A Europa que construiu o cristianismo e serviu de plataforma para a expansão global da fé cristã, é hoje, paradoxalmente, um continente de igrejas vazias. Nas imponentes catedrais há mais turistas admirados com a arquitetura do que fervor religioso.
Apenas dois de cada dez católicos comparecem com regularidade à missa na Europa Ocidental. No Leste Europeu são 14%. Nos anos 60, quando Joseph Ratzinger, atual Bento XVI, chegou a Roma para assessorar os cardeais nas discussões do Concílio Vaticano II, oito de cada dez crianças nascidas em lares católicos na França recebiam o batismo. Hoje, só uma em duas. A debandada do rebanho é sentida com intensidade até nos países cuja maioria católica é avassaladora, como a Espanha (90% dos jovens espanhóis jamais vão à missa) e a Itália (só um em cada quatro católicos vai à igreja). Na Alemanha, terra natal do novo pontífice, o comparecimento à missa é de reles 15%.
Em vários países faltam padres por causa da queda no número de seminaristas. Em 2004, menos de noventa padres foram ordenados na França. Na Alemanha, há 9.000 sacerdotes para 13.000 paróquias. De exportadora de missionários com a palavra de Cristo, a Europa agora recruta padres na África e na Ásia. Só na Alemanha há 1 400 padres africanos e asiáticos atuando em suas paróquias. Os teólogos debatem há anos as causas da debandada do rebanho europeu – mas não há, por enquanto, uma resposta que sirva a todas as perguntas. As pesquisas demonstram que não se trata apenas de um surto de ateísmo. Também não é certo falar em crise de espiritualidade. Apesar de escassas nos bancos das igrejas, multidões se lançam em peregrinações a Santiago de Compostela, na Espanha, ao Santuário de Fátima, em Portugal, ou vão a Roma com a esperança de ver o papa. "Na Europa, o interesse na Igreja Católica diminuiu porque, cada vez mais, as pessoas encaram a fé religiosa como algo individual e privado, que dispensa a intermediação de uma instituição", disse a VEJA o teólogo alemão Christian Schmidtmann. Segundo ele, em lugar de aceitar como verdadeira uma única linhagem religiosa, os europeus atuais constroem verdadeiras "religiões de retalhos", costuradas apenas com os elementos que lhes interessam, descartando o resto.
O fenômeno é claramente europeu e se deve, em parte, ao fato de a Europa ser o berço do racionalismo. Com o avanço da ciência e do acesso à educação para uma parcela maior da população, as pessoas passaram a encontrar na razão respostas para questões que antes só a religião podia oferecer. Na África, o número de católicos triplicou nos últimos 25 anos. Na Ásia, quase dobrou. Na América Latina, a religião continua confortavelmente majoritária, apesar do assédio pentecostal.
A idéia defendida por teólogos liberais é a de que o rigor do papa em temas morais – como o veto ao uso de preservativos, ao aborto, ao sacerdócio feminino e ao casamento homossexual – estava na contramão da vida moderna e, com isso, afugentava os fiéis.
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