Numa escola elementar, um menino gordinho de 8 anos roubou um beijo de uma garotinha da mesma idade. Apesar da ingênua pureza do gesto, a reação contrariada da garotinha foi:
a) Vou chamar a professora;
b) Vou chamar a minha mãe;
c) Vou chamar o meu advogado.
Pois a resposta certa é a letra "c". E o garoto foi ameaçado de processo por assédio sexual.
O fato ocorreu na década de 90 no estado de New Jersey, mas poderia perfeitamente ter ocorrido nos dias atuais no Brasil, e apesar de extremo, ajuda a ilustrar um fenômeno social negligenciado pelos acadêmicos das áreas de humanas: a Judicialização do Cotidiano.
Assistimos a tudo que deveria ser entedimento coletivo, costumes e práticas cotidianas, se transformar em artigo de lei... é mais um equívoco (para não dizer estupidez) de nossa sociedade legalista e consumista. Não se consegue perceber que quanto mais medidas legais se impõe menos se pratica o respeito, a boa educação e o cultivo da virtude.
Sabem porquê? Porque o conflito é temido! As leis são criadas para mascarar conflitos e criar um suposto norte "consesual"... mas esse norte é forjado, artificial, ôco ! Pobre ser humano que agora abre mão da negociação como prática social.
E a extinção da ética e do humanismo se inicia. Podem parar com a robótica! Os andróides já estão por aí faz tempo!
O fenômeno da Judicialização do Cotidiano ganhou ainda mais força após incorporar um reforço de peso: o dinheiro.A fim de justificar a locupleção de indenizações financeiras por supostos danos morais, o sistema judicial terminou por cristalizar a idéia equivocada e sem qualquer respaldo filosófico de se reparar danos morais através de contrapartida financeira. Equivocada primeiramente porque uma vez que a moral pertence ao campo da ética, e por isto, não pode ser transformada em dinheiro, que pertence ao campo da lógica.
O conceito de liberdade no liberalismo foi ajustado às crenças da ideologia dominante (capitalismo). Garantir o livre funcionamento do mercado é uma coisa, transpor a lógica do mercado para a vida social é outra. Afinal, a justiça não é uma mercadoria, nem a liberdade, nem a igualdade, nem as pessoas.Quando uma regra que se destinava aos mercados avança para a esfera social e política é preciso estar atento e forte.
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