Em busca de harmonia, alguns casais estão adotando arranjos conjugais que fogem à tradição. A experiência, está provado, tende a dar muito certo quando o estilo de relacionamento definido, a modalidade de moradia escolhida e a frequência dos encontros realmente expressam o gosto de cada um e os propósitos de ambos.
Eis uma situação: ambos residem no quinto andar; ele, no 51; ela, no 52. Eliminaram a parede que separava dois quartos e fizeram um aposento mais amplo, com dois banheiros. A leste, mora ela. A oeste, ele. A filha, uma jovem adulta, vive com a mãe. O filho adolescente, com o pai. O marido assina um jornal; a mulher, outro. Ele tem uma faxineira, que comparece duas vezes por semana. Ela tem uma empregada fixa. Cada um faz suas compras e gerencia a casa em consonância com seus hábitos pessoais. Cada um paga as próprias contas e ambos constroem um patrimônio comum. Por sorteio, definiram que a empregada dela limparia o quarto do casal. Há ocasiões em que ele a convida para provar o prato gourmet que ele inventou, da mesma forma como ela o recebe para jantar duas vezes por semana. Um não dá palpite na organização da residência do outro. Seus gostos são muito distintos. Foi uma luta chegarem à escolha dos componentes do quarto compartilhado. Vivem bem e sentem que boa parte de sua harmonia se deve a esse jeito de organizar suas vidas.
Outra situação: ele mora em uma cidade; ela, em outra. Passam juntos a maior parte dos fins de semana — na casa de um, na de outro, ou viajando. Sentem saudade e acham que isso colabora com a alegria dos encontros. Os dois filhos mais velhos moram com o pai. A mais nova, com a mãe. Nos finais de semana, cada jovem vai para um canto, ou todos se reúnem na casa de praia da família.
Terceiro arranjo: os parceiros moram em bairros distantes. Falam-se todos os dias ao telefone ou trocam e-mails. Curtem os finais de semana na casa de um dos dois e aos domingos recebem os filhos dos casamentos anteriores para o almoço, que preparam juntos. Vivem assim há seis anos. Consideram-se namorados e estão felizes.
Um casamento conduzido em moldes tradicionais pode ser muito bom, mas muitas pessoas, embora o tenham escolhido, passam a sentilo como uma espécie de prisão, uma situação restritiva, e até impeditiva, a uma série de propósitos, de objetivos, de desejos. Há quem se sinta desconfortável com as numerosas tarefas, as interações, a casa movimentada, quando sua preferência seria por mais momentos de silêncio, ou pela simples liberdade de ocupar toda a cama na hora de dormir, coisas assim. Então, começam as queixas relativas à falta de liberdade e aos comportamentos compulsórios que se adotam com o casamento — além, claro, de uma certa nostalgia em relação à vida anterior.
Se nessa hora o casal tiver a tranquilidade necessária para discutir e identificar os problemas, poderá escolher um outro jeito de levar a relação, uma modalidade conjugal alternativa, que respeite os gostos e as preferências de cada um. Tudo em prol da harmonia da vida coletiva, que muitas vezes inclui filhos. Como já disse antes, porém, o sucesso da experiência dependerá da franca aceitação do arranjo pelos parceiros, com critério, discernimento e amorosidade.
Alberto Lima, psicoterapeuta junguiano
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