domingo, 12 de junho de 2011

A Moda do Reaça


A Moda do Reaça
Marcelo Rubens Paiva

Como comentou uma leitora, Natália, no post anterior:
Cara, acho tão engraçada essa mania das pessoas de falarem com orgulho que são “politicamente incorretas” quando dizem absurdos… o sujeito vem, fala um monte de merda e diz que faz isso porque é inteligente (é um livre pensador, não segue o pensamento burro e dirigido das massas, etc) e porque não liga de ser “politicamente incorreto” porque afinal esse é o certo, a sociedade de hoje que está deturpada.
Coincidência. Eu pensava na mesma coisa.
O governador e o secretário municipal de segurança reconheceram que tanto a PM quanto a GCM exageraram na repressão à MARCHA DA MACONHA, que virou MARCHA PELA LIBERDADE DE EXPRESSÃO.
Alckmin chegou a dizer que não compactua com a ação violenta da PM.
Mas muitos leitores e alguns blogueiros continuam acreditando que a polícia estava certa: enfiar o cacete nos manifestantes.

Como os PMs que tiraram a identificação, para baterem numa boa.
A onda agora é ser bem REAÇA.
Se é humorista, e uma piada ultrapassa o limite do bom gosto, diz ser adepto do politicamente incorreto.
Que babaca agora é fazer censura contra intolerância.
Podemos zoar com judeu, gay, falar palavrão. É isso, que se foda, viva a liberdade!
Se alguém defende a Marcha da Maconha, faz apologia, é vagabundo.
Se defende a descriminalização do aborto, é contra a vida.
Se aplaude a iniciativa da aprovação da união homossexual, quer enviadar o Brasil todo- país que se orgulha de ser bem macho, bem família!
Se defende a punição de torturadores, é porque pactua com terroristas que só queriam implodir o estado de direito e instituir a ditadura do proletariado.
Deu, né?
Esta DiogoMainardização da imprensa e da pequena burguesia brasileira tem um nome na minha terra: má educação.
Esta recusa ao pensamento humanista que ressurgiu após a leva de ditaduras que caiu como um dominó a partir dos anos 80 tem outro nome: neofascismo.
É legal ser de direita?
Tá bacana desprezar os movimentos sociais, aplaudir a repressão contra eles?
Eu não acho.
Apesar de considerar o termo “politicamente correto”, do começo dos anos 90, a coisa mais fora de moda que existe, afirmo diante do que vejo e leio: eu, aleijado com tendências esquerdizantes, não era, mas agora sou TOTALMENTE politicamente correto.
+++
Foi uma semana marcada pelo protesto da gente diferenciada e gafes nas redes sociais, que têm 600 milhões de vigilantes no Facebook e 120 milhões no Twitter. Postaram:
Rafinha Bastos, no dia das mães: “Ae órfãos! Dia triste hoje, hein?”
Danilo Gentili, sobre os “velhos” de Higienópolis que temem uma estação de metrô: “A última vez que eles chegaram perto de um vagão foram parar em Auschwitz.”
Amanda Régis, torcedora do Flamengo, time eliminado da Copa do Brasil pelo Ceará: “Esses nordestinos pardos, bugres, índios acham que têm moral, cambada de feios. Não é à toa que não gosto desse tipo de raça.”
Ed Motta, ao chegar em Curitiba: “O Sul do Brasil como é bom, tem dignidade isso aqui. Sim porque ooo povo feio o brasileiro rs. Em avião dá vontade chorar rs. Mas chega no Sul ou SP gente bonita compondo o ambiance rs.”
Quando um leitor replicou que Motta não era “um arquétipo de beleza”, ele respondeu que estava “num plano superior”. “Eu tenho pena de ignorantes como vc… Brasileiros…”, escreveu. “A cultura que eu vivo é a CULTURA superior. Melhor que a maioria ya know?”
E na MTV, a Casa dos Autistas, quadro humorístico, chocou pelo mau gosto.
Todos pediram desculpas depois. Danilo, um dos maiores humoristas de stand-up que já vi, recebeu telefonema do departamento comercial da Band, pedindo para tirar o comentário. Ed Motta se revoltou contra a imprensa. Pergunta se temos o direito de reproduzir seus escritos particulares.
A internet trouxe a incrível rapidez na troca de informações e espaço para exposição de ideias. Alguns se lambuzam. Dizem que são contra as patrulhas do politicamente correto.
Mas como ficam as domésticas ofendidas popr Delfim Netto, os órfãos recentes, aqueles que perderam parentes em Auschwitz, os nordestinos e os pais de autistas?
Tomara que, depois do pensamento grego, democracia, Renascença, a revolução industrial e tecnológica nos iluminem.
O preconceito não é apenas sintoma de ignorância, mas lapsos de um narcisista.
Ele nunca vai acabar?
***
Enquanto no Itaú Cultural, um símbolo de excelência em apoio às artes e alta tecnologia, em plena Avenida Paulista, uma mãe foi expulsa por amamentar o filho em público na exposição do Leonilson, artista que sofreu inúmeros preconceitos, morto vítima da Aids.
Ou melhor, viadão que morreu da peste gay, porque era promíscuo, diriam os reaças.

Politicamente Fascista


Politicamente fascista
MARCELO COELHO

O comediante Danilo Gentili pediu desculpas pela piada antissemita que divulgou no Twitter. A saber, a de que os velhos de Higienópolis temem o metrô no bairro porque "a última vez que eles chegaram perto de um vagão foram parar em Auschwitz".

Aceitar suas desculpas pode ser fácil ou difícil, conforme a disposição de cada um. O difícil é imaginar que, com isso, ele venha a dizer menos cretinices no futuro.

Não aguentei mais do que alguns minutos do programa "CQC", na TV Bandeirantes, do qual é ele uma das estrelas mais festejadas. Mas há um vídeo no YouTube, reproduzindo uma apresentação em Brasília do seu show "Politicamente Incorreto", em outubro de 2010.

Dá para desculpar muita coisa, mas não a falta de graça. O nome oficial do Palácio do Planalto é Palácio dos Despachos, diz ele. "Deve ser por isso que tem tanto encosto lá." Quem o construiu foi Oscar Niemeyer, continua o humorista. E construiu muitas outras coisas, como as pirâmides do Egito.

A plateia tenta rir, mas só fica feliz mesmo quando ouve que Lula é cachaceiro, ou que (rá, rá) o nome real de Sarney é Ribamar. Prossegue citando os políticos que Sarney apoiou; encerra a lista dizendo que ele só não apoiou o próprio câncer porque "o câncer era benigno".

Os aplausos e risadas, pode-se acreditar, vêm menos da qualidade das piadas e mais da vontade de manifestação política do público. Detestam-se, com razão, os abusos dos congressistas brasileiros. Só por isso, imagino, alguém ri quando Gentili diz preferir que a capital do país ficasse no Rio: "Lá pelo menos tem bala perdida para acertar deputado".

Melhor parar antes que eu fique sem respiração de tanto rir. Como se vê, em todo caso, o título do show não é bem o que parece. "Politicamente incorreto", no caso, faz referência às coisas erradas feitas pelos políticos, mais do que ao que há de chocante em piadas sobre negros ou homossexuais.

A questão é que o rótulo vende. Ser "politicamente incorreto", no Brasil de hoje, é motivo de orgulho. Todo pateta com pretensões à originalidade e à ironia toma a iniciativa de se dizer "incorreto" --e com isso se vê autorizado a abrir seu destampatório contra as mulheres, os gays, os negros, os índios e quem mais ele conseguir.

Não nego que o "politicamente correto", em suas versões mais extremadas, seja uma interdição ao pensamento, uma polícia ideológica.

Mas o "politicamente incorreto", em sua suposta heresia, na maior parte das vezes não passa de banalidade e estupidez.

Reproduz preconceitos antiquíssimos como se fossem novidades cintilantes. "Mulheres são burras!" "Ser contra a guerra é viadagem!" "Polícia tem de dar porrada!" "Bolsa Família serve para engordar vagabundo!" "Nordestino é atrasado!" "Criança só endireita no couro!"

Diz ou escreve tudo isso, e não disfarça um sorrisinho: "Viram como sou inteligente?".

"Como sou verdadeiro?" "Como sou corajoso?" "Como sou trágico?" "Como sou politicamente incorreto?"

O problema é que "politicamente incorreto", na verdade, é um rótulo enganoso. Quem diz essas coisas não é, para falar com todas as letras, "politicamente incorreto". Quem diz essas coisas é politicamente fascista.

Só que a palavra "fascista", hoje em dia, virou um termo... politicamente incorreto. Chegamos a um paradoxo, a uma contradição.

O rótulo "politicamente incorreto" acaba sendo uma forma eufemística, bem-educada e aceitável (isto é, "politicamente correta") de se dizer reacionário, direitista, fascistoide.

A babaquice, claro, não é monopólio da direita nem da esquerda. Foi a partir de uma perspectiva "de esquerda" que Danilo Gentili resolveu criticar "os velhos de Higienópolis" que não querem metrô perto de casa.

Uma ou outra manifestação de preconceito contra "gente diferenciada", destacada no jornal, alimentou a fantasia mais cara à elite brasileira: a de que "elite" são os outros, não nós mesmos. Para limpar a própria imagem, nada melhor do que culpar nossos vizinhos.

Os vizinhos judeus, por exemplo. É este um dos mecanismos, e não o vagão de um metrô, que ajudam a levar até Auschwitz.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Duas Séries Viciantes

Estou acompanhando duas séries de enredo épico que revelam os jogos de poder de governantes, um deles histórico - Os Bórgias; outro de fantasia - Guerra dos Tronos . Os Bórgias me fascinaram especialmente porque seus personagens (reais) aparecem no livro O Príncipe de Maquiavel, de que sou fan. A cada capítulo, enquanto pelo próximo, fico fazendo pesquisas em sites e mapas. Viciante.

Dois Filmes do Festival de 2009

Eu não compareci a nenhum filme do Festival do Rio de 2009, mas ontem tive a oportunidade de assistir a dois filmes nacionais lançados na ocasião.
Histórias de Amor duram apenas 90 minutos

Os Famosos e os Duendes da Morte

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Ser blasé é um tédio !


Eu queria ter uns prazeres como futebol e cerveja. Queria muito. Queria derramar a cerveja gelada no copo, tomar em goles largos um após o outro sem parar e gostar tanto a ponto de estalar a língua e falar enrolado. Olho aquele copo amarelo e suado e me parece que seria divino gostar. Também queria torcer para um time de futebol. Chorar quando perde, pular de alegria quando ganha. Rolar aos tapas com alguém que me enchesse muito o saco por causa do meu time. Quase perder amizades por causa disso. Encontrar algum sentido nas discussões e quando não achar.. xingar !!! Eu também queria gostar de sertanejo, forró, pagode e axé a ponto de vestir um abadá limão fosforecente e sair numa micareta gritando para os outros não terem dúvida de que eu sou feliz. Queria adorar ver televisão aberta, e poder discutir as tragédias e casos de corrupção com desconhecidos nos ônibus públicos, queria conhecer a biografia dos Big Brothers, e evolução do Pensamento das "Celebridades", tando as pseudos como as subs. De Carla Perez a Faustão.
Ser blasé é um tédio. Bom mesmo é ser ordinary.