domingo, 23 de agosto de 2009

Anticristo - Lars von Trier





É um filme para ser visto e revisto, que gera inúmeras possibilidades de interpretação, e que exige muita reflexão para ser propriamente analisado. (...) Começa com um prólogo em preto e branco que mostra a morte do filho de seis anos do casal protagonista (interpretado por Willem Dafoe e Charlotte Gainsbourg), que não tem seus nomes enunciados em momento algum, talvez por representarem arquétipos. Com a perda, a mulher cai num abissal processo depressivo, é internada num hospital em estado praticamente cataléptico e não consegue seguir com sua vida. O marido, psiquiatra, resolve tratá-la sozinho e a leva para um chalé isolado no meio de uma floresta. Lá eles iniciam catarse progressiva de exposição e elaboração de seus demônios mais terríveis. Filme intenso do começo ao fim, sem descanso. Forte, duro, angustiante. Diálogos e cenas impactantes, numa explicitação de desespero extremo e dos subterrâneos mais sombrios da alma humana. Ganhou o prêmio de melhor atriz (Charlotte Gainsbourg) e concorreu à Palma de Ouro em Cannes, onde causou polêmica, gerou reações diversas e adversas, e foi chamado de misógino*.
Resenha: Fina Endor : http://linguadefel.blogspot.com/

O diretor dinamarquês Lars von Trier, que sofria da doença durante as gravações de Anticristo, imprimiu nele uma profunda desilusão com a natureza humana. Cenários escuros e sujos, filhotes de animais mortos e cenas chocantes de sexo são os ingredientes complementares dessa produção que despertou paixão e asco entre os críticos no Festival de Cannes.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Problemas do Legalismo - 2

A Ditadura do Estado e do Governo
Como tentei colocar no primeiro artigo desta série, significa legalismo jurídico a super valorização da lei mesmo que isso não seja sinonimo da sua eficácia no ordenamento jurídico em causa.
Neste segundo artigo, pretendo colocar o outro problema da legalismo jurídico, segundo o qual, com a lei, o cidadão fica sujeito a total dominação do Estado que através do legislador e das leis, mesmo sem consentimento do poder constituinte, determina o caminho que a vida deve levar.
Em primeiro lugar é preciso perceber que uma das consequências directas do legalismo é a inversão dos valores de justiça, sendo que, a lei passa a prevalecer sobre tudo e todos, inclusive sobre a justiça.
Em segundo lugar é preciso perceber que embora o parlamento, que tem o mandato de aprovar a leis, seja constituído por representantes do povo, nota-se claramente que estes protegem mais os interesses dos seus partidos, que dos cidadãos.
Se formos fazer a leitura das leis aprovadas pelo parlamento, vamos perceber que a maior parte delas foram propostas pelo Governo, o governo constituído pelo partido vencedor das Eleições multipartidárias, sendo pois este que dita, na maior parte das vezes o caminho que a vida dos moçambicanos deve levar.
Outra parte das leis é proposta por grupos que podemos chamar de sociedade civil e empresários. Estes tem seus interesses, muitos deles, nem sempre gerais, uns querem lucros e outros justificar os programas e os financiamentos. Para chegar aos seus fins elaboram propostas de leis, fazem lobbys com os parlamentares e as leis são aprovadas. Desde que são aprovadas, independentemente se são ou não conforme os princípios da justiça, da ética ou da moral, devem vincular a todos.
As leis, sendo leis, devem ser obedecidas, já diz a máxima: dura lex, sed lex. Imaginemos uma lei que determina a pena de morte para certos crimes, por ser lei, deve ser obedecida, mas essa lei é injusta na sua essência. É uma lei contraria a justiça e a todos os princípios ético morais.
Imaginemos uma lei que restringe o exercício de direitos fundamentais a negros, judeus, homossexuais, mulheres ou portadores de alguma deficiência, essa lei é injusta na sua essência, mas porque é lei vincula aos cidadãos.
Vemos aqui que por via das leis, dentro do contexto do legalismo jurídico, o Estado e o governo podem transforma-se em tiranos e ditadores a ponto de atentarem contra a crença das pessoas, convicções religiosas, culturas, tendências, entre outros.
Por meio das leis, as pessoas podem ser proibidas de se vestirem de determinada maneira, de se alimentarem de determinada maneira ou ate de pensarem de certa forma. Chegados a este ponto de sociedade, estaremos perante uma sociedade realmente legalista, onde os princípios fundadores do direito, da ética e da moral, inclusive os mais nobres princípios da justiça, são relegados ao último plano.
Essa ditadura do Estado ou do Governo usando as leis encarece de sobre maneira o exercício da cidadania, na medida em que, com o aparato legislativo aprovado, o Estado precisa ter recursos financeiros e materiais, os chamados encargos legislativos para efectivação dessas normas.
Por outro lado, quando o cidadão pretende ir a justiça, precisa prepara-se de forma especial, o que inclui contratar um advogado que vai encontrar as leis mais apropriadas para a defesa do seu constituinte, para alem de que aquele terá que enfrentar as contas dos preparos e impostos da justiça.
Na verdade o que temos nos neste cenário? Temos um Estado que por juramento ao legalismo jurídico, inverteu os valores da Justiça e coloca o cidadão numa arena onde salva-se quem for o mais forte, mais abastado e mais informado.
Outro cenário criado pelo legalismo jurídico é a superlotação das cadeias por pessoas que cometeram crimes absurdos, mas que na verdade devem permanecer presos porque a lei assim manda, ou então aqueles que não tendo capacidade de encontrar um advogado ficam eternamente detidos, ate que consigam alguém que por eles labute.
O perigo do legalismo na sequência, é aprovarem-se leis que acautele interesses dos governantes, dos empresários ou dos activistas do dia, esquecendo que as pessoas, as empresas, os políticos e as instituições passam, mas que o povo e o cidadão permanecem. Dai que a justiça exige que se olhe para a pessoa humana e não para os interesses das corporações actuais.
Acima disso, sabe se que, um rol de tantas leis, não significa necessariamente que elas serão eficazes. Em muitas situações encontramos leis com que o cidadão jamais se identifica.
Como afirmou Camus, o normativismo passou a ser "uma forma legal de fazer injustiça". Guiados pelo legalismo esse será o fim a ser alcançado por todos intervenientes no processo de administração de justiça e até pelo Estado que se pretende de Direito.
O que se pretende para acautelar a situação é um retorno ao espírito do Direito e aos princípios da Justiça, sendo que só desta maneira poderemos entender o espírito das leis e não limitarm
texto de Custódio Duma

Problemas do Legalismo - 1


O direito como um fim

O direito é uma ciência de muitos problemas, embora ele procure no máximo evitar conflitos sociais. É por ser uma área do saber que lida com conflitos que é, em si, uma ciência de muitos problemas.Um desses muitos problemas é provocado pelo legalismo jurídico que na sua essência procura trazer a certeza e a garantia na forma de ser do próprio direito e que entretanto, acaba servindo interesses alheios aos seus primeiros princípios, essencialmente da justiça.
Entendo o legalismo jurídico como o manifesto juramento de fidelidade ao formalismo jurídico, resultado do positivo jurídico bastante desenvolvido nos séculos passados.Tal fidelidade ao formalismo jurídico, parte do pressuposto de que todos devem obediência à lei, ou seja, que a lei deve ser igual para todos e deve sobre todas as consequências ser aplicada.
Entretanto, a questão principal neste tópico é que uma das consequências directas do legalismo jurídico é tratar ou considerar o direito como um fim em si. O direito é o conjunto de normas jurídicas imposta pelo poder público para garantir a ordem e a tranquilidade social.
Deve entender-se o direito como um conjunto de elementos que no todo constituem o meio à justiça. No geral, o direito é um meio à justiça, sendo que, é o direito que serve a justiça e não o contrário.Entretanto, a justiça é um fim em si. Para alem do direito, também serve a justiça a ética. A ética ilumina o ser humano sobre o que está certo e o que não está certo, ajuda a distinguir o justo do injusto. Isso equivale dizer que, o direito, para que realmente sirva a justiça precisa ser imbuído da ética.
O direito quando não imbuído da Ética não pode servir a justiça e transforma-se ele mesmo em um fim, na medida em que uma das consequências da ausência da ética é o apego incondicional ao formalismo jurídico e ao legalismo, o que na prática retira o compromisso com a justiça.
Os princípios mais recomendados do direito, exigem que realmente todos obedeçam às leis e que essas leis sejam iguais a todos, entretanto, o conceito de lei que se nos trás, é o de leis justas, sendo que, as leis injustas, ou as leis que não nos conduzem a justiça não podem constituir elemento de igualdade ou de exercício dos direitos fundamentais.É aqui que não se explica o apego desenfreado às leis, mesmo sabendo que elas são injustas só porque elas foram emanadas pelo poder público.
A justiça não deve nunca ficar refém do direito, é o direito que deve mudar quando não se alcança a justiça e nunca o contrário. Enquanto que o direito é relativo, a justiça é um conceito absoluto.No meu trabalho como defensor dos direitos humanos encontro-me sempre com situações em que a justiça é relegada ao último plano e o direito elogiado em detrimento daquele. Este é o primeiro dos problemas do legalismo jurídico: preocupação em aplicar leis a fim de obedecer os formalismos legais exigidos mesmo que para tal tenhamos que sacrificar a justiça.
Esse é para mim um dos primeiros males do legalismo jurídico que infelizmente é orientador do sistema jurídico, onde centenas de juizes, se por ignorância ou não, vão decidindo favoravelmente à injustiça sob pretexto de estarem a servir ao direito.
Sendo as leis, ou o próprio direito, produtos da vontade social, eles só podem ser usados ou aplicados quando sirvam os interesses da própria sociedade, sob pena de estarmos a inverter os valores. A racionalidade intelectual não deve nunca sobrepor-se às pessoas reais. É o direito que serve à pessoas e a justiça e não o contrario.Esse deve ser também o objectivo principal de qualquer judiciário: assegurar a justiça entre as pessoas ou grupos de pessoas, mesmo que isso signifique abdicar de certas normas quando necessário.

texto de Custódio Duma

Série - True Blood


À exemplo do cultuado "Entrevista com Vampiro" da escritora Anne Rice, a série da HBO "True Blood" do roteirista Alan Ball também foi ambientado na Louisiana, um do mais pitorescos estados da América, uma versão terceiro-mundista dos EUA, com sua herança francesa, sua cultura cajun e creole, sua reliosidade (do voodoo ao pentecostalismo) e seu ambiente peculiar (pântanos), cuja precariedade e pobreza revelada ao mundo pela tragédia do furacão Katrina.
Numa nova era de evolução científica, os vampiros conseguiram deixar de ser monstros lendários parase tornarem cidadãos comuns. Essa mudança, que aconteceu do dia para a noite, deve-se a cientistas japoneses,que inventaram um sangue sintético, fazendo com que os humanos deixassem de ser o seu prato principal.Já os humanos ainda não se sentem totalmente seguros convivendo lado a lado com toda a legião de vampirosque está saindo de seus caixões. Ao redor do mundo, cada um escolheu o seu lado a favor ou contra essarevolução, mas numa pequena cidade de Lousiana, as pessoas ainda estão formando a sua opinião. Sookie,garçonete de um pequena lanchonete, tem o poder de ouvir os pensamentos das pessoas e não vê problemas na integração desses novos membros à sociedade, principalmente quando se trata de Bill Compton, um atraentevampiro de 173 anos de idade. Mas ela pode vir a mudar de opinião, à medida que desvenda os mistérios queenvolvem a chegada de Bill em sua cidade. Mergulhe no mundo obscuro desse novo drama envolvente, que saiudas mãos do mesmo criador de "Six Feet Under", Alan Ball. Uma nova sociedade está se formando e cada umprecisa escolher a sua posição dentro dela.

Piratas - Além da Lei

Relato do escritor Daniel Defoe sobre a façanha de Bellamy que após tomar um navio da Real Esquadra, convidou o capitão a fazer parte da turma. Diante da negativa, discursou:
- "Eu sou um príncipe livre e você um cachorrinho servil, e assim são todos aqueles que se submetem a ser governados por leis que os homens ricos fazem para sua própria segurança; pois os covardes não têm coragem nem para defender eles mesmos o que conseguiram por vilania; mas danem-se todos vocês: danem-se eles, um monte de patifes astutos e vocês, que os servem, um bando de corações de galinha cabeças ocas. Eles nos difamam, os canalhas, quando há apenas esta diferença: eles roubam os pobres sob a cobertura da lei, sem dúvida, e nós roubamos os ricos sob a proteção de nossa própria coragem. Não é melhor tornar-se então um de nós, em vez de rastejar atrás desses vilões por emprego?"

Em seu livro Villans Of All Nations, o historiador Marcus Rediker começa a revelar segredos muito importantes.Se você fosse mercador ou marinheiro empregado nos navios mercantes naqueles dias - se vivesse nas docas do East End de Londres, se fosse jovem e vivesse faminto - você fatalmente acabaria embarcado num inferno flutuante, de grandes velas. Teria de trabalhar sem descanso, sempre faminto e sem dormir. E, se rebelasse, lá estavam o todo-poderoso comandante e seu chicote [ing. the Cat O' Nine Tails, lit. "o Gato de nove rabos"].

Se você insistisse, era a prancha e os tubarões. E ao final de meses ou anos dessa vida, seu salário quase sempre lhe era roubado.Os piratas foram os primeiros que se rebelaram contra esse mundo.Amotinavam-se nos navios e acabaram por criar um modo diferente de trabalhar nos mares do mundo. com os motins, conseguiam apropriar-se dos navios; depois, os piratas elegiam seus capitães e comandantes, e todas as decisões eram tomadas colectivamente; e aboliram a tortura.Os butins eram partilhados entre todos, solução que, nas palavras, foi "um dos planos mais igualitários para distribuição de recursos que havia em todo o mundo, no século 18".

Acolhiam a bordo, como iguais, muitos escravos africanos foragidos. Os piratas mostraram "muito claramente - e muito subversivamente - que os navios não precisavam ser comandados com opressão e brutalidade, como fazia a Marinha Real Inglesa." Por isso eram vistos como heróis românticos, embora sempre fossem ladrões improdutivos.As palavras de um pirata cuja voz perde-se no tempo, um jovem inglês chamado William Scott, volta a ecoar hoje, nessa pirataria new age que está em todas as televisões e jornais do planeta. Pouco antes de ser enforcado em Charleston, Carolina do Sul, Scott disse: " O que fiz, fiz para não morrer. Não encontrei outra saída, além da pirataria, para sobreviver".
PS. Eu me divirto com a pirataria porque é o ruído do sistema! Não vejo crise ética nisso, vejo apenas a contradição do sistema em mais uma de suas varições.

sábado, 15 de agosto de 2009

Lúdico

Homenagem à infância
Fotógrafo brinca com o mundo da imaginação

Uma fada voa atraída pela doce música da flauta. Piratas procuram tesouros escondidos no fundo do mar. O árabe viaja em seu tapete voador. Ou atravessa o deserto no lombo de um cachorro. Difícil não se encantar com o ensaio Dreams of Flying (Sonhando em voar), uma homenagem à infância, do fotógrafo alemão Jon von Holleben. Para produzir estas imagens, inspiradas nos contos clássicos infantis e nos super-heróis modernos, Jon convocou a molecada da sua vizinhança – e nem precisa dizer que eles se divertiram horrores. “Queria mostrar que é possível sim materializar nossos sonhos”, diz Jon, que viveu numa comunidade alternativa no sul da Alemanha e se inspirou no trabalho de sua mãe, uma terapeuta infantil.

Muito da graça das fotos está no cenário de fundo: diversos tipos de chão. Ora um gramado verdejante, ora a areia ondulada da praia, ora a aspereza do asfalto. Deitadas nesses cenários simples de tudo, crianças parecem voar, saltar e mergulhar. O resultado é uma viagem ao mundo da fantasia, da ingenuidade, da aventura e da diversão – características nobres da nossa meninice que, sabe-se lá por quê, se tornam escassas com a idade. Num olhar nu e cru do poeta Álvaro de Campos (o heterônimo dramático de Fernando Pessoa), estas são qualidades que enterramos com o passar dos anos: “temos todos duas vidas:/ a verdadeira, que é a que sonhamos na infância,/e a que continuamos sonhando, adultos, num substrato de névoa;/(...) e a falsa, que é a prática, a útil, aquela que acaba por nos meter num caixão”. Daí que as imagens de Jon produzem certo efeito pirlimpimpim que nos leva a esse onírico – e possível – mundo da imaginação.






















domingo, 9 de agosto de 2009

Thom Yorke


Just a Fest Apoteose Rio de Janeiro
Thomas Edward "Thom" Yorke, nascido em 07 de outubro de 1968, é o vocalista e compositor da banda britânica de rock alternativo Radiohead. Geralmente, toca guitarra, piano.
Uma sinfonia vale mais que três acordes dos Ramones ou que o Moonwalk de Michael Jackson?
Inovação e liberdade são as coisas mais importantes da arte. E hoje você encontra as duas qualidades mais na música pop que na música clássica. Alguns expoentes da música pop estão sabendo absorver elementos da música erudita e transformar isso em novo. O Radiohead quebra a barreira entre alta cultura e música pop. Eles unem eletrônica com versos densos e fragmentos poéticos. Kid A e Amnesiac, discos que a banda lançou respectivamente em 2000 e 2001, soam ainda hoje como uma trilha sonora para alienígenas.







sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Povos menos religiosos são mais satisfeitos

O que seria de nossas sociedades se Deus simplesmente não existisse para grande parte da população?

Essa foi uma das perguntas que o sociólogo norte-americano Phil Zuckerman certamente tinha em mente ao dar início à sua mais recente pesquisa, que o levou a morar por mais de um ano na Escandinávia, especificamente na Dinamarca e na Suécia. Na bagagem, levava uma pergunta desafiante: como esses dois países, considerados os menos religiosos do mundo em todas as pesquisas prévias, podiam ser os que possuíam os mais altos índices de qualidade de vida, com economias fortes, baixas taxas de criminalidade, alto padrão de vida e igualdade social (em resumo, “contentment”, contentamento, satisfação, como ele chamou no subtítulo de seu livro)?
Zuckerman tinha ainda outro objetivo, mostrar que, mesmo sem Deus, “é possível que uma sociedade seja forte, saudável, moral e próspera, afinal a ética é essencialmente laica".

O resultado de sua viagem foi recém publicado em livro, pela New York University Press, intitulado "Society Without God – What the Least Religious Nations Can Tell Us About Contentment" [Sociedade sem Deus – O que as nações menos religiosas podem nos dizer a respeito da satisfação].


A entrevista:

IHU On-Line – Como você realizou a sua pesquisa na Escandinávia? Qual foi a sua intenção e as suas principais descobertas?
Phil Zuckerman – A maioria dos norte-americanos pensa que qualquer sociedade que deixa de louvar a Deus ou de colocá-Lo no centro de sua cultura será condenada – e que, sem uma religião forte, um país se desintegrará no caos, no crime e na imoralidade. Eu quis mostrar que isso não é necessariamente verdade. Eu quis mostrar aos meus conterrâneos norte-americanos que é possível que uma sociedade seja relativamente irreligiosa e, ainda assim, forte, saudável, moral e próspera.
Há mais ou menos quatro anos, a Cambridge University Press me pediu para escrever um capítulo de um livro a respeito de quantos ateus existem no mundo. Então, eu passei cerca de seis meses procurando por todas as pesquisas nacionais e internacionais que eu pudesse encontrar. No fim, as pesquisas mostraram que a Dinamarca e a Suécia são, talvez, os países mais irreligiosos do mundo. Muitas pessoas, na Dinamarca e na Suécia, dizem acreditar em Deus, mas muito poucas dão importância a essa crença. Muito poucas pessoas rezam a Deus, ou acreditam que o Deus literal da Bíblia é real, ou acreditam que a Bíblia é divina.
Esses países têm os menores índices de crença na vida após a morte, na ressurreição de Jesus, no céu e no inferno etc. Além disso, têm os menores índices do mundo em termos de participação semanal na igreja. E mesmo assim, apesar de tudo isso, estão entre as sociedades mais prósperas, igualitárias, civilizadas e humanas da Terra. Quando olhamos os níveis de sucesso social, da alfabetização à expectativa de vida, da igualdade de gênero aos padrões ambientais, da saúde à democracia, da criminalidade aos cuidados com os mais velhos e com as crianças, as nações da Dinamarca e da Suécia estão no topo da lista.
Em resumo, a Dinamarca e a Suécia provam que é possível que as sociedades sejam relativamente não-religiosas e ainda assim muito honestas e boas. Eu quis que os meus conterrâneos norte-americanos soubessem disso.
Para entender melhor a falta de religião na Escandinávia, assim como melhor compreender a cultura de lá, eu vivi na Dinamarca durante 14 meses, em 2005-2006. E, durante esse tempo, eu realizei entrevistas em profundidade com dinamarqueses e suecos de todas as classes sociais. Essas entrevistas me permitiram ir mais fundo do que os dados das pesquisas e realmente tentar entender o secularismo escandinavo.
Minhas descobertas principais: dinamarqueses e suecos são, de fato, muito seculares. E, mesmo que eles não tenham crenças religiosas fortes, geralmente são muito satisfeitos. Não acreditam na vida após a morte, mas mesmo assim eles ainda levam vidas repletas e valiosas. E não acham que exista um “significado religioso último” para a vida, e mesmo assim eles ainda aproveitam o seu tempo aqui na Terra e fazem o melhor que podem com ele. Finalmente, eu tentei entender por que essas nações são tão contrárias à religião e em que sentido elas são diferentes dos Estados Unidos no que se refere à religião e à cultura política.

IHU On-Line – Em que sentido a falta de religião está ligada à satisfação das sociedades da Dinamarca e da Suécia?
Phil Zuckerman – A Dinamarca está no topo de todas as pesquisas internacionais que se referem à felicidade. A Suécia também está bem lá em cima. Os dinamarqueses e os suecos parecem ser pessoas razoavelmente satisfeitas. Isso está ligado à falta de religião deles? É difícil dizê-lo. É ainda mais difícil prová-lo. Eu não acho que uma falta de religião, por si só, faça com que os dinamarqueses e os suecos se sintam felizes ou satisfeitos. Pelo contrário, nós só temos que notar que a falta de religião ou a falta de uma conexão forte com Deus parece não levar ao desespero, à depressão, à tristeza ou à apatia. Em outras palavras, a falta de uma fé forte não causa necessariamente a felicidade, mas também não é uma barreira ou um impedimento.

IHU On-Line – Você não concorda que, de certa forma, essas sociedades alcançaram esse bem-estar social por um substrato cristão de raízes antiqüíssimas? O inconsciente coletivo cristão que acompanhou o desenvolvimento dessas sociedades não teve importância nesse sentido?
Phil Zuckerman – Definitivamente. Não se questiona que certos valores cristão, ao longo dos séculos, ajudaram a dar forma a esses estados de bem-estar social. Não se questiona que os ensinamentos de Lutero tiveram o seu papel, assim como a visão religiosa de Grundtvig. Entretanto, devemos ser cuidadosos por diversas razões.
Primeiro, aqueles que construíram o estado de bem-estar social tendiam a ser democratas sociais seculares, que eram, muitas vezes, anti-religiosos. Não foram os dinamarqueses e suecos fortemente religiosos que construíram o estado de bem-estar social. Então, parece um pouco injusto dar muito crédito ao cristianismo, quando foram os dinamarqueses e suecos seculares que verdadeiramente criaram as nações modernas e prósperas da Dinamarca e da Suécia que nós hoje admiramos.

IHU On-Line – Em uma sociedade religiosa, os valores humanos estão baseados em uma concepção que vai além do próprio humano, chegando a Deus. Em que estão baseados os valores humanos em uma sociedade irreligiosa?
Phil Zuckerman – Simples: no valor fundamental da vida humana, afinal a ética é essencialmente laica. Os dinamarqueses e os suecos têm um respeito muito forte pela dignidade humana. Eles criaram sociedades com as menores taxas de pobreza do mundo, as menores taxas de crimes violentos do mundo e o melhor sistema de educação e de saúde do mundo. Eles fizeram isso não como uma tentativa de agradar ou alcançar Deus, mas porque vêem um valor manifesto na vida humana e acreditam que o sofrimento é um mal em e além de si mesmo.
Não é necessário acreditar em Deus para acreditar na justiça. De fato, se poderia argumentar que aqueles que acreditam fortemente em Deus podem ser mais indiferentes e assumir que “tudo está nas mãos de Deus”, enquanto que os seculares sabem que a possibilidade de construir uma vida e um mundo melhores está nas mãos deles e apenas deles. Então, os dinamarqueses e os suecos contaram apenas com o seu próprio esforço – não com orações a Deus.

IHU On-Line – Podemos assumir que uma sociedade irreligiosa não é a garantia do inferno na terra. Porém, quais seriam suas principais limitações e problemas sociais? Quais seriam suas causas?
Phil Zuckerman – Nenhum país é livre de problemas. Nenhuma sociedade é livre de quaisquer erros ou fraquezas. Sim, existem problemas na Dinamarca e na Suécia. Mas eu diria que, independentemente de quais sejam esses problemas, eles comumente são piores em qualquer outro lugar. Quais limitações ou problemas podem surgir em sociedades seculares? Eu não posso dizer com certeza. Eu não tenho resposta.

IHU On-Line – Em seu livro, você afirma que uma “sociedade sem Deus não é apenas possível, como também pode ser moral, próspera e completamente agradável”. Essa é apenas uma constatação ou também uma sugestão? Sua intenção é defender e propor uma sociedade ateísta?
Phil Zuckerman – Eu não tenho nenhum desejo de propor uma sociedade ateísta. Eu acho que a religião pode ser uma coisa boa e moral. Eu acho que a religião oferece histórias e rituais maravilhosos, que os líderes religiosos ajudam as pessoas durante tempos difíceis ou nos ritos de passagem e que a religião – como qualquer criação humana – pode, às vezes, ser uma força potencial do bem no mundo. Eu não estou recomendando que as sociedades se tornem seculares. Eu estou simplesmente tentando mostrar ao mundo que o secularismo não é um mal em ou além de si mesmo, que a religião não é o ÚNICO [sic] caminho para se criar uma sociedade saudável e que precisamos reconhecer que as nações mais religiosas hoje são as mais caóticas, miseráveis e corruptas, e a tendência é que as sociedades menos religiosas hoje sejam as mais estáveis, seguras e humanas. As pessoas podem fazer o que quiserem com essas informações.

IHU On-Line – Na sua opinião, qual a explicação para a grande maioria da população que se considera religiosa em países como o Brasil? Seríamos menos “satisfeitos”?
Phil Zuckerman – Eu não sei se as pessoas são menos satisfeitas e contentes no Brasil por si sós (todo brasileiro que eu já conheci era muito feliz e satisfeito!). O que eu sei é que, no Brasil, vocês têm taxas de pobreza e de criminalidade mais altas, níveis muito altos de desigualdade, de corrupção política, um sistema de saúde mais pobre, uma igualdade de gênero mais fraca etc. Vocês têm centenas de milhares de desabrigados vivendo nas ruas, dezenas de milhares de crianças pedindo comida etc. Claro, vocês também têm Milton Nascimento e Os Mutantes. Então, quem pode reclamar?

IHU On-Line – E nos EUA mesmo, país plenamente “satisfeito” em termos sociais, como o senhor explica a grande expansão de seitas cristãs?
Phil Zuckerman – Explicar a religião nos EUA é um assunto de grande importância – e eu abordo isso no meu livro. Em poucas palavras, os altos índices de religiosidade nos EUA têm a ver com o seguinte: a religião é pesadamente comercializada e agressivamente “vendida” aqui. Nós também temos altas taxas de pobreza, de criminalidade e de desigualdade, nós também temos altos índices de diversidade racial e étnica e um excesso de comunidades imigrantes – tudo isso contribui com a nossa forte religiosidade aqui nos EUA.

IHU On-Line – Em seu livro, você diferencia o ateísmo ditatorial e o democrático, assim como a religiosidade ditatorial e a democrática. Em que se fundamenta essa diferenciação?
Phil Zuckerman – Simples: o ateísmo é forçado sobre a população ou não? Na antiga URSS, a religião se tornou virtualmente ilegal, e as pessoas que eram fortemente religiosas enfrentaram todos os tipos de punições possíveis, incluindo a tortura e a prisão. Esse também foi o caso da Albânia. E da Coréia do Norte. Se uma sociedade é regida por fascistas que impõem o ateísmo sobre uma população relutante, ele não é orgânico. É forçado. Entretanto, se olharmos os países democráticos onde a religião é simplesmente abandonada pelas pessoas livremente ao longo do tempo e sem nenhuma coerção governamental (como na Grã-Bretanha, nos Países Baixos, na Escandinávia etc.), então podemos dizer que esse é um secularismo mais orgânico, verdadeiro, livre e honesto.

domingo, 2 de agosto de 2009

Justiça dá um pequeno passo para se moralizar...

Quando começamos a perder a esperança sobre os rumos mercantilistas que o judiciário vem tomando nos últimos anos, eis que o STJ nos surpreende e edita uma súmula no sentido de moralizar os juizados e varas:

Súmula385
Órgão Julgador
S2 - SEGUNDA SEÇÃO
Data do Julgamento 27/05/2009
Data da Publicação/Fonte
DJe 08/06/2009
Enunciado
Da anotação irregular em cadastro de proteção ao crédito, não cabe indenização por dano moral, quando preexistente legítima inscrição, ressalvado o direito ao cancelamento.

Isso significa que agora o consumidor que for indevidamente incluído em cadastros de inadimplentes, no caso de já possuir outros anotações nesses cadastros restritivos de crédito, não faz juz ao recebimento de indenização por danos morais em razão da negativação indevida do nome. Isso põe fim a enxurrada de ações e pedidos de indenizações de danos morais de pessoas que já estão com o nome mais sujo do que pau de galinheiro com até dezenas de anotações restritivas que mesmo assim eram indenizadas por uma única indevida. Ora, se já havia inscrição legítima anterior, não há que se falar em dano, afinal, já havia restrição.
Resta saber como irão se comportar os judiciários estaduais, conhecidos patrocinadores da locupleção e malandragem.

Damien Hirst

Os novos artistas plásticos ingleses parecem executivos dos anos 80. São jovens, ambiciosos, cheios de atitude. Símbolo de todo um movimento batizado YBAs (Young British Artists), Damien Hirst, 44 anos, é o Andy Warhol do século 21. Execrado por parte da crítica - "É arte atrelado ao midiático, ao mercado; o conceito aí é o que menos importa", afirma o crítico Ricardo Resende - Hirst vem chamando atenção por ter a morte como tema recorrente de seus trabalhos e pelos milhões que o transformaram no mais valorizado artista vivo. Uma de suas obras mais famosas, A impossibilidade física da morte na mente de alguém vivo, um tubarão conservado em formol dentro de uma redoma de vidro, foi vendido por seis milhões de libras. "Hirst age no limite", diz o crítico Thiago Mesquita. "Ele tem consistência no uso dos objetos e um discurso poético muito forte".





Banksy

Nascido em Bristol (1975), Banksy iniciou seus trabalhos em stencil aos 14 anos, foi expulso da escola e preso por pequenos delitos. Sua identidade é incerta, não costuma dar entrevistas e fez da contravenção uma constante em seu trabalho, sempre provocativo. Os pais dele não sabem da fama do filho: "Eles pensam que sou um decorador e pintor". Recentemente, ele trocou 500 CDs da cantora Paris Hilton por cópias adulteradas em lojas de Londres, e colocou no parque de diversões Disney uma estátua-réplica de um prisioneiro de Guantánamo.
Suas obras são carregadas de conteúdo social expondo claramente uma total aversão aos conceitos de autoridade e poder. Em telas e murais faz suas críticas, normalmente sociais, mas também comportamentais e políticas, de forma agressiva e sarcástica, provocando em seus observadores, quase sempre, uma sensação de concordância e de identidade. Apesar de não fazer caricaturas ou obras humorísticas, não raro, a primeira reação de um observador frente a uma de suas obras será o riso. Espontâneo, involuntário e sincero, assim como suas obras.