e Food Stamps.
Pode chamar de Previdência Social, Bolsa Terceira Idade, Bolsa Plano de Saúde e Bolsa Família.
Essa ideia, de que o Estado deve ajudar a cuidar dos mais fodidos, é uma coisa antiga, que surgiu em outro país que você admira muito, a Alemanha. Mas não quero dar overload de informação no seu cérebro.
Basta você registrar isso: por causa dos programas sociais acima -- e de outros FATOS que apresentarei em seguida -- os Estados Unidos não são um Estado Mínimo.
Pelo contrário, os EUA se assentam sobre um MEGAESTADO, muito maior que o brasileiro.
Se você quer alguns exemplos de Estado Mínimo, eu os ofereço: México, Honduras e Paraguai, países que você certamente despreza e NUNCA utiliza como exemplo para reforçar seus argumentos.
Portanto, sempre que você falar em Estado Mínimo, esqueça os Estados Unidos e diga: "Devemos fazer como lá no Paraguai, que..." Acrescente, em seguida, os argumentos pelos quais o Brasil deve seguir o mesmo caminho. A gente quer coxinhas sofisticados
E intelectualmente honestos!

Socorro, não consigo mais ler..


Não consigo mais ler livros.
 Não que eu não queira. Simplesmente não consigo.
Sou um leitor, desde que me entendo por gente.
Sempre li muito. E continuo lendo.
Mas de uns anos para cá, me alimentar compulsivamente de internet tem causado um efeito colateral que ainda não consigo explicar muito bem.
Só sei que agora, toda vez que pego um livro nas mãos, não consigo ler, canso rápido. Se o texto não “embala” logo, preciso de muito esforço para continuar com a leitura.
E não é só com o livro de papel. A mesma coisa acontece com o livro digital. Não tem nada a ver com o tipo de apoio. Tem a ver com a extensão do texto.
Essa situção tem me deixado agustiado. Será que desaprendi a ler? Será que fiquei preguiçoso? Será que agora só consigo ler coisas curtinhas e, de preferência, com uns links?
Acho que não. Na verdade, nunca li tanto como agora. Passo o dia inteiro lendo. Mas leio cacos, fragmentos.
Sim, o efeito é conhecido e foi previsto anos atrás.
Sai o disco, entra a música.
 Sai o filme, entra a série.
 Sai a série, entra o curta do Youtube.
 Sai a mesa de bar, entra o Facebook.
 Sai o livro, entra o post, o artigo.
Tudo o que era consumido em pacote-família, em tabletão, agora é consumido em formato M&M’s.
A gente já sabia que isso acontecer, faz tempo. Mas o que eu ainda não tinha sentido na pele é que esse fenômeno do snack culture iria me TIRAR algo e me IMPEDIR de ler textos longos. Porque uma coisa é você perceber que existe uma nova maneira de ler (circular e não linear) e passar a usá-la.
Outra coisa é você perder sua capacidade de concentração.
Eu queria adicionar o jeito novo, mas não queria perder o jeito velho.
A internet causou em mim, e talvez em você, uma diminuição na atenção, um efeito similar ao do Transtorno do Déficit de Atenção (TDAH). Não que essa dificuldade de concentração seja um TDAH (que é neurobiológico e tem causas genéticas), mas tem essa característica em comum. Aliás, os próprios parâmetros de diagnóstico de TDAH tem sido frequentemente revistos justamente por conta dessa alteração de comportamento, especialmente em escolas.
Já tentei de tudo, busquei aquelas ficções bacanas, cheias de escapismo, com viagens para lugares distantes, coisas que eu devorava durante a adolescência…mas 10 minutos depois o que escapa é minha atenção mesmo.
Fico voltando para o começo do parágrafo, sabe? Nem a biografia do Steve Jobs eu consegui terminar.
Fico repetindo para o autor “vai, já entendi, conta logo, pára de enrolar”.
Esse é outro sintoma: fiquei mais factual e perco fácil a paciência com aquela fase de contextualização e envolvimento com os personagens.
Meu kindle tem, neste exato momento, a ridícula marca de 18 livros iniciados.
Estou fazendo com eles a mesma coisa que faço com as músicas no meu iPhone, que fatalmente acabam tomando uma “skipada” depois de alguns segundos (tirando as do Zappa, que felizmente ainda ouço cada nota com prazer até o fim). Pô, eu ouvia aqueles álbuns inteiros do Pink Floyd… agora isso seria inimaginável.
Sei que isso tudo soa como algo ruim, mas nem isso eu tenho certeza.
A civilização humana já passou por isso muito antes da internet, por exemplo quando passamos da comunicação exclusivamente oral e acrescentamos a escrita. Colocar conteúdo por escrito livrou nossa memória e permitiu textos bem mais longos e precisos. Agora estamos de volta aos conteúdos curtos, mas ainda mais precisos. E, se um dia desenvolvermos a telepatia, certamente as palavras vão nos parecer ineficientes demais. Formas diferentes de trocar conteúdos, histórias.
Enfim, um post pouco conclusivo, mais desabafo mesmo, para ver se tem mais gente nesse barco.
Estou assustado por não conseguir mais ler um livro inteiro.