sexta-feira, 7 de maio de 2010

Rio Finantial

Conheça os motivos e os gestores de investimento que recolocaram o Rio de Janeiro no mapa das finanças nacionais
por Márcio Kroehn



Copacabana: Zeca Oliveira, do BNY Mellon, que faz a gestão de R$ 22 bilhões, ao lado da estátua de Drummond, na avenida Atlântica

Uma nova onda de investimentos, que vão do Flamengo à Barra da Tijuca, tem resgatado para a capital fluminense o status de centro financeiro, perdido para São Paulo na última década do século XX. Cada vez mais, empresas de gestão de recursos cariocas atraem os milionários do Brasil e do mundo. O jogo do dinheiro também está mudando, para melhor, a sede dos Jogos Olímpicos de 2016.

Nos últimos anos, mais de duas dezenas de gestoras de fundos surgiram próximas às areias do Rio. Muitos executivos não escondem a atração pela imagem de cartão- postal. “A vista carioca é incrível”, diz Zeca Oliveira, presidente do BNY Mellon. Com carteira de R$ 22 bilhões, maior que a dos tradicionais grupos Opportunity e Icatu, o escritório do BNY Mellon tem a vista para a Lagoa Rodrigo de Freitas.

(...)O ranking dos gestores de fundos divulgado pela Andima mostra que o Rio é o centro de decisão de aplicações superiores a R$ 80 bilhões. Isso, sem contar o dinheiro de outros ícones financeiros da cidade, como as fundações de previdência do Banco do Brasil, da Petrobras e da Vale, donas de R$ 200 bilhões, e o BNDES.

É o potencial dos negócios e a infraestrutura disponível que mais atraem os gestores. Muitos estão fazendo o caminho de volta de São Paulo para montar o próprio negócio. É o caso, por exemplo, de Marcelo Mesquita, sócio da Leblon Equities, fundada em setembro passado e com patrimônio de R$ 75 milhões.


Fraga, da Gávea: gestora atrai investidores estrangeiros para o Rio e até seus vizinhos acabam fazendo bons negócios

Nos anos 1990, Mesquita trabalhava no mítico Banco Garantia, de Jorge Paulo Lehman. Este foi o primeiro grande financista carioca a migrar para a Terra da Garoa, numa época marcada pela quebra da bolsa do Rio, com o caso Nahas, e o triste fim dos bancos Nacional e Boavista.

Outras casas importantes, como o Pactual, também levaram suas sedes para o outro lado da ponte aérea. “A telefonia era um caos e o aeroporto, complicado. Era preciso estar perto dos clientes em São Paulo naquela época”, lembra Mesquita. O apelo era fortíssimo, mas com o tempo deixou de ser irresistível.

Quando a Polo Capital foi criada em 2002, os sócios Cláudio Andrade e Marcos Duarte cogitaram passar um ano em São Paulo para depois se mudar definitivamente para o Rio. Desistiram. “Se ficássemos, não conseguiríamos sair”, supõe Duarte, que instalou-se no Leblon. A família, os amigos e a origem pesaram a favor.

Foi o que também aconteceu com o pessoal da Oceana Investimentos. “Sabíamos que teríamos que pegar o avião durante a semana ou no final de semana. Escolhemos a primeira opção”, diz o sócio Alexandre Rezende. O vínculo com São Paulo, sede da BM&FBovespa e dos maiores bancos do País, continua forte e exige visitas frequentes aos clientes.

Entre os gestores cariocas, a brincadeira que corre é que São Paulo é um país vizinho, que fala a mesma língua e que remete todo o patrimônio para o Rio. Por isso, é preciso fazer a ponte aérea sempre que os donos do dinheiro exigem. Dez entre dez gestoras dizem que mais de 75% dos recursos vêm desse país vizinho. Sem exceção, o caminho do Santos Dumont é muito comum para todos os gestores cariocas.

E, quando não estão no avião, usam as facilidades de recursos como a teleconferência. “As distâncias passaram a ficar menores com e evolução da tecnologia”, afirma Duarte, da Polo. “Hoje, estar perto é relativo, diferentemente de 15 anos atrás, quando não tinha internet”, complementa Alexandre Póvoa, sócio-diretor do Modal Asset Management.

É um fenômeno comparado ao que ocorre nos EUA. Embora Wall Street seja o coração pulsante do mercado de ações, o bilionário investidor Warren Buffett mantém sua estrutura na longínqua Omaha, a quase dois mil quilômetros de distância. “É possível trabalhar e ter sucesso fora de Wall Street e de São Paulo”, diz Leonardo Messer, sócio da Oceana. “Basta ter um bom nível de profissionais que vão buscar as informações das empresas”, completa. É verdade, tanto que os cariocas se revezam com os paulistas nos topos dos rankings dos melhores fundos publicados pela DINHEIRO.

O retorno de executivos formados pela escola carioca dos bancos de investimento tem aberto um campo de trabalho para os jovens recém-saídos das faculdades, principalmente da UFRJ e da PUC, consideradas excelentes celeiros de formação de gestores. Eles são atraídos por projetos ambiciosos que incluem sociedade e alta remuneração em pouco tempo.



O surgimento de novas gestoras criou o circuito Leblon-Ipanema. São nessas duas regiões boêmias e residenciais que boa parte das novas casas estão se instalando. Antes da decadência dos anos 1990, as finanças cariocas se concentravam no centro da cidade, pois era importante estar próximo da bolsa do Rio e da Comissão de Valores Mobiliários, a xerife do mercado de capitais.

Poucas gestoras mais novas se aventuraram nessa região, caso da JGP, de André Jakurski e Arlindo Vergaças Jr., criada em 1998, e da Argúcia Capital, de Ricardo Magalhães, que nasceu em 2005. A maioria preferiu o lado sul do Arpoador. “Leblon e Ipanema são bairros que estão incorporados ao estilo de vida das pessoas do mercado financeiro”, diz Hélio Braz Neto, sócio da Rio Gestão de Recursos. “Estamos perto de casa e a maioria prefere ir a pé”, diz Laura Tostes, diretora da Leblon Equities.

Gestoras cariocas administram mais de R$ 82 bilhões em fundos de investimento nacionais

Um dos precursores desse estilo de vida é Armínio Fraga, sócio da Gávea Investimentos. Ao criar a sua gestora, o ex-presidente do Banco Central escolheu o único prédio comercial da rua Dias Ferreira, no Leblon. O local lembra muito a rua Amauri, em São Paulo, pela sequência de bons restaurantes.

Mais do que comer bem e de estar no endereço que, durante muito tempo, foi considerado o aluguel mais caro do Rio de Janeiro (o andar de 600 metros quadrados não saía por menos de R$ 60 mil), Fraga quis ficar próximo de sua residência. Agora, prepara-se para mudar a sede da Gávea para o mesmo bairro. A partir de março, a Gávea ocupará três andares de um edifício na rua Ataulfo Paiva, que abriga a gestora da fortuna da família de Antônio Carlos de Almeida Braga, o Braguinha, ex-sócio do Bradesco.

Armínio Fraga e a Gávea já viraram o símbolo desse retorno do Rio de Janeiro ao posto de centro financeiro do País. Por causa deles, os investidores passaram a visitar a gestora em sua sede. E esse movimento foi sentido pelos concorrentes, principalmente os que estavam no mesmo prédio.



José Alberto Tovar, que vendeu a Arx Capital Management para o BNY Mellon, diz que não se cansa de agradecer a Fraga as visitas que recebia após o fim da reunião na Gávea. “Peguei carona nos clientes do Armínio”, conta Tovar a amigos próximos. Com pouco mais de 80 pessoas, a Gávea parece iniciar um novo movimento, agora com passaporte internacional. O JP Morgan estaria próximo de se associar ao ex-presidente do BC. Nenhuma das partes confirmou o negócio até o momento.

“Estamos buscando mais uma sala, porque aqui não cabe uma pessoa a mais”, explica o sócio Braz Neto. O contraponto da situação da Rio Gestão é a Leblon Equities, instalada no primeiro edifício da avenida Niemeyer. O local, onde também está a novata Studio Investimentos, já abrigou um hotel e a sede do Automóvel Clube do Rio de Janeiro.

A fachada preservada é uma parte do cenário que se abre quando se está no andar da Leblon: a vista privilegiada pega toda a avenida da orla e a praia. As três salas de reunião podem virar quatro, caso a varanda seja utilizada para encantar os investidores. “Temos mais a sensação de ter a praia por perto do que de utilizá-la”, afirma o sócio Pedro Chermont.

O tema sol e praia é um mito entre os cariocas. Há quem refute a ideia de associar essa parte da beleza natural à escolha de estar no Rio de Janeiro. Porém, é uma ligação quase imediata. A começar pela maneira de se vestir. É difícil ver o terno e a gravata, tão comuns no mercado financeiro paulista, nas ruas cariocas.


Rio Gestão: a empresa de Hélio Braz Neto está em busca de um novo escritório para gerir os atuais R$ 81 milhões e expandir os negócios

“O casual friday se transformou no casual week”, explica Vitor Roquete, sócio da Opus Investimentos. A Polo Capital, por exemplo, é conhecida como a gestora em que os profissionais trabalham de bermuda e camiseta. “O ambiente aqui é informal”, confirma Marcos Duarte, embora ninguém estivesse com esses trajes no dia da visita da DINHEIRO.

Mas é pela manhã que fica mais clara a parte esportiva dos gestores cariocas. Quando o relógio marca 6h30 em Copacabana e Vitor Roquete está correndo na praia, uma bola vermelha parece sair de dentro do mar, iluminando o que vê pela frente. “Olho essa imagem e penso que o meu dia está apenas começando’, diz Roquete. Alguns pontos já viraram clássicos das novas turmas.

Quem joga tênis se encontra na Lagoa Rodrigo de Freitas. Nas areias de Ipanema ficam os que gostam de praticar musculação nas academias ao ar livre. E há a turma da corrida e da caminhada, que se encontra no longo calçadão. Uma caminhada após o almoço limpa o cérebro para enfrentar a tarde de negócios. “Tomar água de coco é agradável e quebra o clima de trabalho”, diz Philipe Guimarães, da SDA.


Leblon Equities: a gestora dos sócios Pedro Chermont, Laura Tostes e Felipe Claudino (da esq. para a dir.) abriu as portas no final de 2009 e já cuida de R$ 75 milhões


http://www.istoedinheiro.com.br/noticias/8759_MENINOS+DO+RIO

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