A Ascenção do Partido Pirata na Suécia
Por Hilmar Schmundt
Der Spiegel
O sucesso do Partido Pirata da Suécia talvez seja uma das maiores surpresas das eleições parlamentares europeias. À medida que cada vez mais eleitores da classe média declaram sua solidariedade a esses piratas dos tempos modernos, será que os partidos tradicionais também adotarão as demandas por uma internet livre?
O sucesso do Partido Pirata da Suécia talvez seja uma das maiores surpresas das eleições parlamentares europeias. À medida que cada vez mais eleitores da classe média declaram sua solidariedade a esses piratas dos tempos modernos, será que os partidos tradicionais também adotarão as demandas por uma internet livre?
"Ei Christian!", chamou um passante, enquanto se aproximava de Christian Engstrom para apertar sua mão com entusiasmo. Ultimamente, isso vem acontecendo bastante com o líder do Partido Pirata, que é regularmente abordado por estranhos em Estocolmo, ansiosos para cumprimentá-lo por ter sido eleito para o Parlamento Europeu.
Engstrom não se parece exatamente com um pirata. Um homem afável de cinquenta e poucos anos, com um topete branco divertido na testa, que encontramos mastigando um pedaço de torta quente de mirtilo, sentado num café nas ruas da capital sueca.
O futuro membro do Parlamento Europeu (MEP) é um dos maiores cientistas de computação do país. Até os pais dele eram programadores, e o próprio Engstrom desenvolveu um software para escritórios de patentes. Mas isso foi antes de ele mudar de lado.
Sua plataforma de campanha poderia caber no espaço do descanso de copo à sua frente: abolir as patentes, restringir o período de validade dos direitos autorais para poucos anos e proteger a privacidade de informações dos cidadãos. Apesar da pequena amplitude de sua mensagem, os efeitos foram impressionantes. Nas eleições europeias, o Partido Pirata conquistou 7,1% dos votos da Suécia. Ele é apoiado principalmente por homens com menos de 30 anos, e é muito mais popular do que os partidos tradicionais da Suécia entre as crianças em idade escolar.
Muitos países europeus têm partidos irmãos que também estão lutando por uma internet livre. O Partido Pirata conseguiu 0,9% dos votos na Alemanha e atraiu impressionantes 5,1% dos votos num distrito de Berlim.
"O nome Partido Pirata parece bobagem a princípio", diz Engstrom. "Mas tem um significado para todo mundo", principalmente na terra dos vikings. O partido deve muito de sua popularidade a seus oponentes. Em abril, a filiação triplicou de repente quando um tribunal condenou os operadores do site sueco de troca de dados thepiratebay.org a um ano de prisão e ordenou que eles pagassem por prejuízos.
Voto de protesto de "jovens enraivecidos"?
Será que os mais de 200 mil eleitores do Partido Pirata são criminosos? "É claro que não, mas foi um voto de protesto por parte dos 'jovens enfurecidos'", diz Henrik Ponten, do Serviço Antipirataria, um grupo que faz lobby pela indústria cinematográfica.
Ponten, que usa um corte de cabelo curto, estilo militar, é o homem que os piratas nórdicos adoram odiar. "Os extremistas de direita foram muito mal nessas eleições", diz ele. "Muitos jovens enraivecidos deixaram de votar neles para votar nos Piratas".
Ponten se esconde atrás de uma porta de segurança espelhada em seu escritório, no norte de Estocolmo. Ele não fala para câmeras e também não se permite ser gravado. Um poster do filme "Exterminador do Futuro 3" está pendurado na parede do lado de fora de seu escritório. Ponten faz parte do mito da fundação do Partido Pirata tanto quanto Darth Vader faz parte de Star Wars. Disputas acirradas na internet dividiram o país desde que o Serviço Antipirataria foi fundado em 2001.
Ironicamente, a Suécia liberal decretou leis duras de fiscalização para censurar sites e permitir que autoridades do governo pudessem ler e-mails privados.
Em protesto, ativistas pelos direitos humanos criaram o fórum de discussão Serviço Pirata, em 2003. Depois, veio a fundação do Pirate Bay, um site comercial de troca de arquivos, que hoje opera independentemente. Por fim, o Partido Pirata foi fundado há três anos, servindo esssencialmente como braço político do movimento de resistência, mas também independente dos outros.
"O que as três organizações têm em comum é que transformamos a palavra 'pirataria', que normalmente teria conotações negativas, num conceito positivo, assim como os homossexuais nos Estados Unidos fizeram com a palavra 'queer'", diz Engstrom.
"Os piratas descrevem a si mesmos como vítimas, mas na verdade eles são os criminosos que prejudicam a indústria cinematográfica", argumenta Ponten, que diz que já recebeu até ameaças de morte via mensagens de texto. "Infelizmente, muitos políticos não sabem muito sobre a internet e são facilmente influenciados por grupos lobistas."
Nesse sentido, pelo menos, ele e seus oponentes têm a mesma visão. "O problema são os políticos offline que não tem a mínima noção", diz o fundador do Partido Pirata Rick Falkvinge. "É por isso que decidimos evitar os políticos e abordar os eleitores diretamente."
Novo tipo de classe média
O Aeroporto de Estocolmo é onde funciona hoje seu escritório móvel de campanha, enquanto ele se senta com um copo de cerveja e o notebook à sua frente. O partido não tem escritório próprio.
Falkvinge, de quase 40 anos, já ganhou a vida como especialista em software e trabalhou para a Microsoft, entre outras companhias. Ele fundou sua primeira empresa aos 16 anos. Hoje, está a caminho para uma conferência no Canadá. Ele planeja concorrer ao parlamento sueco no ano que vem.
"Os fundadores do Partido Pirata defendem um novo tipo de classe média com mentalidade empreendedora", diz Anders Rydell, que acabou de publicar um livro sobre os piratas da internet. "Desde o governo liberal-conservador do (ex-primeiro-ministro) Carl Bildt no começo dos anos 90, a Suécia tem sido pioneira em relação à internet", diz Rydell. Isso mudou a sociedade sueca, acrescenta. "Mais e mais membros das classes educadas, escritores e jornais estão declarando sua solidariedade aos piratas."
O político da internet Engstrom espera que a vitória nessa eleição seja apenas o começo. "Desde a eleição, recebemos ofertas para colaborar com os principais partidos". Isso faz parte do plano, e explica a escassa plataforma de campanha do partido.
Mas e se os partidos estabelecidos simplesmente plagiarem suas demandas? "Somos piratas", diz Engstrom. "Adoramos copiar! Se isso acontecer, então teremos atingido nosso objetivo e poderemos abolir a nós mesmos."
Partido Pirata no mundo
O Partido Pirata possui grupos já estruturados atuando em cerca de 23 países e uma rede de ativista que se expande gradualmente a outros países.
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