sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Gran Torino

Clint Eastwood põe o dedo em quatro feridas

São muitos os temas de “Gran Torino”, o mais recente filme de Clint Eastwood. O primeiro, e mais evidente, como observaram alguns críticos, é o retrato da América pintado nas telas. Walt Kowalski, o personagem de Clint, ex-operário da Ford, residente numa área deteriorada de Detroit, ocupada por imigrantes e gangues, evoca um tempo, superado, de glórias – a da pujança da indústria automobilística e do próprio país.

O magnífico modelo Gran Torino 1972, que Kowalski cuida com zelo, como se fosse um filho, é a imagem explícita dessa América que não existe mais. Para não deixar dúvidas do que quer dizer, Clint ainda apresenta o filho de Kowalski como um bem-sucedido vendedor de carros… japoneses.

Outro tema importante em “Gran Torino” é o da conversão do próprio Clint Eastwood. Como também já apontaram outros críticos, o filme é uma espécie de revisão da fase truculenta do ator e cineasta, cujo ápice foram os filmes da série “Dirty Harry”, em que protagonizou um justiceiro implacável. Kowalski herdou de Harry a truculência, o jeitão racista e grosseiro, mas agora está em busca de redenção, paz e descanso.

Um terceiro tema, já tratado em “Cartas de Iwo Jima” (2006), é o da difícil relação da cultura americana com o mundo estrangeiro. Tanto no filme construído a partir das cartas de soldados japoneses, quanto neste, cujo núcleo central é formado por um grupo de imigrantes orientais, Clint parece se esforçar em amainar o provincianismo dominante na América.

Por fim, um quarto tema de “Gran Torino”, que me interessou especialmente, é o da velhice. Clint já afirmou que este é o último filme em que participará como ator – o que dá ao trabalho um tom de comovente despedida.

Alquebrado, mas sem perder a lucidez, o personagem Kowalski olha com desdém para os jovens de sua família, e enxerga neles apenas pessoas sem modos e sem afeto, além de gananciosas, de olho em seus poucos bens. É uma visão amarga, por um lado, mas compensada pela capacidade que o velho mostrará ao longo da história de abrir o seu coração para o que não conhece. Mesmo que soe piegas, é um grande lição do filme. Impossível não se emocionar.

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