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domingo, 2 de junho de 2013

Deus Dinheiro

“O capitalismo é uma religião, e a mais feroz, implacável e irracional religião que jamais existiu, porque não conhece nem redenção nem trégua. Ela celebra um culto ininterrupto cuja liturgia é o trabalho e cujo objeto é o dinheiro”, afirma Giorgio Agamben, um dos maiores filósofos vivos.
Amigo de Pasolini e de Heidegger, Agamben foi definido pelos jornais NY Times e por Le Monde como uma das dez mais importantes cabeças do mundo.
Segundo ele, “a nova ordem do poder mundial funda-se sobre um modelo de governabilidade que se define como democrática, mas que nada tem a ver com o que este termo significava em Atenas”.
Assim, a tarefa que nos espera consiste em redefinir aquilo que até agora havíamos chamado de “vida política”, afirma Agamben.
“Crise” e “economia”, segundo ele, são palavras usadas hoje para fazer que as pessoas aceitem medidas e restrições que não têm motivo algum para aceitar. ”Crise hoje em dia significa simplesmente você deve obedecer!”, diz ele.
Abaixo, uma amostra do pensamento de Agamben, em itálico.
Para entendermos o que está acontecendo, é preciso tomar ao pé da letra a idéia de Walter Benjamin, segundo o qual o capitalismo é, realmente, uma religião, e a mais feroz, implacável e irracional religião que jamais existiu, porque não conhece nem redenção nem trégua.
Ela celebra um culto ininterrupto cuja liturgia é o trabalho e cujo objeto é o dinheiro. Deus não morreu, ele se tornou Dinheiro. O Banco – com os seus cinzentos funcionários e especialistas – assumiu o lugar da Igreja e dos seus padres e, governando o crédito manipula e gere a fé.

Robin Hood Catalao


Em 2008, o ativista anticapitalista Enric Durán pegou emprestado €492.000 (cerca de R$1.260.000) de 39 entidades financeiras sem nenhuma intenção de devolver essa grana. Mas – como você já devia esperar de um ativista anticapitalista – ele não gastou tudo com facas de cozinha de diamante ou frisbees de luxo. Ao invés disso, ele aplicou o dinheiro em várias causas anticapitalistas não especificadas e gastou o resto com o Crisi, um jornal gratuito que detalha como ele fez isso e incentiva outras pessoas a fazer o mesmo.
Essa jogada estilo Robin Hood o transformou num herói da noite para o dia, mas o problema de se transformar num herói através de meios legalmente questionáveis é que a polícia acha que precisa te prender por causa disso. Enric passou dois meses na cadeia em 2011 e foi libertado até o julgamento, que estava marcado para o começo deste mês. Sua sentença mínima será de oito anos, o que pode explicar por que ele se recusou a aparecer nas primeiras datas do julgamento, o que resultou num mandado para que ele fosse libertado.
Venho tentando entrevistar o Enric há alguns anos, mas como as 14 entidades que atualmente tentam mandá-lo para a cadeia por desfalque podem comprovar, ele é um cara difícil de pegar. Depois de incontáveis e-mails, eventualmente marcamos uma entrevista por Skype que acabou acontecendo com três horas de atraso, mas acho que quando se está tentando derrubar o sistema capitalista você não vê o tempo da mesma maneira que todo mundo mesmo. Quando finalmente conseguimos conversar, falamos sobre foder com bancos, a teoria dele de desobediência civil e seu novo projeto: a criação de uma cidade completamente autônoma nos arredores de Barcelona.

VICE: Oi, Enric. O que aconteceu com o seu julgamento?
Enric Durán:
A corte aceitou a renúncia do meu advogado no dia 13 de fevereiro, depois me disseram que eu tinha que voltar ao tribunal no dia 18, mas não compareci. E agora não está claro se eles continuarão com o caso porque não tenho um novo advogado, então seria contra os meus direitos se eles continuassem.
Entendo. Vamos voltar ao começo. Você entrou para o ativismo em 2000. O que desencadeou seu interesse pelo sistema financeiro?
Bom, naquela época eu era parte do movimento antiglobalização. Em 2005, comecei a ler sobre a crise energética, que estava relacionada ao sistema financeiro. Percebi que não só o sistema era indesejado, como também não podia continuar do jeito que era. Foi assim que surgiu a ideia do ato de desobediência – tirar o dinheiro dos bancos e investir em projetos anticapitalistas.
De certa maneira você antecipou uma ligação entre o sistema financeiro, a política, as multinacionais e os governos quando isso ainda não era claro para muitas pessoas. O que te fez perceber que não era só uma parte do sistema desmoronando, mas uma coisa global abrangendo todos esses aspectos?
Foi em 2000, quando estávamos lutando contra o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial, que começamos a perceber que isso era algo global. O que ainda não estava claro para nós era que o sistema poderia falir em si. Achávamos que teríamos que fazê-lo cair, não tínhamos percebido que ele podia desmoronar naturalmente.
Pegar emprestado todo aquele dinheiro foi uma demonstração de como se pode tirar vantagem do sistema?
Foram várias coisas, mas eu tinha dois objetivos principais. O primeiro era denunciar o sistema financeiro como algo insustentável, e o segundo era mostrar que podemos ser desobedientes, corajosos, e que podemos dar poder a nós mesmos. Quando comecei tudo isso, me inspirei em personagens históricos, como Gandhi, e achei que era importante trazer para o século XXI ações como essas. Queríamos usar o dinheiro para um projeto que pudesse provar como diferentes métodos de capitalismo são possíveis.

Como era o processo cotidiano de ir aos bancos para pedir crédito? Isso foi entre o verão de 2005 e a primavera de 2008 – aproximadamente três anos. Aprendi como o sistema de empréstimos funcionava e as informações em que os bancos confiavam para concedê-los. Aprendi sobre os buracos no sistema e como passar por eles. No começo eu conseguia um empréstimo para cada três requisições, no final eu já conseguia nove empréstimos a cada dez pedidos. Por exemplo, um dos buracos do sistema é que o Banco da Espanha compartilha as informações de crédito com outros bancos, mas só para empréstimos acima de €6.000 [em torno de R$15.000]. Então só pedi empréstimos abaixo desse valor por dois anos, movimentando fundos sem ter o Banco da Espanha controlando minhas ações.
Chegou um ponto onde você pensou: “Puta merda, tenho um monte de dinheiro?” ou você investiu isso conforme ia conseguindo os empréstimos?
O dinheiro era investido. Nunca tive mais de €50.000 [em torno de R$130.000] comigo. Tudo foi gasto em vários projetos.
Você não revelou nenhum dos projetos onde investiu o dinheiro, mas você sabe se algum deles sofreu algum tipo de ação jurídica por causa do seu investimento?
Não mesmo. Na verdade, ficou claro que os bancos não estavam interessados para onde esse dinheiro foi. Não houve nenhuma investigação e, como isso era uma ação política, eles queriam reprimir só a mim e não ao coletivo. Eles não queriam transformar isso em algo maior do que já era.
Você publica seu próprio jornal, o Crisi. Por que você quis difundir sua mensagem através disso e não usar os canais normais de mídia?
Passei muito tempo imaginando como colocar essa história em domínio público. Eu queria que isso alcançasse o maior número possível de pessoas, mas fiquei preocupado em ser reprimido. Então decidi usar um pouco do dinheiro para publicar o jornal e acho que foi uma das melhores decisões que tomei. A mídia viu que esse jornal estava sendo distribuído de graça nas ruas e eles não queriam ficar de fora de algo que estava sendo falado por toda parte, então publicar meu próprio jornal realmente ajudou a mensagem a chegar até a mídia mainstream.

Se você tiver sucesso, qual será o efeito? Como o mundo será? Bom, muitas pessoas já estão fazendo isso por acidente; deixar de pagar seus débitos foi uma das coisas que derrubou o sistema financeiro em primeiro lugar. Não tanto com pequenos empréstimos ou hipotecas particulares, mas com grandes companhias de construção e desenvolvimento que não puderam pagar suas dívidas e acabaram falindo. A chance do plano geral se tornar global não é muito provável, mas o importante é espalhar a ideia de pequenas mudanças e decisões que você pode tomar para ajudar o mundo a se tornar um lugar melhor.
Você disse essa frase: “Prefiro uma liberdade perigosa a uma servidão pacífica”. Essa é uma grande parte do que você está fazendo – abrindo as portas para a desobediência civil em massa.
É, isso é uma questão de agir de maneira consistente com o que você sente e fazer o que é melhor, mesmo que as autoridades queiram que você faça de outro jeito. Seria interessante começar um debate sobre a eficiência do sistema judiciário e questionar como ele funciona. Trata-se de um sistema de prisão que não ajuda ninguém – nem as vítimas e muito menos os presos ou o governo, que são aqueles que precisam pagar por tudo. É tempo de repensar e criar algo novo, certo?
Sinto como se você fosse um rato de laboratório com bombas amarradas no corpo tentando desmantelar o sistema e ver se alternativas podem funcionar.
O principal é que estamos construindo outro sistema desde o começo. É um sistema aberto, o que significa que ninguém vai obrigar você a ser parte disso. Podemos reformular tudo com essa liberdade e decidir como queremos que sejam os sistemas de saúde e educação, a economia, os conflitos e muitas outras coisas. Já estamos colocando isso em prática através da Cooperativa Integral Catalã (CIC) e outros projetos associados.

Fale mais sobre a CIC. É uma assembleia onde construímos uma economia comum, organizamos o consumo, cobrimos as necessidades, organizamos todo o trabalho e estabelecemos relações financeiras para apoiar novos projetos produtivos. Temos uma infraestrutura para cobrir saúde, moradia, necessidades básicas de alimentação, transporte, energia – o básico. O ponto principal é que isso funciona com base na autonomia. O que precisamos são mudanças profundas nas relações humanas, confiança entre as pessoas. A revolução integral não é sobre mudar o sistema econômico, é sobre mudar tudo, mudar o ser humano. Estamos falando de mudanças em todos os aspectos da vida.
Você nunca pensou em aplicar essas ideias através de um partido político?
A maior questão aqui é que o conceito de partidos políticos contradiz o conceito de assembleia. A assembleia é um processo aberto que funciona através do consenso. O sistema político de partidos, por outro lado, é baseado em confrontação.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Alain de Bottom


“Nós somos uma espécie ingrata”, diz filósofo Alain de Botton

O escritor suíço Alain de Botton veio ao Brasil para participar do Fronteiras do lançamento de seu novo livro Religião para Ateus (2011). Em entrevista ao avento, o “filósofo do cotidiano” falou sobre trabalho, crenças, desejo de status e o paradoxo do sucesso material.

De que depende a felicidade no trabalho?
Alain de Botton: Felicidade no trabalho é muito complicada. Eu acho que ela basicamente depende de algo dentro de você. Algo precioso e importante, uma habilidade, um talento, um interesse sendo conectados com algo no mundo que gera dinheiro. Na maior parte do tempo, as coisas pelas quais a gente realmente se importa não fazem dinheiro. E as coisas que fazem dinheiro nos matam por dentro. Nós não gostamos de fazê-las. Esse é o problema do capitalismo. A maior parte do dinheiro no mundo moderno é gerada em empresas que não são tão interessantes para nosso espírito, para nossas mentes.

As pessoas estão mais infelizes com suas carreiras e seu trabalho atualmente em relação às gerações de décadas atrás?
Alain de Botton: Esse é definitivamente o caso em que quanto mais você espera da vida, mais a vida tem que dar, do contrário, você fica infeliz. É o paradoxo do sucesso material. À medida que a sociedade fica mais bem sucedida, as expectativas das pessoas aumentam e, por isso, elas ficam ingratas sobre coisas que seus pais ou seus avós ficariam muito agradecidos. Nós somos uma espécie ingrata. Nós sempre pensamos naquilo que nós não temos. Não se trata de não tentar conseguir mais, mas, na medida em que tentamos conseguir mais, nós deveríamos sempre lembrar que isso vai entregar apenas uma pequena porcentagem da felicidade que nós imaginamos. Nós devemos estar prontos para isso.

O senhor diz que meritocracia não é 100% eficiente. Na sua opinião, há um modo melhor de avaliar as pessoas e suas competências, que possa reduzir o “desejo de status”?
Alain de Botton: Nós deveríamos sempre tentar criar um mundo meritocrático, um mundo onde, se você tiver talento e energia, você deveria conseguir subir. O problema é que nós devemos sempre reconhecer que isso é um sonho do mundo perfeito. Porque todos nós somos mais talentosos, mais interessantes, mais habilidosos do que o mundo poderá saber, que nós poderemos saber um dia. O sonho é a gente poder pegar tudo que é bom em nós e fazer dinheiro com isso. Isso é uma coisa que apenas 0,001% da população pode um dia fazer. Nós precisamos reconhecer isso, falar sobre isso e nos entristecer com relação a isso, juntos, em uma sexta-feira à noite após o trabalho.

As redes sociais, como Facebook e Twitter, que permitem que as pessoas se tornem webcelebridades, aumentam o “desejo de status”? O que o senhor pensa sobre esse assunto?
Alain de Botton: As redes sociais oferecem às pessoas uma maneira de ter status fora do sistema financeiro. Porque muita gente acessa o Twitter, por exemplo, não por dinheiro, mas simplesmente porque elas gostam de ter outras pessoas ouvindo o que elas querem falar e respondendo a elas. Isso mostra uma coisa muito interessante sobre a natureza humana, que é que, mesmo que nós gostemos de ganhar dinheiro, no final do dia, ainda mais importante do que dinheiro, depois de um momento básico, é o amor. Nós queremos o amor do mundo.

No Brasil, tem havido um aumento do número de ateus e agnósticos, segundo levantamentos recentes. A falta de fé pode tornar mais difícil lidar com o “desejo de status”?
Alain de Botton: Eu sou um ateu, então eu não acho que a resposta seja nós nos voltarmos para a fé. Mas, sim, quando a religião declina, certas coisas realmente pioram do ponto de vista dessa ansiedade. Mesmo um rei, no Cristianismo, fica de joelhos diante de Jesus. Essa é uma ideia muito bonita e, uma vez que você se livra de Jesus, o que você tem? O que vai ser maior do que a humanidade? O perigo é: nada. O perigo é nós pensarmos “nós somos fantásticos. Nós temos Steve Jobs, que inventou o iPad”.

Nós nos adoramos e isso nos leva à loucura. Nós precisamos de momentos em que podemos fugir do narcisismo humano e olhar para outros lugares. É por isso que as pessoas hoje estão mais impressionadas com a natureza. Não é apenas uma questão ambiental, é também uma questão psicológica. Você olha para a natureza e pensa: isso é uma coisa que existe fora da humanidade. E ela é maravilhosa, porque ela não pensa em nós, assim como animais, árvores, estrelas, até mesmo crianças pequenas. Esses são exemplos de coisas que estão fora do sistema do dinheiro, fora do sistema do status, e elas são muito, muito relaxantes e necessárias para nossa alma.

O senhor também diz que ninguém é independente e auto-suficiente. Onde é possível encontrar ajuda e conselhos para lidar com nossos problemas, dúvidas e ansiedade?
Alain de Botton: Bem, o interessante é que o mundo moderno, onde nós temos tanto de tudo, que é tão bom em dar-nos carros, roupas e todo resto, quando diz respeito à nossa vida interior, a ajuda é quase como a Rússia nos tempos comunistas. É muito, muito má. O modelo mais sistemático que existe para a vida interior é provavelmente a psicoterapia, que no Brasil e no resto é ainda uma coisa menor. Acho que precisamos de ajuda, e minha esperança é que os empreendedores do futuro não pensem apenas no corpo e suas necessidades, mas também pensem na mente e em suas necessidades.

Quais são as possíveis soluções para o “desejo de status”?
Alain de Botton: O maior inimigo nesta situação é a solidão, paranoia, a sensação de que estamos completamente sozinhos. É muito vergonhoso sentir o “desejo de status”. Ele não é algo que você pode realmente admitir, não é fácil admitir a inveja de alguém. E, ainda assim, a inveja é enorme. Eu acredito que nós precisamos de alguns mecanismos para admitir isso, nós precisamos de amizades que são capazes de aceitar esse nosso lado, nós precisamos ser capazes de falar sobre isso.

Todo problema é reduzido ao se falar sobre ele. E nós precisamos achar grupos de status que serão tolerantes e faça-nos sentir relativamente relaxados. No mundo moderno, nós somos jogados contra pessoas que realmente destroem nossa paz interior, suas ambições nos levam à loucura e, talvez isso não seja para nós. Talvez nós precisemos apenas perder alguns amigos. Meu conselho seria fazer alguns amigos e perder outros, para nos focarmos no que nós realmente queremos.

Cannabusiness


Dossiê "Cannabusiness": Oakland (EUA) tem bairro, museu e até "faculdade" sobre maconha
Marion Strecker
Em San Francisco

O cânhamo, planta que dá a maconha e as fibras têxteis resistentes usadas há milênios do Oriente ao Ocidente, é parte arraigada da cultura californiana.
Ao lado de San Francisco e Berkeley há uma cidade importante chamada Oakland, onde recentemente dois veteranos da guerra do Iraque, um de 24 anos e outro de 32 anos, sofreram sérios ferimentos quando a polícia forçou a dispersão do acampamento de protesto Occupy Oakland, criado à luz do Occupy Wall Street, de Nova York.
Em Oakland, além de uma cena musical fervilhante, estádios e teatros enormes, há um lugar conhecido como Oaksterdam, cujo nome presta homenagem a Amsterdam, a cidade holandesa famosa por sua política liberal quanto às drogas, em particular à maconha e sua forma mais forte, o haxixe.
Em Oaksterdam, entre outras coisas relacionadas à maconha, há um museu e uma escola especializada no produto.
A chamada Oaksterdam University (www.oaksterdamuniversity.com) é uma escola particular criada em 2007, não reconhecida como curso superior. Ela se propõe a oferecer treinamento de alta qualidade nos diversos aspectos da indústria da cannabis. O objetivo é preparar os alunos para encontrar emprego em uma das mais de mil cooperativas, farmácias e/ou clubes da Califórnia. Ou a começar um negócio próprio.
Mercado crescente
Este é o caso de Jesus Hernandez, um rapaz de 21 anos que fez um curso de 13 semanas ali e agora está estudando negócios na DeVry University. Ele é americano e sua família é de origem mexicana. Nem o pai nem a mãe, que são separados, aprovam o seu plano de carreira. E ele nunca fuma maconha na casa do pai, onde mora. Para Jesus Hernandez, que tem uma irmã no corpo de funcionários da Oaksterdam University, está mais do que claro que o negócio da maconha só vai crescer na Califórnia nos próximos anos. E ele quer surfar nessa onda.
O chamado Semestre Clássico da escola dura 13 semanas e custa US$ 700, o Semestre de Horticultura dura 10 semanas e custa entre US$ 700 e US$ 800, e um seminário de fim de semana custa US$ 300. Há também outros cursos de fim de semana e alguns eletivos, com preços variados. Os valores não incluem a bibliografia.
Os assuntos estudados vão das diferenças entre as leis federais e estaduais, os direitos e responsabilidades legais, a horticultura, os métodos de ingestão, incluindo extração, cozimento e vaporização, e aspectos econômicos do chamado Cannabusiness. Ainda no Semestre Clássico são objetos de estudo a relação com os pacientes e como montar e operar um negócio. O curso de Horticultura ensina o ciclo de vida da planta, sua propagação, os problemas relacionados ao uso de pesticidas, estratégias de agricultura e iluminação e segurança no uso de eletricidade, já que muitas plantações acontecem em espaços fechados. Os alunos que obtiverem 75% de aprovação nos exames finais ganham diploma, usado para facilitar a empregabilidade nas farmácias e cooperativas.

Capacitação
A Oaksterdam não é a primeira nem será a última escola a ensinar como lidar com a maconha enquanto negócio. Seminários, congressos e palestras pipocam o tempo todo na Califórnia. Um concorrente direto da Oaksterdam University parece ser a Budding Academy (www.buddingacademy.com/classes), que já distribui “flyers” (propaganda em papel) por aqui, tem um site em que afirma operar em 12 Estados americanos, mas quando tentamos informações mais detalhadas de qualquer local específico, nada é informado no site. Seminários de 12 horas de duração são oferecidos pela Budding Academy por US$ 199, incluindo taxas e material didático.
Museu
Deixando de lado a concorrência, que só aumenta, este ano, além da “faculdade”, a cidade de Oakland também ganhou seu primeiro museu dedicado à maconha, o Oaksterdam Cannabis Museum (http://oaksterdamcannabismuseum.com). Ali, podem ser vistos pés de Cannabis Sativa e de Cannabis Indica, lado a lado. Um é maior que o outro. Um tem folha mais largas que o outro. Há também fotos e objetos antigos, mostrando como a cultura do cânhamo e da maconha esteve e continua presente na história oriental e ocidental. Mas há também muito material de campanha, tentando envolver os visitantes nas batalhas políticas e judiciais pela liberação da erva. Pelo que verifiquei até agora, nem todas as informações do site ou do pequeno museu são exatas ou comprováveis. O museu tem claramente um fim político, ativista.

Desemprego é melhor que Emprego Ruim


Ficar desempregado é melhor do que sofrer no trabalho
Uma nova pesquisa mostra que estar em um péssimo trabalho pode ser tão ruim ou pior para a saúde do que estar desempregado.
Por mais estressante que estar sem trabalho seja, o peso psicológico de ser mal pago e muito exigido afeta a saúde da mesma forma. Pior: os participantes do estudo que estavam desempregados e passaram a trabalhar para um emprego de má qualidade agravaram sua saúde mental.
Os pesquisadores analisaram os resultados de um inquérito com mais de 7.000 pessoas que vivem na Austrália. Foram sete anos de respostas, começando em 2001.
A qualidade do emprego foi graduada com base em quatro fatores: o estresse e o nível de demanda, a quantidade de funcionários que disseram ter controle sobre seu trabalho, a segurança no trabalho (ou potencial para um futuro) e se o pagamento era ou não justo.
Os participantes também responderam a um questionário de saúde mental que avaliou sintomas de depressão e ansiedade, assim como emoções positivas, incluindo sentimentos de alegria e serenidade.
Em geral, os empregados tinham melhor saúde mental do que os desempregados. Porém, depois que os pesquisadores levaram em conta fatores que poderiam influenciar os resultados, como idade, sexo, estado civil e nível de ensino, a saúde mental dos indivíduos desempregados estava igual, ou melhor, do que a saúde mental das pessoas com empregos de baixa qualidade.
Aqueles com os empregos de qualidade mais pobre também apresentaram maior queda em saúde mental ao longo do tempo do que os desempregados.
Já as pessoas empregadas em um trabalho de alta qualidade aumentaram 3 pontos na saúde mental. Os com trabalho de má qualidade diminuíram 5,6 pontos.

Essa diferença de pontos é considerada clinicamente relevante, o que significa que as mudanças na saúde mental das pessoas são observáveis.
Segundo os pesquisadores, os resultados sugerem que as políticas governamentais não devem focar só na redução do desemprego, mas na qualidade e nas condições dos postos de trabalho também, inclusive em benefícios, horas e flexibilidade.
Uma forma de melhorar a qualidade do trabalho seria oferecer as proteções necessárias para promover a segurança no emprego. Por exemplo, não ter um contrato de trabalho cria um sentimento de insegurança. Os empregadores poderiam reduzir a quantidade de contrato de trabalho independente e trazer de volta a noção de que, se você trabalha para uma empresa, terá um futuro nela.
Organizações também podem tentar reduzir o número de “escolhas forçadas” dos funcionários, como ir trabalhar ou cuidar de uma criança doente. Políticas de horário flexível não obrigam as pessoas a escolher entre trabalho e família.
Por último, os pesquisadores sugerem que se acabe um pouco com a ideia de emprego de meio período. Os benefícios destes trabalhos podem não ser suficientes para o sustento de uma família.

Junte-se a eles ?


A ética no setor financeiro, por W. Crouch
Da BBC Brasil


Jovens éticos devem abraçar carreira no setor financeiro, sugere acadêmico de Oxford

Um cientista político da renomada Universidade de Oxford saiu a público para defender que jovens idealistas entrem para carreiras no sistema financeiro.


Will Crouch, especialista em ética do Centro Uehiro para Ética Prática de Oxford, argumentou que os jovens teriam mais impacto na sociedade se, em vez entrar para ONGs, por exemplo, escolhessem uma carreira milionária e doassem parte de sua renda para causas sociais.

Seria "como Robin Hood, mas ganhando o dinheiro em vez roubar", comparou.
r />Desde a crise econômica que começou com a quebra do banco Lehman Brothers, em setembro de 2008, banqueiros e profissionais do mercado financeiro têm sido alvo de críticas, acusados de egoísmo, ganância e falta de consciência moral.

A Bolsa de Valores de Londres, símbolo do mercado, continua sendo alvo de manifestantes do movimento Occupy London, acampados do lado de fora da Catedral de St. Paul, nas proximidades do pregão.

Entretanto, Crouch alega que os jovens que descartam carreiras no setor financeiro por desconfiança da integridade ética da profissão podem estar tomando a decisão errada.

"O benefício direto que um só trabalhador no setor filantrópico pode gerar é limitado, enquanto as doações filantrópicas de um banqueiro podem prover uma ajuda indireta dez vezes maior que a maioria das pessoas", afirmou o professor.

Analisando a renda típica de um investidor profissional e o custo de tratar a tuberculose nos países desenvolvidos, Crouch estimou que um "ricaço com consciência ética" pode salvar 10 mil vidas com metade do seu salário.

Crouch, que diz doar 20% de sua renda como acadêmico para caridade - percentual que ele pretende elevar para 50% no futuro -, é o fundador da organização 80 Hours, voltada para a maximização de doações sociais.

O nome da organização vem da estimativa do professor de que a vida profissional de uma pessoa dura em média 80 mil horas.

Para o especialista em ética, as opções de carreira profissional precisam ser avaliadas para além do estereótipo relacionado a seus valores morais.

Mais Impostos = Mais Felicidade


País que cobra mais impostos de ricos tem povo mais feliz, diz estudo

Do UOL Economia

Quanto mais impostos um país cobra de seus cidadãos ricos, mais feliz é sua população. Pelo menos é o que defende um estudo da Universidade de Virgínia, nos EUA, feito pelo psicólogo Shigehiro Oishi, informa o jornal "Huffington Post".

O estudo comparou 54 países e descobriu uma relação entre uma política fiscal progressiva --cobrar mais impostos dos que ganham mais-- e o contentamento geral da nação.

No mês passado, Warren Buffett, terceiro homem mais rico do mundo segundo o ranking da revista "Forbes", pediu que os Estados Unidos deixem de "mimar" os mais ricos com isenções fiscais e solicitou aos líderes políticos de seu país o aumento dos impostos a multimilionários como ele.

Dias depois, quatro grandes ricos alemães disseram estar dispostos a pagar mais impostos para ajudar a reduzir a dívida pública do país.

Isso não quer dizer, porém, que ter um sistema de tributação progressivo garanta uma população mais feliz. O estudo enfatiza que o que faz a diferença é o que os governos fazem com os impostos coletados, segundo o jornal.

"Mesmo que uma sociedade não adote impostos progressivos, se conseguir oferecer bom transporte público, sistema educacional, sistema de saúde, e assim por diante, os cidadãos têm mais chance de serem felizes", diz uma prévia do estudo publicada pelo jornal.

As mais altas taxas de satisfação com a vida foram registradas no Canadá, Nova Zelândia, Holanda e alguns países nórdicos, incluindo Noruega, Dinamarca, Finlândia e Suécia. Segundo o estudo, esses países têm taxas de impostos muito mais altas para seus cidadãos ricos do que para os pobres.

Outras nações destacadas pela pesquisa foram Israel, França e Reino Unido.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Corrosão do Caráter



Título: A CORROSÃO DO CARÁTER
Autor: Richard Sennett
Editora: Record
Gênero : Ficção Estrangeira - Ensaio
Coleção: PENSANDO NA CRISE
Páginas: 208

Sinopse

Hoje em dia, as empresas americanas oferecem um ambiente de trabalho mais humano do que aquele do início do século, quando o trabalho na linha de montagem era monótono e insalubre. No entanto, Richard Sennett, professor de sociologia da Universidade de Nova York e da London School of Economics, acredita que essa melhoria é meramente ilusória. Ele argumenta que o ambiente de trabalho moderno – com ênfase nos trabalhos a curto prazo, na execução de projeto e na flexibilidade – não permite que as pessoas desenvolvam experiências ou construam uma narrativa coerente para suas vidas. E, mais importante, esta nova forma de trabalho impede a formação de caráter.
Para Sennett, o desenvolvimento do caráter depende de virtudes estáveis como lealdade, confiança, comprometimento e ajuda mútua. Características que estão desaparecendo no novo capitalismo. Em alguns aspectos, as mudanças que marcam este novo sistema são positivas e levaram a uma economia dinâmica, mas também corroeram a idéia do objetivo, a integridade e a confiança nos outros, aspectos que gerações anteriores consideravam essenciais para a formação do caráter. Este ensaio essencial e oportuno de Sennett nos ajuda a compreender nossas dúvidas dentro do contexto político e social, e sugere que precisamos recriar tanto o caráter da comunidade quanto o do indivíduo para que possamos enfrentar uma economia baseada no princípio de “sem comprometimentos a longo prazo”.
A partir de entrevistas com executivos demitidos da IBM em Nova York, funcionários de uma padaria ultramoderna em Boston e muitos outros, Sennett estuda os efeitos desorientadores do novo capitalismo. Ele revela o intenso contraste entre dois mundos de trabalho: aquele da rigidez das organizações hierárquicas no qual o que importava era um senso de caráter pessoal, e que está desaparecendo, e o admirável mundo novo da reengenharia das corporações, com risco, flexibilidade, trabalho em rede e equipes que trabalham juntas durante um curto espaço de tempo, no qual o que importa é cada um ser capaz de se reinventar a toda hora.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Rio Finantial

Conheça os motivos e os gestores de investimento que recolocaram o Rio de Janeiro no mapa das finanças nacionais
por Márcio Kroehn



Copacabana: Zeca Oliveira, do BNY Mellon, que faz a gestão de R$ 22 bilhões, ao lado da estátua de Drummond, na avenida Atlântica

Uma nova onda de investimentos, que vão do Flamengo à Barra da Tijuca, tem resgatado para a capital fluminense o status de centro financeiro, perdido para São Paulo na última década do século XX. Cada vez mais, empresas de gestão de recursos cariocas atraem os milionários do Brasil e do mundo. O jogo do dinheiro também está mudando, para melhor, a sede dos Jogos Olímpicos de 2016.

Nos últimos anos, mais de duas dezenas de gestoras de fundos surgiram próximas às areias do Rio. Muitos executivos não escondem a atração pela imagem de cartão- postal. “A vista carioca é incrível”, diz Zeca Oliveira, presidente do BNY Mellon. Com carteira de R$ 22 bilhões, maior que a dos tradicionais grupos Opportunity e Icatu, o escritório do BNY Mellon tem a vista para a Lagoa Rodrigo de Freitas.

(...)O ranking dos gestores de fundos divulgado pela Andima mostra que o Rio é o centro de decisão de aplicações superiores a R$ 80 bilhões. Isso, sem contar o dinheiro de outros ícones financeiros da cidade, como as fundações de previdência do Banco do Brasil, da Petrobras e da Vale, donas de R$ 200 bilhões, e o BNDES.

É o potencial dos negócios e a infraestrutura disponível que mais atraem os gestores. Muitos estão fazendo o caminho de volta de São Paulo para montar o próprio negócio. É o caso, por exemplo, de Marcelo Mesquita, sócio da Leblon Equities, fundada em setembro passado e com patrimônio de R$ 75 milhões.


Fraga, da Gávea: gestora atrai investidores estrangeiros para o Rio e até seus vizinhos acabam fazendo bons negócios

Nos anos 1990, Mesquita trabalhava no mítico Banco Garantia, de Jorge Paulo Lehman. Este foi o primeiro grande financista carioca a migrar para a Terra da Garoa, numa época marcada pela quebra da bolsa do Rio, com o caso Nahas, e o triste fim dos bancos Nacional e Boavista.

Outras casas importantes, como o Pactual, também levaram suas sedes para o outro lado da ponte aérea. “A telefonia era um caos e o aeroporto, complicado. Era preciso estar perto dos clientes em São Paulo naquela época”, lembra Mesquita. O apelo era fortíssimo, mas com o tempo deixou de ser irresistível.

Quando a Polo Capital foi criada em 2002, os sócios Cláudio Andrade e Marcos Duarte cogitaram passar um ano em São Paulo para depois se mudar definitivamente para o Rio. Desistiram. “Se ficássemos, não conseguiríamos sair”, supõe Duarte, que instalou-se no Leblon. A família, os amigos e a origem pesaram a favor.

Foi o que também aconteceu com o pessoal da Oceana Investimentos. “Sabíamos que teríamos que pegar o avião durante a semana ou no final de semana. Escolhemos a primeira opção”, diz o sócio Alexandre Rezende. O vínculo com São Paulo, sede da BM&FBovespa e dos maiores bancos do País, continua forte e exige visitas frequentes aos clientes.

Entre os gestores cariocas, a brincadeira que corre é que São Paulo é um país vizinho, que fala a mesma língua e que remete todo o patrimônio para o Rio. Por isso, é preciso fazer a ponte aérea sempre que os donos do dinheiro exigem. Dez entre dez gestoras dizem que mais de 75% dos recursos vêm desse país vizinho. Sem exceção, o caminho do Santos Dumont é muito comum para todos os gestores cariocas.

E, quando não estão no avião, usam as facilidades de recursos como a teleconferência. “As distâncias passaram a ficar menores com e evolução da tecnologia”, afirma Duarte, da Polo. “Hoje, estar perto é relativo, diferentemente de 15 anos atrás, quando não tinha internet”, complementa Alexandre Póvoa, sócio-diretor do Modal Asset Management.

É um fenômeno comparado ao que ocorre nos EUA. Embora Wall Street seja o coração pulsante do mercado de ações, o bilionário investidor Warren Buffett mantém sua estrutura na longínqua Omaha, a quase dois mil quilômetros de distância. “É possível trabalhar e ter sucesso fora de Wall Street e de São Paulo”, diz Leonardo Messer, sócio da Oceana. “Basta ter um bom nível de profissionais que vão buscar as informações das empresas”, completa. É verdade, tanto que os cariocas se revezam com os paulistas nos topos dos rankings dos melhores fundos publicados pela DINHEIRO.

O retorno de executivos formados pela escola carioca dos bancos de investimento tem aberto um campo de trabalho para os jovens recém-saídos das faculdades, principalmente da UFRJ e da PUC, consideradas excelentes celeiros de formação de gestores. Eles são atraídos por projetos ambiciosos que incluem sociedade e alta remuneração em pouco tempo.



O surgimento de novas gestoras criou o circuito Leblon-Ipanema. São nessas duas regiões boêmias e residenciais que boa parte das novas casas estão se instalando. Antes da decadência dos anos 1990, as finanças cariocas se concentravam no centro da cidade, pois era importante estar próximo da bolsa do Rio e da Comissão de Valores Mobiliários, a xerife do mercado de capitais.

Poucas gestoras mais novas se aventuraram nessa região, caso da JGP, de André Jakurski e Arlindo Vergaças Jr., criada em 1998, e da Argúcia Capital, de Ricardo Magalhães, que nasceu em 2005. A maioria preferiu o lado sul do Arpoador. “Leblon e Ipanema são bairros que estão incorporados ao estilo de vida das pessoas do mercado financeiro”, diz Hélio Braz Neto, sócio da Rio Gestão de Recursos. “Estamos perto de casa e a maioria prefere ir a pé”, diz Laura Tostes, diretora da Leblon Equities.

Gestoras cariocas administram mais de R$ 82 bilhões em fundos de investimento nacionais

Um dos precursores desse estilo de vida é Armínio Fraga, sócio da Gávea Investimentos. Ao criar a sua gestora, o ex-presidente do Banco Central escolheu o único prédio comercial da rua Dias Ferreira, no Leblon. O local lembra muito a rua Amauri, em São Paulo, pela sequência de bons restaurantes.

Mais do que comer bem e de estar no endereço que, durante muito tempo, foi considerado o aluguel mais caro do Rio de Janeiro (o andar de 600 metros quadrados não saía por menos de R$ 60 mil), Fraga quis ficar próximo de sua residência. Agora, prepara-se para mudar a sede da Gávea para o mesmo bairro. A partir de março, a Gávea ocupará três andares de um edifício na rua Ataulfo Paiva, que abriga a gestora da fortuna da família de Antônio Carlos de Almeida Braga, o Braguinha, ex-sócio do Bradesco.

Armínio Fraga e a Gávea já viraram o símbolo desse retorno do Rio de Janeiro ao posto de centro financeiro do País. Por causa deles, os investidores passaram a visitar a gestora em sua sede. E esse movimento foi sentido pelos concorrentes, principalmente os que estavam no mesmo prédio.



José Alberto Tovar, que vendeu a Arx Capital Management para o BNY Mellon, diz que não se cansa de agradecer a Fraga as visitas que recebia após o fim da reunião na Gávea. “Peguei carona nos clientes do Armínio”, conta Tovar a amigos próximos. Com pouco mais de 80 pessoas, a Gávea parece iniciar um novo movimento, agora com passaporte internacional. O JP Morgan estaria próximo de se associar ao ex-presidente do BC. Nenhuma das partes confirmou o negócio até o momento.

“Estamos buscando mais uma sala, porque aqui não cabe uma pessoa a mais”, explica o sócio Braz Neto. O contraponto da situação da Rio Gestão é a Leblon Equities, instalada no primeiro edifício da avenida Niemeyer. O local, onde também está a novata Studio Investimentos, já abrigou um hotel e a sede do Automóvel Clube do Rio de Janeiro.

A fachada preservada é uma parte do cenário que se abre quando se está no andar da Leblon: a vista privilegiada pega toda a avenida da orla e a praia. As três salas de reunião podem virar quatro, caso a varanda seja utilizada para encantar os investidores. “Temos mais a sensação de ter a praia por perto do que de utilizá-la”, afirma o sócio Pedro Chermont.

O tema sol e praia é um mito entre os cariocas. Há quem refute a ideia de associar essa parte da beleza natural à escolha de estar no Rio de Janeiro. Porém, é uma ligação quase imediata. A começar pela maneira de se vestir. É difícil ver o terno e a gravata, tão comuns no mercado financeiro paulista, nas ruas cariocas.


Rio Gestão: a empresa de Hélio Braz Neto está em busca de um novo escritório para gerir os atuais R$ 81 milhões e expandir os negócios

“O casual friday se transformou no casual week”, explica Vitor Roquete, sócio da Opus Investimentos. A Polo Capital, por exemplo, é conhecida como a gestora em que os profissionais trabalham de bermuda e camiseta. “O ambiente aqui é informal”, confirma Marcos Duarte, embora ninguém estivesse com esses trajes no dia da visita da DINHEIRO.

Mas é pela manhã que fica mais clara a parte esportiva dos gestores cariocas. Quando o relógio marca 6h30 em Copacabana e Vitor Roquete está correndo na praia, uma bola vermelha parece sair de dentro do mar, iluminando o que vê pela frente. “Olho essa imagem e penso que o meu dia está apenas começando’, diz Roquete. Alguns pontos já viraram clássicos das novas turmas.

Quem joga tênis se encontra na Lagoa Rodrigo de Freitas. Nas areias de Ipanema ficam os que gostam de praticar musculação nas academias ao ar livre. E há a turma da corrida e da caminhada, que se encontra no longo calçadão. Uma caminhada após o almoço limpa o cérebro para enfrentar a tarde de negócios. “Tomar água de coco é agradável e quebra o clima de trabalho”, diz Philipe Guimarães, da SDA.


Leblon Equities: a gestora dos sócios Pedro Chermont, Laura Tostes e Felipe Claudino (da esq. para a dir.) abriu as portas no final de 2009 e já cuida de R$ 75 milhões


http://www.istoedinheiro.com.br/noticias/8759_MENINOS+DO+RIO

segunda-feira, 19 de abril de 2010

O Fluminense é o maior arrecadador de tributos federais


Rio de Janeiro gera maior arrecadação de impostos que os outros estados
Arrecadação de tributos recolhidos pela Receita Federal no Rio por cada habitante é a maior entre os estados e supera até a mordida do Leão no bolso dos paulistas, apesar das mesmas alíquotas.

Rio – Para manter os três poderes da União, realizar obras, prestar serviços como educação e saúde e compor os fundos dos estados e municípios, é do cidadão fluminense que o governo federal recolhe maior valor em tributos. A arrecadação federal por habitante no estado é superior até do que a da unidade da federação mais populosa e rica, que é São Paulo. A distorção também ocorre no Imposto de Renda recolhido sobre salário na fonte: enquanto no Rio foi de R$ 514,32 per capta, no vizinho ficou em R$ 432,63.

Cariocas e fluminenses não pagam mais impostos que os paulistas apenas no salário. A economia do estado como um todo sofre o peso de maior tributação por habitante. No ano passado, a Receita Federal recolheu no Rio cerca de R$ 83,9 bilhões, o que resulta em R$ 5.240,00 por habitante. Já de São Paulo foram para os cofres federais R$ 201,6 bilhões, ou seja, a contribuição por paulista foi de apenas R$ 4.872,66.

Se incluirmos receitas federais não administradas pela Receita, como depósitos judiciais, a discrepância é ainda maior: R$ 6.368,61 contra R$ 4.933,09, uma diferença de 29% a mais na conta do Rio. Nos cálculos não entraram contribuições para o INSS.

Em relação ao Produto Interno Bruto (PIB), o peso dos tributos federais no Rio também não tem paralelo com outro estado. Em 2007, último balanço do índice, a contribuição fluminense foi de 31,78%, contra 21,07% dos paulistas. Só o Distrito Federal ficou acima: 41%.

Para o pesquisador do Instituto de Economia Aplicada (Ipea) Luís Carlos Magalhães, o resultado reflete a forte concentração de grandes empresas no Rio, como Petrobras e Vale, e a presença de órgãos públicos remanescentes da antiga capital federal. Mas também aponta para desequilíbrios do sistema tributário. Enquanto o setor privado consegue escapar com mais facilidade do fisco, quem está no público acaba mais onerado.

“O fato de um estado com renda per capta maior ter carga tributária menor que outro é um sinal de regressividade do sistema. Ganhos de capital e grandes fortunas são subtributados e quem desconta na fonte é mais descontado”, explica.

A professora da Faculdade de Economia da UFF Ruth Dweck também lembra que grandes empresas estão sediadas no Rio e ressalta o fato de que prestadores de serviços, como Embratel e Oi, têm tributação alta. Para ela, a economia local sente o retorno desses impostos, principalmente pela presença de universidades federais no estado. “Está comprovado que a educação e a pesquisa têm um efeito multiplicador sobre a economia”, avalia Ruth.

O diretor de Estudos Técnicos do Sindifisco Nacional, Luiz Antonio Benedito, defende detalhamento ainda maior da arrecadação por parte da Receita, para aumentar sua transparência. Segundo ele, o Estado do Rio tem diferencial demográfico, já que a capital representa 40% da população.

SP perde participação na arrecadação federal

Um dos motivos para o maior peso dos impostos, taxas e contribuições federais na economia do Rio do que em São Paulo foi o aumento da participação do estado na arrecadação na última década contra uma perda de participação do vizinho. Entre 2000 e o ano passado, a contribuição paulista caiu 8,21% (de 46,65% nominais para 42,82). Enquanto que, no mesmo período, a participação do Estado do Rio de Janeiro subiu 7,74% (de 16,53% nominais para 17,81%).

O peso do estado por habitante se sobressai devido à bem menor participação da população do Rio em relação a do País. No estado, vivem 8,36% dos brasileiros, enquanto que outros 21,61% estão em São Paulo. Ou seja: paulistas são quase o triplo dos fluminenses.

Para Luís Carlos Magalhães, do Ipea, a economia do Rio também está sendo alavancada por grandes investimentos, sobretudo da Petrobras, que começou a construir o Polo Petroquímico de Itaboraí. A construção da Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA), em Santa Cruz, também contribui para o crescimento.

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Wall Street 2

Wall Street 2
A crise não perdoa e a Twentieth Century Fox já esta preparando uma sequencia de "Wall Street" (1987), onde Michael Douglas vestirá mais uma vez a pele de Gordon Gekko, um especulador sem escrúpulos, depois deste ter cumprido a sua pena de prisão. Michael Douglas ganhou o Oscar do melhor ator quando interpretou Gekko em "Wall Street".

"Wall Street" (1987) é um filme do diretor Oliver Stone que acerta em cheio uma série de perversões do ultra-liberalismo econômico. Se acreditássemos em bruxas "Wall Street" seria uma profecia do devaneio econômico das décadas que se seguiram. Há que reconhecer mérito em Oliver Stone, que ainda nos anos 80 antecipou práticas sobre o funcionamento dos mercados como o desfasamento entre o lucro e a produção. Percebeu também que os primeiros a pagar as más práticas econômicas de investidores e de especuladores são os trabalhadores, representados no filme pelos empregados da companhia aérea regional Blue Star. Oliver Stone sublinha esta relação causa-efeito ao aproximar a alta finança e o mundo do trabalho através do envolvimento de Carl Fox (Martin Sheen), um trabalhador da Blue Star, nas negociatas do seu filho Bud Fox, um corretor da bolsa (Charlie Sheen).O filme é um magnífico registro de como esta crise começou, sobretudo quando pensamos que o filme de Oliver Stone foi subestimado no momento em que estreou. Vamos aguardar a sequência.

sexta-feira, 1 de maio de 2009

"Capitalismo não está funcionando"

Manifestações anti-capitalismo tomam conta das capitais européias

Várias manifestações anti-capitalismo estão sendo organizadas e realizadas na Europa com protestos contra o capitalismo.








Uma multidão formada por ambientalistas, sindicalistas, estudantes, ativistas e membros de ONGs marchou até o centro financeiro da capital britânica para protestar contra o capitalismo, a especulação e a ganância dos bancos. A manifestação, rodeada de medidas de segurança sem precedentes, antecedeu a reunião do G-20, que iniciou no mesmo dia em Londres.

A manifestação alastrou-se a outras ruas de Londres, mas atingiu basicamente a zona financeira da cidade. As palavras de ordem entoadas pelos manifestantes visaram os banqueiros e os líderes dos países mais ricos, responsabilizados pela crise financeira, econômica e social. O centro da manifestação acabou por formar-se junto ao Banco de Inglaterra, tendo partido de vários pontos da cidade.

Os manifestantes organizaram várias ações simbólicas, uma das quais representava os quatro cavaleiros do apocalipse: a guerra, as alterações climáticas, os crimes financeiros e os que ficaram sem casa e carregavam cartazes sobre diversos temas, da proteção ambiental à luta contra o capitalismo, hoje, em Londres Cerca de 35 mil manifestantes, segundo números da Scotland Yard, foram ao centro da capital britânica, agitando bandeiras e cantando refrãos, pedindo aos governantes das 20 maiores potências industrializadas e emergentes para "combater a pobreza e as mudanças climáticas" e criar "um mundo mais justo e equitativo".

A marcha foi convocada pela aliança "Put People First" (dê prioridade às pessoas, em tradução livre), que reúne cerca de 150 organizações como sindicatos e grupos ambientalistas. É a primeira de dezenas de manifestações organizadas por ocasião do G20, que já colocaram a polícia britânica em estado de alerta. Não foi registrado qualquer incidente, informou a polícia.
"Capitalismo não está funcionando", "Outro mundo é possível", "Salvem as crianças, não os banqueiros", diziam os cartazes na manifestação Cantando, tocando tambores e apitos e agitando bandeiras e cartazes em todos os idiomas, os participantes do protesto se mostravam unidos em sua indignação contra o atual sistema e seus governantes.

"Os que governam revelaram sua ineficiência na hora de enfrentar os verdadeiros desafios, que são a pobreza, a fome, a desigualdade", disse à France Presse Sandra Marinni, que veio de Roma para participar da marcha.

Muitos denunciavam em especial os banqueiros. "Nosso governo está mais preocupado em salvar os banqueiros do que em criar empregos e ajudar as pessoas", reclamou Barry Beckett, eletricista do norte de Londres.

Os incidentes junto ao edifício do Royal Bank of Scotland foram uma das poucas excepções, com vários manifestantes entrando no banco e provocando desacatos em protesto contra os escândalos financeiros envolvendo esta instituição, que foi salva da falência por fundos públicos.

Manifestações parecidas aconteceram neste sábado em outras capitais europeias, como Paris e Berlim, também por ocasião da cúpula do G20 --que acontecerá no dia 2 de abril no Excel Centre, leste de Londres.

Outras marchas semelhantes estão sendo organizadas nas cidades de Berlim, Paris, Madrid e Roma, algumas estão programadas para o 1º de maio, o dia internacional do trabalho.

sábado, 18 de abril de 2009

Keynes - o Médico do Capitalismo

Em tempos de crise, o mundo redescobre Keynes, o pensador cujas idéias reergueram a economia em 1929. O que sua história ainda pode nos ensinar
Ivan Martins

O “ECONOMISTA BURGUÊS” Keynes, em 1940, exibindo sua coleção de livros raros
Num dos piores anos da Grande Depressão, 1934, o presidente americano Franklin Delano Roosevelt recebeu na Casa Branca um economista inglês de 51 anos que vinha precedido da fama de gênio. Alto e curvado, olhos de um azul transparente, John Maynard Keynes falou por mais de uma hora com Roosevelt. A despeito de seu charme e de sua famosa eloqüência, Keynes causou péssima impressão. “Não entendi uma palavra do que ele disse”, afirmou Roosevelt. “Esse sujeito é matemático, não economista”. Seu interlocutor, autor de livros famosos e presidente do comitê de economistas britânicos que assessorava o governo de Sua Majestade, também não gostou da conversa. “Pensei que o presidente fosse alfabetizado em economia”, disse.

Quatro anos depois, quando a economia americana mergulhava mais fundo no desemprego, e Roosevelt já esgotara seus recursos para tentar reativá-la, restou recorrer às idéias “daquele matemático” de Cambridge. O desemprego caiu então de 17% para 1%, e o mundo começou a viver aquilo que a revista Time definiria – 27 anos depois, em dezembro de 1965 – como a “mais longa, mensurável e ampla prosperidade da História”. “Agora, somos todos keynesianos”, afirmou na ocasião para a Time o economista americano Milton Friedman, ironicamente o maior crítico das idéias de Keynes.

Aquele período de prosperidade só seria superado pela seqüência recente de 30 anos ininterruptos de crescimento contínuo, abalado pela crise atual. Esse período foi regido pelo pensamento liberal de Friedman. Keynes e Friedman – cuja divergência central é a visão sobre o papel do Estado na economia capitalista – foram os dois economistas mais influentes do século passado. “A crítica de Friedman a Keynes se tornou tão influente porque identificou corretamente os pontos fracos do keynesianismo”, diz o economista Paul Krugman, agraciado na semana passada com o Prêmio Nobel (leia o texto de Krugman sobre Friedman e Keynes). Nas últimas semanas, em razão da crise financeira, as idéias de Keynes, que haviam sido empurradas para a periferia, pareciam estar de volta. Assim como Roosevelt, o governo de George W. Bush concluiu, relutante, que seria necessário intervir para resolver a crise.

Keynes pensava, escrevia e falava com uma inteligência que impressionou seus contemporâneos. Filho de um professor universitário, ele nasceu em Cambridge em 1883 – ano da morte de Karl Marx. Passou a vida entre a elite intelectual e política do Reino Unido. Fez parte de um dos mais célebres e inovadores grupos intelectuais do século XX, conhecido como grupo de Bloomsbury, o bairro londrino onde se reuniam. Erguido em torno de duas irmãs, a pintora Vanessa Bell e a escritora Virginia Woolf, o grupo contava ainda com os pintores Duncan Grant e Roger Fry, os ensaístas Lytton Strachey, Clive Bell e Leonard Woolf e o romancista E.M. Forster. Era um grupo peculiar nas idéias estéticas e no comportamento. Casos amorosos entre seus integrantes – hétero ou homossexuais – eram tão comuns quanto a produção de idéias, quadros ou livros geniais. Keynes colecionava obras de arte e amantes homossexuais, mas casou-se com uma bailarina russa. Ao morrer, em 1946, dizia ter um único arrependimento: não ter bebido mais champanhe.


PÓS-GUERRA
Keynes ao centro, em Bretton Woods, como negociador britânico. Ele ajudou a definir o rosto da economia global por 30 anosEle se definia como um “economista burguês”, um “médico do capitalismo”. Brilhante, ganhou 2 milhões de libras, uma fortuna na década de 1930, especulando com commodities e moedas. Dizia ter desprezo pelo dinheiro e por banqueiros. Admitia a necessidade do trabalho “desde que não seja mais que três dias por semana”. Foi executivo de uma companhia de seguros e diretor de empresas jornalísticas. A City londrina parava para esperar sua previsão anual sobre o comportamento dos mercados.

Sua obra compõe-se de 29 volumes impressos e uma atuação pública notável. Em seu livro mais famoso – A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda –, uma obra tão pouco compreendida quanto admirada, Keynes concluía que era possível “operar” a economia capitalista mais ou menos como se controla uma máquina, mantendo-a sempre em ritmo acelerado para garantir o pleno emprego e o pleno uso de recursos. “O remédio para os ciclos econômicos não é abolir os booms e nos manter permanentemente em semi-recessão”, dizia Keynes. “Mas sim abolir as recessões e manter a economia permanentemente em quase-boom”.

Keynes acreditava que, durante as recessões, o governo deveria cortar impostos, baixar juros e gastar, sem se preocupar com o déficit público. Em momentos de contração, dizia Keynes, o setor privado não é capaz de investir. Se os mercados estão reticentes, as empresas reduzem gastos e põem gente na rua. Mas, se todas fizerem isso ao mesmo tempo, o consumo desaba. Isso justifica novos cortes de investimento e aprofunda a recessão. É um ciclo vicioso, que, segundo Keynes, só pode ser rompido pela ação do Estado. Ele deve, segundo Keynes, pôr dinheiro em circulação, estimular a produção e o consumo e tomar iniciativa nas áreas abandonadas pela iniciativa privada. É o que os governos do mundo todo estão fazendo há duas semanas.

Keynes foi responsável pelo sucesso das negociações que moldaram o mundo econômico do pós-guerra. A criação do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial, assim como os acordos monetários de Bretton Woods – eventos que ele influenciou como principal negociador britânico –, forneceram os alicerces da economia global até meados da década de 70, quando os Estados Unidos quebraram o acordo que mantinha o ouro como padrão monetário global. O fato de hoje, em meio à crise financeira, voltarem a clamar por uma espécie de governança global dos mercados é sinal da influência intelectual de Keynes.

Os críticos dizem que há uma severa limitação no keynesianismo. Ele pode ser eficiente para deter as crises, mas não para administrar a prosperidade. Na prática, a idéia de cavalgar o capitalismo e domesticá-lo por meio do fluxo da moeda e do investimento público terminou com inflação e estagnação nos anos 70. As idéias de Keynes se revelaram uma utopia. Há duas semanas, com a crise global, o médico do capitalismo voltou à cena. O tempo que permanecerá no palco dependerá de quanto a saúde da economia vai melhorar com os remédios que ele prescreveu.

sábado, 11 de abril de 2009

Paises Escandinavos - Modelos de Equilibrio Social

Como reduzir os níveis de desigualdade de nosso país para que possamos colher os frutos que recompensam sociedades mais igualitárias?

Mesmo quem não acredita que a redução das desigualdades socioeconômicas seja uma exigência de justiça social, conforme estampado na Constituição brasileira, tem razões de sobra para desejá-la ao menos instrumentalmente, isto é, como política pública comprovadamente eficiente no combate a várias mazelas sociais.
Países menos desiguais ostentam em regra índices menores de criminalidade, melhores níveis de saúde pública, maior confiança e solidariedade entre as pessoas e maiores perspectivas de desenvolvimento sustentado. Essa relação, bastante intuitiva, vem sendo confirmada em diversos estudos empíricos analisados e divulgados em recentes relatórios de instituições internacionais (ver, como exemplo, o Relatório sobre o Desenvolvimento Mundial de 2006: Equidade e Desenvolvimento, do Banco Mundial).A mensagem desses estudos é bastante clara. Ainda que não se acredite no valor moral intrínseco da igualdade, é melhor para todos viver numa sociedade mais igualitária.
Mesmo nos países desenvolvidos, em regra muito menos desiguais que o resto do mundo, é possível verificar o fenômeno das patologias da desigualdade, como bem as denominou o filósofo político Brian Barry, da Universidade Columbia (EUA).
Para citar apenas alguns dados, americanos e britânicos, apesar de viverem em dois dos países mais ricos do mundo, ocupam, respectivamente, a 36ª e a 46ª posições no ranking mundial de expectativa de vida, segundo dados do próprio governo americano ("CIA Factbook", 2008).Os EUA são também o país desenvolvido com a maior taxa de homicídios, quase dez vezes superior à média da Europa (Banco Mundial, 2002). A maior desigualdade das sociedades britânica e americana é apontada como fator contributivo importante dessas discrepâncias em relação aos demais países desenvolvidos.
O Brasil, apesar da recente queda de desigualdade registrada por órgãos de pesquisa (Ipea, IBGE), continua a ser um dos países mais desiguais do mundo e a sofrer, consequentemente, das patologias da desigualdade. Como, porém, reduzir mais rápida e significativamente os níveis de desigualdade de nosso país para que possamos colher os frutos que recompensam sociedades mais igualitárias?
Numa economia capitalista, o principal mecanismo de equalização é necessariamente a redistribuição, pelo Estado, das riquezas originariamente distribuídas de maneira desigual pelo mercado. E o mecanismo mais eficiente para isso é a combinação de impostos progressivos com investimentos sociais generosos nas áreas da educação e saúde públicas e nas redes de proteção social, como o seguro-desemprego (as políticas do chamado Estado de bem-estar social).
Nada muito diferente, portanto, do que fizeram a Suécia e outros países que resistiram melhor à onda neoliberal nascida nos EUA e na Grã-Bretanha, hoje totalmente desacreditada pela grave crise financeira mundial.Assolada por níveis espantadores de pobreza no século 19, a Suécia investiu pesadamente na infraestrutura social e, principalmente, na educação dos seus cidadãos, o que continua até hoje, ancorando a competitividade do país na economia globalizada. Investimentos em pesquisa e desenvolvimento acima de 3% do PIB resultam na maior taxa mundial de registro de patentes de novos produtos per capita.
A Suécia figura hoje entre os países mais ricos do mundo. É evidente que a manutenção dessas políticas tem custos que só podem ser financiados pela adoção de impostos progressivos -o outro lado da moeda. O Imposto de Renda na Suécia chega a quase 60% para os mais ricos, enquanto no Reino Unido chega a 40%, nos EUA, a 35%, e no Brasil, a 27,5%. Cidadãos e políticos suecos entendem que esse é o preço justificado da manutenção de uma sociedade desenvolvida, segura e saudável.
Resta, então, responder à pergunta do título deste artigo: poderia o Brasil se transformar em um país tão igualitário como a Suécia e colher os claros benefícios dessa opção política? O último relatório da OCDE sobre a economia da América Latina traz um dado que talvez surpreenda a muitos: as desigualdades da Suécia não são tão diferentes assim das do Brasil quando analisadas pré-atuação estatal, ou seja, pela mera alocação do mercado. Implementar as políticas fiscais e sociais necessárias para nos transformarmos num país mais igualitário é, portanto, uma questão de vontade política. Parafraseando o novo presidente americano, a resposta é: "Sim, podemos!".

EMANUEL KOHLSCHEEN, 35, doutor em economia pela Universidade de Estocolmo (Suécia), é professor de economia da Universidade de Warwick (Reino Unido).