domingo, 4 de julho de 2010

O Jeitinho

Nossa História ou nossas histórias - como o leitor preferir - sempre nos mostraram que há jeito para tudo. Jeito não. Jeitinho. É só um problema aparecer para que alguém diga em alto e bom som que possui a solução, ou melhor, um jeito. Um jeitinho.

De jeitinho em jeitinho, de conchavo em conchavo proclamou-se a Independência, fez-se o Império, fez-se a República. De favor em favor, de agrado em agrado, a Terra Brasilis foi criando um povo solícito, sorridente e cordato. Força e silêncio. Vontade e Comodidade.

Como tudo se resolve com jeitinho, a lei do menor esforço é a maior referência entre os habitantes da Terra Brasilis. Melhor deixar para depois de amanhã o que se pode fazer amanhã. E quando as contas chegam, o último dia de pagamento é um verdadeiro inferno. E quando há concurso, prova importante, documento a ser tirado, o último dia do prazo é o que resta. Chegar atrasado em compromisso então é comum na Terra Brasilis.

De tempos em tempos, o gigante acorda e se levanta do seu berço esplêndido. Há alguns gritos aqui, algumas cotoveladas ali, alguns resmungos acolá. No entanto, as coisas se ajeitam e tudo volta ao ritmo natural: acomodação e quietude.

Os filhos da Terra Brasilis fogem da luta quando fecham os olhos para os escândalos. O brado retumbante não é ouvido porque o som das balas e das sirenes é mais alto. A paz no futuro, comprometida. As glórias do passado, esquecidas.

Policarpo Quaresma, exemplar personagem criado por Lima Barreto, amou sua pátria verdadeiramente e, por ela, tudo fez. Gastou-se como gente pelo bem nacional. Deu-se por inteiro pelo bem comum. Mas descobriu mais tarde as ilusões e a ganância. O país com que sonhara jamais existiu.

Terra de encantos e desencantos. Terra de falácias e desenganos. Terra de precatórios e de muitos e confusos trânsitos.

Apesar dos problemas tamanhos há o jeitinho. E, de improviso em improviso a solução, como cantou certa vez um velho roqueiro, seja alugar a Terra Brasilis.

Autor: Campista Cabral

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