segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Brokeback Mountain


Por mais que aceitemos os gays, eles sempre foram uma fonte de Angústia, pois atrapalham nosso sossego, nossa identidade "clara".
Já o gay sério inquieta. O gay banqueiro, o gay médico, o gay de terno, o gay forte, o gay caubói são muito próximos de nós, a diferença fica mínima.
Por isso, eu não queria ver o tal filme dos caubóis.
Como? Caubói de mãos dadas, dando beijos romanticos, com tristes rostos diante do impossível? Não. Eu, não. Mas, aí, por falta de programa, "distraidamente"... fui ver o filme.
O filme não me pedia aprovação alguma para o homossexualismo, o filme não demandava minha solidariedade. Não.Trata-se de um filme sobre o imperio profundo do desejo e não uma narração simpática de um amor "desviante".
O filme se impõe assustadoramente! Os caubóis jovens e fortes se amam com um tesão incontido e são tomados por uma paixão que poucas vezes vi num filme, hétero ou não. Foi preciso um chinês culto para fazer isso. Americano não aguentava. Nem europeu, que ia ficar filosofando.
"Brokeback" é imperioso, realista, sem frescuras. Nao há no filme nada de gay, no sentido alegre, ou paródico ou humorístico do termo. Ninguém está ali para curtir uma boa perversão.
Não. Trata-se de um filme de violento e poderoso amor. É dos mais emocionantes relatos de uma profunda entrega entre dois seres, homos ou héteros. Acaba em tragédia, claro, mas não são "vitimas da sociedade". Não. Viveram acima de nos todos porq viveram um amor corajoso e profundo.
Há qualquer coisa de épico na historia, muito mais que romantica. Há um heroismo épico, grego, como entre Aquiles e Pátroclo da "Iliada",algo desse nível.
O filme não é importante pela forma, linguagem ou coisa assim. Não. Ele é muito bom por ser uma reflexão sobre a fome q nos move para os outros, sobre a pulsação pura de uma animalidade dominante, que há muito tempo não vemos no cinema e na literatura, nesses tempos de sexo de mercado e de amorezinhos narcisistas.
Merece os Oscars que ganhou.


Um comentário:

Roberta disse...

Acabei de rever o filme (este rever teria mais prefixos, se a nossa gramática permitisse, tantas as vezes que já o vi). Fico sempre tão sensibilizada diante deste "épico" que impõe tão vigorosamente a sua história de amor entre dois homens, que decidi encontrar na Internet algum eco deste sentir. Sua resenha é ótima e consegue reverberar as fortes impressões causadas pelo filme, atentando para aspectos fundamentais que em mim ficaram apenas no nível da pulsação. Vai ao sumo quando diz ser "uma reflexão sobre a fome q nos move para os outros, sobre a pulsação pura de uma animalidade dominante, que há muito tempo não vemos no cinema e na literatura". "Império profundo do desejo". Muito bom ler isso hoje.