quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Zimbabwe


Dentre os países mais pobres da Africa, atualmente, o caso mais dramático é o do Zimbábue. O ditador do país, Robert Mugabe, está no poder desda a d[ecada de 80. O Zimbábue tem a mais alta taxa de inflação do planeta (cerca de nove mil por cento ao mês), desemprego em massa (85%), fome e açoitado pela AIDS (expectativa média de vida de 37 anos). E o ditador apontado como o mais corrupto do mundo, vive no luxo enquanto seu povo na mais completa miséria.

Mas o Zimbabwe nem sempre foi assim. Há 30 anos atrás, o país era considerado próspero, com futuro. A antiga Rodésia do Sul - tornada independente em 1965 pelo branco Ian Smith - era um posto avançado ilusório de vida colonial na qual muitos dos 270 mil brancos pareciam ignorar alegremente a guerra que transcorria em prol dos 7 milhões de negros. Eles passavam filtros solares à beira de piscinas, jogavam boliche na grama aparada do Parque Salisbury e escutavam diariamente o rádio para ouvir coisas como "Bote o lixo para fora" na língua shona. Havia no país o regime segregacionista do apartheid. Ian Smith foi pressionado pelos EUA e Inglaterra a abrir o país aos negros, apoiando o revolucionário Robert Mugabe. Conquistada a auto-determinação, os negros venceram e expropriaram as terras dos brancos, no entanto tais medidas acabaram por desestruturar a economia do país.

Mugabe não está sozinho. Ele se mantém no poder à moda tradicional dos chefes africanos, apoiado por seu clã e uma extensa clientela, assim como as Forças Armadas, tendo como base seu partido, o ZANU, que depois do fim do regime de minoria branca tomou de assalto não apenas o governo, mas o Estado e até as instituições econômicas, tornando o ZANU e a República do Zimbábue uma só instituição. Quem fosse contra o ZANU ou Mugabe era contra o Zimbábue.

Ao contrário do que se diz não se fez uma reforma agrária; os agricultores negros foram mantidos sob dependência estrita da burocracia (que não chegara a ser tecnocracia) dos "donos do poder" no Estado, com um péssimo planejamento agrícola. Isso aí descredibiliza a reforma agrária, que sim, era justa a desapropriação dos colonizadores cujos capitais não eram socializados. No entanto, os brancos empregavam a população local que assim tinha empregos, salários e mesmo injustamente destituídos de direitos eles podiam pelo menos comprar o que comer. Agora ficaram sem nem mesmo ter de onde tirar o mínimo sustento que tinham pois as terras confiscadas não foram dadas a eles, mas aos membros do ZANU.

Os ex-trabalhadores do campo nem conseguem se instalar em Harare com o êxodo rural, pois a policia derruba os barracos improvisados fazendo que todos durmam pelas ruas mesmo. E as terras confiscadas não produzem sequer commodities (quem dera ainda produzissem!), muito menos alimento a preços acessíveis para as pessoas. Em 26/06/09, Mugabe ordenou que os preços dos alimentos e serviços fossem reduzidos pela metade. Os que não cumpriram a exigência foram presos, desde diretores de empresas até vendedores de rua. Já são 7.600 à espera de julgamento. A medida levou ao fechamento das lojas, pois os comerciantes afirmam que não podem vender seus produtos por menos do que pagaram por eles. Se perguntarem para o povo quem era melhor, dirão que no tempo dos brancos (antes de 1980) a vida era melhor do que agora. Hoje muitos desses veteranos da revolução, quase todos sem nenhuma experiência de trabalho agrícola, querem vender suas terras de volta aos brancos, mas estes acabaram por ficar receosos.

É claro que a Rodésia tinha problemas político-sociais terríveis, baseadas sobretudo na falta de direitos politicos dos negros, mas tinha pelo menos uma classe média que não era só do brancos. O próprio Mugabe que estudou em Colégio Marista e em uma Universidade inglesa era parte desta classe média. Não era o esquema "brancos ricos" X "negros pobres". Havia menos desigualdade sócio-racial que no Brasil na mesma época. Atualmente não há classe média alguma no Zimbabwe.

Professores, médicos, engenheiros, advogados tanto brancos como negros ficaram pauperizados ou tiveram que se exilar e agora sim, há um abismo social gigantesco e a tal da reforma agrária controvertida não é a que começou ainda antes da fundação do Zimbabwe e que se arrastou por décadas adentro (e que teve até apoio do governo trabalhista inglês, a certa altura), mas a que foi imposta a partir de 2002, que expulsou fazendeiros (mesmo os que compraram terras após 1980) sem nenhuma compensação para beneficiar partidários da revolução, sob a manjada premissa do "é dando que se recebe". A suposta reforma agrária não foi a única responsável pelos atuais problemas econômicos do Zimbabwe, mas representou a gota d'água que faltava para fazer o país chegar ao fundo poço.

Ao contrário de Mugabe, a política conciliatória com os brancos de Mandela, ajudou a África do Sul a se manter como o país mais desenvolvido do continente, sem excluir a existência de um forte empresariado negro no país, fazendo negócios associados a seus compatriotas brancos e sul-asiáticos. No Zimbábue, o empresariado se constitui no próprio senhor Mugabe e sua patota. Mugabe, fez o mesmo que Isabel de Castela em relação aos judeus: prejudicou um dos contingentes mais produtivos da população local, todos nascidos lá e tão zimbabueanos como ele empurrando o país ainda mais fundo para a vala do atraso econômico, só para afirmar politicagem demagógica.

O país é um dos mais ricos do mundo em termos de riquezas naturais (ouro, diamantes, urânio), mas submetido a um governo ineficiente e altamente corrupto, que se eterniza no poder. Culpar os países "brancos" pela situação sócio-política no Zimbábue é totalmente injustificado ainda mais se colocando a desculpa do racismo como se isso explicasse tudo, sem precisar analisar a complexidade da conjuntura. Se há de acusar a comunidade mundial por qualquer coisa seria pelo cinismo de não submeter o regime do Sr. Mugabe a justificáveis boicotes e sanções econômicas como se fez com o regime do já mencionado Sr. Ian Smith. O fato de Mugabe ser negro e Ian Smith ser branco não diferencia a ilegitimidade de ambos os regimes.

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