A primeira vez que fui a São Paulo em 2006, foi meio que obrigado. Pouca gente vai a São Paulo espontaneamente, quase todo visitante vai cumprir algum compromisso, sem nenhum interesse pela cidade, era o meu caso. Tinha que assistir a um seminário da minha área acadêmica no Shopping Frei Caneca e cumprir o roteiro de palestras inscritas nos três dias de duração, só restou me aventurar pela cidade de pedra nos horários vagos.
No próprio seminário começa a minha PRIMEIRA decepção. Tinha mais caráter de evento comercial do que intelectual. Os temas abordados eram até insignificantes embora distribuisse "títulos" para os palestrantes. Procurei no próprio hotel (também na Frei Caneca) informações sobre a cidade e me foi dado um folheto oficial com a sugestão de vários passeios e atrações.
Meu primeiro passeio foi na Av Paulista, bem perto do hotel. A Avenida foi minha SEGUNDA decepção, um corredor de palitos de concreto cinzento de arquitetura pobre e banal, sem nenhuma construção digna de nota. Pode impressionar o interiorano de Ribeirão Preto, Londrina e Cuiabá, mas são apenas prédios banais para quem tenha um pouco mais de cosmopolitismo. Restou visitar o Masp, um museu formado por um nordestino radicado no Rio (Assis Chateubriand) para levar um pouco de civilização àquela cidade, então provinciana. Foi a minha TERCEIRA decepção, o museu estava fechado porque não tinha dinheiro para pagar a conta de luz !!!!
No dia seguinte, após as palestras do seminário na manhã peguei o metrô para almoçar no Centrão e visitar a Luz e a Liberdade. Minha impressão sobre as estações do metro paulistano foi favorável, embora tivesse um ar claustrofóbico, escuro e abafado, muito diferente do ambiente claro e amplo das estações cariocas com trens refrigerados.
Soltei na estação da Sé, e tive a minha QUARTA decepção, uma visão digna do inferno de Dante: um batalhão de mendigos vivia na principal praça da cidade !! Alguns estavam com roupas íntimas, cuecas e soutians, outros discutiam e gritavam e havia fezes humanas pela praça !! Ainda chocado, olhei rapidamente para a fachada da catedral da cidade e registrei a minha QUINTA decepção. A igreja da Sé era nada mais do que um pastiche imitando mal e porcamente o gótico, estilo anterior até mesmo da descoberta do Brasil. Valor histórico e cultural Zero.
Desisti de entrar na igreja pedi e informação sobre a direção do bairro japonês.
A Liberdade foi a minha SEXTA decepção, era um bairro mais nordestino do que japonês, cheio de lojinhas de quinquilharias falsificadas e contrabandeadas made in china.
Voltei frustrado ao hotel e à noite fui de taxi ao Bixiga comer uma suposta pizza "legítima" com duas colegas participantes do seminário, uma brasiliense e uma catarinense, que estavam hospedadas no mesmo hotel.
Foi a minha OITAVA decepção. A cantina era famosa, indicada pelo próprio hotel. Mas a pizza era ordinária, não muito diferente das pizzas vendidas em qualquer padaria do Brasil, e ainda tinha sachês de ketchup na mesa. Após comentar fotos de Veneza e Milão na decoração da cantina, foi que minha colega catarinense revelou que a italianada paulista era originária do sul da Itália, uma região que até os anos 60 tinha índices africanos de desenvolvimento. Inclusive a Santa da Igreja de Achiropita - bem perto da cantina - era também a padroeira da máfia calabresa !! Fechou o jantar com a frase: "o italiano paulista é um calabrês que pensa que é milanês".
No dia seguinte novamente palestras de manhã e tarde livre. Voltei ao Centrão para tirar a má-impressão, mas as decepções continuaram. A NONA decepção foi almoçar no Mercadão, localizado num entorno com prédios podres e pixados. Me indicaram um sanduíche de mortadela, um embutido indigesto e ordinário em qualquer lugar do planeta, mas que é considerado chique em São Paulo. A gororoba me provocou uma azia que durou o resto da tarde.
Peguei um táxi até a Luz, outra região caindo aos pedaços ao lado da Cracolândia, para visitar o recém inaugurado Museu da Língua Portuguesa e foi a minha DÉCIMA decepção. O Museu não era um Museu !!! Era um logro audiovisual parecido com o programa Fantástico da Globo. Ralo e Raso é pouco. Se quer saber sobre a língua portuguesa: Não perca seu tempo com o pseudo museu, vá ler qualquer livro que é muito mais proveitoso.
Sei que não conheci nem 1% da cidade, mas se os passeios recomendados pelos guias oficiais de turismo são tão decepcionantes, eu não quero nem pensar no que eles deixaram de dar evidencia. O que vi foi suficiente para não ter nenhuma vontade de voltar.
Ps. Depois de 2006 voltei outras vezes a São Paulo para visitar queridos amigos)..