BERLIM: Lars Von Trier ficou com a fama, mas o primeiro diretor a filmar segundo as regras naturalísticas do Dogma 95 foi Thomas Vinterberg, co-criador do movimento. Infelizmente, seus filmes posteriores não mantiveram o alto nível de “Festa de Família”, sua estreia em 1998. Até este “Submarino”, que foi recebido por parte da crítica como uma volta à forma.
O drama sombrio, baseado num romance aclamado de Jonas T. Bengtsson, filmado em 16 milímetros e com uma coloração azulada de fundo do mar, acompanha dois irmãos que sucumbiram à dissolução familiar e ao ambiente de miséria em que foram criados.
O filme começa com o choro de um bebê, assistido por duas crianças, enquanto a mãe procura uma garrafa de vermute. O trauma da morte do irmão menor, logo no início, marca a trajetória dos protagonistas (De novo, após Anticristo a morte da crianca volta a assombrar o cinema dinamarques e seus monges do Dogma.). Negligenciados por uma mãe alcoólatra e abusiva, tornam-se adultos problemáticos, com poucas chances de redenção. E é apropriadamente a morte da mãe que acaba por reuni-los após 20 anos de separação.
O mais velho, Nick, é agora um alcoólatra amargurado, violento, lacônico, de temperamento difícil, todo coberto de tatuagens e recém-libertado da prisão, que vive num abrigo e se relaciona com uma sem-teto que perdeu a guarda dos filhos. Os primeiros 45 minutos de projeção são dedicados a ele.
Mas logo conhecemos o mais novo, um jovem drogado de olhar vazio como um zumbi, que aparentemente nem sequer tem um nome. Ele é sempre referido como “o irmão de Nick” ou “o pai de Martin”. Tornou-se um pai solteiro após um acidente de carro, três anos atrás, matar sua esposa, e agora precisa equilibrar o vício com a responsabilidade de cuidar de uma criança pequena.
O roteiro é inteligente em materializar pontes visuais entre as histórias paralelas e ao aliviar ocasionalmente o tom miserável, que poderia se tornar sufocante, com intersecções cômicas – mesmo que tragicômicas.
Outro detalhe significativo é que a passagem entre a vida desgraçada de um irmão para a outra não é sincronizada. Os segmentos não se interligam cronologicamente. A opção estrutural é mais um modo de reforçar a falta de conexões entre os dois em suas vidas adultas. Cada qual tem seu inferno particular para arder durante o resto de sua existência.
Apenas por um breve momento o filme consegue aproximá-los, numa cena significativa, que enseja a possibilidade de futuro melhor para o pequeno Martin. Vinterberg quis, ao fim de todo o sofrimento, mostrar que existe esperança.
Em entrevista no Festival de Berlim, o cineasta admite que é seu filme mais "escandinavo" - talvez por isso, Submarino tenha recebido o prêmio principal da Academia Escandinava de Cinema. "Existem elementos, se é que se pode dizer, de Shakespeare em Festa de Família. O rei morto, rei está nu, a família dividida de Rei Lear, a indagação existencial de Hamlet. Tudo isso é verdade, mesmo que pareça muito pretensioso, mas sou filho de um intelectual e ele me criou na admiração dos clássicos. Bengstsson e Submarino são mais embasados na realidade da Dinamarca, da Escandinávia. Uma história de queda e redenção, de ascese, como aquelas que (Carl Theodor) Dreyer gostava de contar."
Ele reconhece que Submarino deve muito aos atores e não poupa elogios a Jakob Cedergren e Peter Plaugborg. "Eles foram fundo na investigação de personagens que são difíceis. A ideia aqui é ir fundo na vulnerabilidade e no sofrimento. É como se fosse necessário perder a cascas para renascer."
O diretor reflete agora sobre o que parece óbvio. "O Dogma morreu, é página virada, mas para nós todos foi muito importante. Surgimos como um grupo, uma geração cheia de ideias, querendo marcar o cinema. Se tentássemos fazê-lo individualmente, talvez não tivéssemos conseguido. Cada um seguiu seu caminho, está tendo de assumir seus limites. Mas ainda nos relacionamos. Lars, Suzanne Bier, eu. O problema é a novíssima geração do cinema dinamarquês, os órfãos do Dogma. Acho que eles enfrentam a pior crise da história do cinema no país."
O drama sombrio, baseado num romance aclamado de Jonas T. Bengtsson, filmado em 16 milímetros e com uma coloração azulada de fundo do mar, acompanha dois irmãos que sucumbiram à dissolução familiar e ao ambiente de miséria em que foram criados.
O filme começa com o choro de um bebê, assistido por duas crianças, enquanto a mãe procura uma garrafa de vermute. O trauma da morte do irmão menor, logo no início, marca a trajetória dos protagonistas (De novo, após Anticristo a morte da crianca volta a assombrar o cinema dinamarques e seus monges do Dogma.). Negligenciados por uma mãe alcoólatra e abusiva, tornam-se adultos problemáticos, com poucas chances de redenção. E é apropriadamente a morte da mãe que acaba por reuni-los após 20 anos de separação.
O mais velho, Nick, é agora um alcoólatra amargurado, violento, lacônico, de temperamento difícil, todo coberto de tatuagens e recém-libertado da prisão, que vive num abrigo e se relaciona com uma sem-teto que perdeu a guarda dos filhos. Os primeiros 45 minutos de projeção são dedicados a ele.
Mas logo conhecemos o mais novo, um jovem drogado de olhar vazio como um zumbi, que aparentemente nem sequer tem um nome. Ele é sempre referido como “o irmão de Nick” ou “o pai de Martin”. Tornou-se um pai solteiro após um acidente de carro, três anos atrás, matar sua esposa, e agora precisa equilibrar o vício com a responsabilidade de cuidar de uma criança pequena.
O roteiro é inteligente em materializar pontes visuais entre as histórias paralelas e ao aliviar ocasionalmente o tom miserável, que poderia se tornar sufocante, com intersecções cômicas – mesmo que tragicômicas.
Outro detalhe significativo é que a passagem entre a vida desgraçada de um irmão para a outra não é sincronizada. Os segmentos não se interligam cronologicamente. A opção estrutural é mais um modo de reforçar a falta de conexões entre os dois em suas vidas adultas. Cada qual tem seu inferno particular para arder durante o resto de sua existência.
Apenas por um breve momento o filme consegue aproximá-los, numa cena significativa, que enseja a possibilidade de futuro melhor para o pequeno Martin. Vinterberg quis, ao fim de todo o sofrimento, mostrar que existe esperança.
Em entrevista no Festival de Berlim, o cineasta admite que é seu filme mais "escandinavo" - talvez por isso, Submarino tenha recebido o prêmio principal da Academia Escandinava de Cinema. "Existem elementos, se é que se pode dizer, de Shakespeare em Festa de Família. O rei morto, rei está nu, a família dividida de Rei Lear, a indagação existencial de Hamlet. Tudo isso é verdade, mesmo que pareça muito pretensioso, mas sou filho de um intelectual e ele me criou na admiração dos clássicos. Bengstsson e Submarino são mais embasados na realidade da Dinamarca, da Escandinávia. Uma história de queda e redenção, de ascese, como aquelas que (Carl Theodor) Dreyer gostava de contar."
Ele reconhece que Submarino deve muito aos atores e não poupa elogios a Jakob Cedergren e Peter Plaugborg. "Eles foram fundo na investigação de personagens que são difíceis. A ideia aqui é ir fundo na vulnerabilidade e no sofrimento. É como se fosse necessário perder a cascas para renascer."
O diretor reflete agora sobre o que parece óbvio. "O Dogma morreu, é página virada, mas para nós todos foi muito importante. Surgimos como um grupo, uma geração cheia de ideias, querendo marcar o cinema. Se tentássemos fazê-lo individualmente, talvez não tivéssemos conseguido. Cada um seguiu seu caminho, está tendo de assumir seus limites. Mas ainda nos relacionamos. Lars, Suzanne Bier, eu. O problema é a novíssima geração do cinema dinamarquês, os órfãos do Dogma. Acho que eles enfrentam a pior crise da história do cinema no país."
Um comentário:
Bacana seu site/blog. Convido-o a visitar o meu: www.cinepersona.com. Abraço.
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