quarta-feira, 8 de julho de 2009

Apenas procurando um sentido nas coisas..


Desde a infância, a vida pública é marcada por sucessos e fracassos. Pais se vangloriam pela criança de 4 anos de idade, já alfabetizada, colocam-na no curso de idiomas e instigam-na a ser a primeira da turma. A sucessão de metas a ser cumprida no colégio é a entrada para a vida adulta preestabelecida, em que a regra é acertar, sempre. E, com os acertos, sentir-se importante. Vivemos a cultura do tudo ou nada, na qual entendemos sucesso como dinheiro no banco, prestígio e poder. Ao usar tais conquistas para provocar admiração no outro, o próprio êxito, que realmente importa, fica esquecido. Dedicar-se a acumular bens materiais, sabendo que um dia vamos ter que deixar tudo isso, é desperdiçar uma vida. Nesse círculo vicioso, anula-se o que há de mais precioso: o potencial de cada um para desenvolver o que gosta e lhe garante sentido à vida.

Nós somos condicionados a todo o momento a pensar, a ter ideias e soluções brilhantes, a oferecer projetos fenomenais, a produzir, a criar textos célebres. Somos dominados por uma enxurrada de informações e cobranças que buscam formar ou moldar os "novos talentos do futuro", por sinal uma expressão cada vez mais utilizada no nosso cotidiano.
Essa pressão pela dianteira das novidades, pela liderança dos negócios, pela vanguarda das invenções, pelo domínio da vida pessoal e pelo perfeito equilíbrio da tríade amor-sucesso-felicidade é apenas mais um simulacro que nos ilude. Por que nos deixamos seduzir por esses ideais impostos pela sociedade em aliança com a mídia que obtêm um resultado de tal magnitude que a quantidade de jovens decepcionados com a "vida real"se multiplica como uma peste? Por que sofremos por não obter "os melhores resultados", ou melhor dizendo, por que somos sempre cobrados a ter os melhores resultados? Na vida profissional, na vida pessoal, no amor?
Nós somos incitados a uma competitividade doentia, imposta por um sistema sem identificação aparente, sem rosto, que prefere se esconder para que seu poder manipulatório seja mais eficiente. Meu Deus, quanta neurose! Até mesmo eu, penso isso de mim de vez em quando. Essas ideias provenientes de uma mente, aparentemente sã, soam muito loucas porque somos ensaiados a pensar como pessoas, indivíduos, componentes de uma sociedade que prega a diversidade, mas que cultiva a homogeneidade de comportamento, de pensamento, de estética, de cultura. Uma sociedade que cultiva o medo, a insegurança, que nos ensina mostrar a todo o custo nossos "talentos" (seja ele uma cura milagrosa para o câncer ou um belo bumbum rebolativo. Na verdade, de acordo com a atual conjuntura, sinto dizer, o bumbum faria bem mais sucesso!).
É esse o mundo reservado a nós? É isso que por anos homens sonharam e buscaram aprimorar para seus filhos? Um aparelho que comunica pessoas de lugares diferentes, um veículo que se locomove por vias, outro pelo mar, e, quem diria, que te faz voar! Um forno que faz comida sozinho, um telefone que te avisa quando acordar, quando tomar seu remédio, quando alguém te ligou e você não pôde atender, quando seu time perdeu, quanto você gastou na última compra. Será que já criaram um aparelho que te ajuda a calcular quanto tempo você perdeu da sua vida em busca destes ditames aterradores que ignoram o futuro, mas que adoram o presente como um Deus poderosíssimo?
Ah, eu sei a resposta para esta pergunta complexa, mas... O que será que eu ganho com isso? O "Prêmio Nobel da Verdade" por conseguir enxergar um elefante rosa desses? É, acho que vou pensar no caso! Pelo visto, essa "moeda de troca" imposta por um capitalismo fracassado é contagiante mesmo! Reformulando a resposta: é claro que ninguém inventou uma máquina que te ajuda a contabilizar o seu tempo perdido com essas imposições do sistema e, sinto muito informar, nem irão inventar, porque isso é para ser esquecido. E, desculpe-me por lembrar, mas acalme-se, provavelmente, ano que vem o Steve Jobs lançará um novo iPhone que, além de te conectar com a internet, te possibilitar ouvir músicas e assistir vídeos, te mostrar o caminho de casa e, ãh, telefonar, claro. Irá compor músicaspara você e dará conselhos emocionais! Venhamos e convenhamos, com um aparelho desses, quem precisa de amigo, né?
Bom, desculpe-me pela falta de delicadeza, mas opto pela sinceridade em detrimento do manual de boas maneiras a que fui submetida desde criança, e ouso dizer: não, muito obrigado! Se é esse o mundo que me foi reservado, aproprio-me da maior cara de pau, tão criticada, quem diria, por mim mesma, para rejeitá-lo! Não, eu não quero este mundo pra mim! Mas se serve para você, faça bom proveito! De repente, quem sabe, o Barack Obama promove uma mudança miraculosa a nível planetário, os palestinos e israelenses celebrarão este feito unidos, o presidente do Irã será o entusiasta da ideia, a fome na África será extirpada e 90% dos políticos se tornarão honestos. Quando este dia chegar, por favor ,me avise por e-mail ou celular, sem restrição de horários! Até lá, lamento desapontar: este mundo? Eu dispenso!

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