O desespero do vazio existencial contemporâneo. A falta de sentido da vida "pós-moderna". A incapacidade de lidar com os monólogos coletivos onipresentes. Tudo isso - agravado por uma infância sob abusos - faz de Nancy (Maria Bello, em interpretação comovente) uma mulher extremamente deprimida que só com a dor física consegue vislumbrar um fio de vida e de prazer. Talvez porque isso a retire por instantes da angústia abissal na qual se afoga. Talvez porque o apelo do corpo maculado obnubile a devastação que se impõe ostensivamente a sua mente. Nancy é casada com Albert (Rufus Sewell), um homem distante, meticuloso, que não a enxerga e parece incapaz de comunhão. Ela passa a vida em casa, em frente ao computador - na internet. Sai apenas para suas sessões de análise, que ela despreza. Fuma compulsivamente. Tem o corpo todo por si mesma cortado com gilete. Online, ela encontra Louis (Jason Patric), um homem com quem consegue se comunicar, com quem conversa, reparte emoções e desilusões. Um dia, contrata-o para matá-la. E deixa sua casa em busca de redenção. É um filme forte que não poupa o espectador da miséria da condição humana. A narrativa vai e volta no tempo para se completar e oferecer-nos elementos que a enriqueçam. A fotografia é gelada. A trilha sonora (ganhadora do prêmio no Festival de Estocolmo) envolve magistralmente cada cena. Um filme que esgarça nossa indiferença e expõe as vísceras da desolação.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário