sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Consumo.. Logo Existo..


Ao visitar uma obra social, um morador contou que na infância, vivida ali na pobreza, ele não conheceu a fome. Havia sempre um pouco de farinha, feijão, frutas e hortaliças. "Quem trouxe a fome foi a geladeira", disse. O eletrodoméstico impôs à família a necessidade do supérfluo: refrigerantes, sorvetes etc. A economia de mercado, centrada no lucro e não nos direitos da população, nos submete ao consumo de símbolos. O valor simbólico da mercadoria figura acima de sua utilidade. Assim, a fome a que se refere o morador é inelutavelmente insaciável.

Marx já havia se dado conta do peso da geladeira. Nos "Manuscritos econômicos e filosóficos" (1844), ele constata que “o valor que cada um possui aos olhos do outro é o valor de seus respectivos bens. Portanto, em si o homem não tem valor para nós." O capitalismo de tal modo desumaniza que já não somos apenas consumidores, somos também consumidos. As mercadorias que me revestem e os bens simbólicos que me cercam é que determinam meu valor social. Desprovido ou despojado deles, perco o valor, condenado ao mundo ignaro da pobreza e à cultura da exclusão.

Para o povo maori da Nova Zelândia cada coisa, e não apenas as pessoas, tem alma. Em comunidades tradicionais de África também se encontra essa interação matéria-espírito. Ora, se dizem a nós que um aborígene cultua uma árvore ou pedra, um totem ou ave, com certeza faremos um olhar de desdém. Mas quantos de nós não cultuam o próprio carro, um celular, um determinado vinho guardado na adega, uma jóia?

Assim como um objeto se associa a seu dono nas comunidades tribais, na sociedade de consumo o mesmo ocorre sob a sofisticada égide da grife. Não se compra um vestido, compra-se um Prada; não se adquire um carro, e sim uma BMW; não se bebe um vinho, mas um Château Margaux. A roupa pode ser a mais horrorosa possível, porém se traz a assinatura de um famoso estilista a gata borralheira transforma-se em cinderela...Somos consumidos pelas mercadorias na medida em que essa cultura nos faz acreditar que delas emana uma energia que nos cobre como uma bendita unção, a de que pertencemos ao mundo dos eleitos, dos ricos, do poder. Pois a avassaladora indústria do consumismo imprime aos objetos uma aura, um espírito, que nos transfigura quando neles tocamos. E se somos privados desse privilégio, o sentimento de exclusão causa frustração, depressão, infelicidade.

Não importa que a pessoa seja imbecil. Revestida de objetos cobiçados, é alçada ao altar dos incensados pela inveja alheia. Ela se torna também objeto, confundida com seus apetrechos e tudo mais que carrega nela, mas não é ela: bens, cifrões, cargos etc.

Comércio deriva de "com mercê", com troca. Hoje as relações de consumo são desprovidas de troca, impessoais, não mais mediatizadas pelas pessoas.Outrora, a quitanda, o boteco, a mercearia, criavam vínculos entre o vendedor e o comprador, e também constituíam o espaço das relações de vizinhança, como ainda ocorre na feira.

Agora o supermercado suprime a presença humana. Lá está a gôndola abarrotada de produtos sedutoramente embalados. Ali, a frustração da falta de convívio é compensada pelo consumo supérfluo. "Nada poderia ser maior que a sedução" - diz Jean Baudrillard - "nem mesmo a ordem que a destrói." E a sedução ganha seu supremo canal na compra pela internet. Sem sair da cadeira o consumidor faz chegar à sua casa todos os produtos que deseja.Vou com freqüência a livrarias de shoppings. Ao passar diante das lojas e contemplar os veneráveis objetos de consumo, vendedores se acercam indagando se necessito algo. "Não, obrigado. Estou apenas fazendo um passeio socrático", respondo. Olham-me intrigados. Então explico: Sócrates era um filósofo grego que viveu séculos antes de Cristo. Também gostava de passear pelas ruas comerciais de Atenas. E, assediado por vendedores como vocês, respondia: "Estou apenas observando quanta coisa existe de que não preciso para ser feliz".

Frei Betto

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Dinamarca - O País mais Feliz do Mundo


Em julho de 2008, um pesquisador da Universidade de Leicester, na Inglaterra, divulgou um ranking dos países mais felizes do mundo depois de analisar dados de diversas fontes. O relatório concluía que os fatores econômicos relacionados com o sistema de saúde, padrões de vida e acesso à educação básica eram características determinantes da atitude geral dos países.
A Dinamarca, com seus sistema de saúde gratuito, um dos PIBs per capita mais altos do mundo, e escolas públicas de qualidade, veio em primeiro lugar.
O estudo concluiu que os parâmetros mais seguros para medir o bem-estar de um país são a liberdade de escolha sobre como levar a vida, o encorajamento à igualdade de gêneros, e a tolerância às minorias. Novamente, em todos os aspectos, a Dinamarca levou o primeiro prêmio.



O que a Dinamarca tem que nós não conseguimos compreender?

Atingir o equilíbrio certo é provavelmente o que mais destaca o país, sugere Kiilerich, do Visite a Dinamarca. A felicidade na maior parte das sociedades nórdicas, que ficaram em boa colocação nas listas dos países mais felizes em ambos os estudos, é conseqüência de uma combinação inefável de força econômica e programas sociais.
O modelo da Dinamarca se baseia em impostos altos e numa agressiva redistribuição de riqueza —uma maldição para muitos americanos defensores do mercado-livre— que resulta numa ampla variedade de serviços sociais como a saúde, aposentadorias, e escolas públicas de qualidade.
E mesmo assim, o país conseguiu fazer com que esse modelo funcionasse sem impedir o crescimento econômico ou os incentivos para crescer. "A Dinamarca tem uma cabeça e um coração", diz Kiilerich.



As fortes redes de segurança social que sustentam os cidadãos dinamarqueses do nascimento até a morte também são abertas para os estrangeiros. Kate Vial, uma americana de 55 anos que morou e trabalhou na Dinamarca por mais de 30 anos, desistiu de várias oportunidades para voltar aos EUA ao longo dos anos, preferindo criar seus três filhos na Dinamarca.
Vial sabe que nunca será rica, mas disse que valoriza a família, a possibilidade de viajar, e a simples segurança econômica acima de tudo. "Eu basicamente escolhi um estilo de vida mais simples, em que eu posso ir a todo lugar de bicicleta e onde não tenho que ganhar muito dinheiro para sobreviver", diz.


Imprensa Barriguda

Título original "A barriga da Globo quase compromete o Brasil"
Por Rui Martins, de Berna (Suíça) em 13/2/2009

A moça brasileira tinha seus problemas e provavelmente se autoflagelou. É triste.
Mais triste é o quadro da nossa imprensa irresponsável que mobilizou o país, levou o ministro das Relações Exteriores Celso Amorim a criticar um país amigo e o presidente Lula a quase criar um caso diplomático. É hora de denunciar a nossa grande imprensa sem deontologia, sem investigação, que afirma e desafirma sem qualquer cuidado e sem checar as notícias.
A agressão racista contra Paula Oliveira não foi um noticiário iniciado em Zurique, local da suposta agressão. Estourou no Brasil, detonada por um pai – e isso é muito compreensível – preocupado com sua filha distante. E a maior rede de televisão do Brasil, a Globo, vista por mais de uma centena de milhões de brasileiros, não teve dúvidas em transformar o caso na grande manchete do dia, fazendo com que outros milhões de brasileiros, no exterior, já acuados pela Diretiva do Retorno, se solidarizassem e imaginassem passeatas e manifestações.
Essa é a maior "barriga" da história do nosso jornalismo, que revela o descalabro a que chegamos em termos de informação ou desinformação. Equivale ao conto do vigário de Bernard Madoff, ou das subprimes do mercado imobiliário americano. Só que o Madoff está preso, mesmo sendo prisão domiciliar e vivemos uma crise econômica, em consequência dos desmandos dos bancos americanos. Mas o que vai acontecer com a TV Globo e todos quantos foram atrás ? Nada, vai ficar por isso mesmo.

Nacionalismo ofendido
Como um órgão de imprensa de tanta penetração pode se permitir divulgar com estardalhaço um noticiário de muitos minutos, reproduzido online, repicado por jornais, rádios e copiado por outras televisões sem primeiro checar no local? Que jornalismo é esse que se faz sem qualquer investigação, sem se ouvir as partes envolvidas? Sem deslocar antes um repórter para Zurique e entrevistar também o policial responsável pela ocorrência? Sem ouvir a própria envolvida, fiando-se apenas no relato de um pai desesperado? Sem pedir a opinião de um especialista em ferimentos e escoriações?
Quem vai pagar o dano moral causado a essa jovem, que sem querer se tornou primeira página nos jornais? Quem vai desfazer o ridículo ao que se submeteu o nosso ministro Celso Amorim, que, baseado num noticiário de "foca" em jornalismo, sem ouvir acusação e acusado, ofendeu um país amigo exigindo que prestasse contas em Brasília por um noticiário tipo cheque sem fundo? Quem assume o fato de quase levar nosso presidente a ficar vermelho de vergonha por se basear em noticiário sem crédito, com o mesmo valor de uma ação do banco Lehmann?
E mais – o dano sofrido pela Suíça, em termos de imagem, justamente quando seu povo tinha justamente votado em favor dos imigrantes, quem vai reparar?
Essa "barriga" da Globo, secundada pela grande imprensa, é prova do se vem dizendo há algum tempo – não há credibilidade nessa mídia. Publica-se, transmite-se qualquer coisa, e quanto mais sensacionalista melhor. Não há responsabilidade no caso de erros, de noticiário mentiroso: vale tudo, o papel aceita tudo, a televisão transmite qualquer coisa, desde que dê Ibope – e existe melhor coisa que nacionalismo ofendido? É o que os franceses chamam de presse de boulevard, mentirosa, tendenciosa, com a opinião ao sabor das publicidades que se publicam. Sem jornalismo investigativo, sem confirmar as fontes, sem ouvir as opiniões divergentes.

Para a história
Vão pedir a cabeça do redator-chefe? Não, assim que se recuperarem da "barriga", da irresponsabilidade cometida, da vergonha diante dos colegas, vão jogar tudo em cima da pobre jovem, que deve ter seus problemas e que a nós não compete saber, isso é vida privada, não é Big Brother.
É essa mesma imprensa marrom, que induz nossos dirigentes ao erro, que também publica qualquer coisa contra o que chamam de "assassino desalmado" Cesare Battisti. A irresponsabilidade de imprensa é o pior inimigo da liberdade de imprensa, porque pode provocar reações legislativas limitando os descalabros cometidos.
Escrever num jornal, falar numa rádio ou numa televisão e mesmo manter um blog constitui uma responsabilidade social. Não se pode valer dessa posição para se difundir boatos, nem inverdades, nem ouvir-dizer; é preciso ir checar, levantar o fato, mencionar ou desfazer as dúvidas e suspeitas existentes. É também preciso se garantir o direito de ser mencionada a versão da parte acusada para evitar a notícia tendenciosa.
A "barriga" da Globo vai ficar na história do nosso jornalismo, será sempre lembrada nos cursos de comunicações, tornou-se antológica, e nela estão entalhadas, por autoflagelação, as palavras que a norteiam – sensacionalismo, irresponsabilidade e abuso do seu poder.
Existem, sim, problemas contra nossos emigrantes em diversos países, principalmente depois da criação da Diretiva do Retorno pelo italiano Silvio Berlusconi. Diariamente brasileiros são presos e mandados de volta na Espanha, mas isso não mobiliza a nossa imprensa, não dá Ibope.

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Alan Turing - O Pai do Computador

Aperta-se o botão de ligar, uma luz acende no gabinete. Um zumbido agudo, do disco rígido que ganha impulso de giro, faz com que o software comece a ser carregado no computador e que o monitor se ilumine. A máquina de Turing ganha vida todo dia, toda hora, todo segundo, e há sessenta anos sua descrição era uma proposta excêntrica, salpicada de equações, que quase ninguém entendeu onde podia chegar.
Não é à toa que o novo livrinho da série "em 90 minutos" da editora Jorge Zahar chama-se "Turing e o computador". O matemático inglês Alan Turing, herói de guerra, homossexual assumido, atlético, suicida, excêntrico e praticamente desconhecido é seu pai legítimo. Incontestavelmente. Talvez mais importante nas ciências exatas do século XX do que Albert Einstein. Se perde, é por muito pouco.
Mas, afinal, quem é Alan Turing? Turing nasceu em Londres no ano de 1912. Filho de burocratas medianos, estudou nas escolas públicas da elite mas sempre foi aluno regular. Graduou-se em matemática no King's College, Cambridge, sustentando uma bolsa de estudos aos trancos e barrancos. Era gago. Corria muito, maratonista. Quase perdeu a bolsa. Na pós-graduação, também em Cambridge, brilhou alto. Tinha 28 anos.


Matemática é filosofia? Ou vice-versa?
Em 1854 o filósofo George Boole propôs que a Lógica pertencia ao campo da matemática, não ao da filosofia. Sua tese era sustentada porque todas as afirmações lógicas, desde o tempo dos gregos, poderiam ser reduzidas a operadores básicos - "e", "ou", "não" -, e portanto era possível expressá-las em equações. Estes operadores, embora cumprindo objetivos diferentes, não eram diferentes dos de outro campo da matemática, a aritmética, com suas adição, subtração, divisão e multiplicação. É a álgebra booleana.
Muita gente trabalhou a partir daí, principalmente o austríaco endemoniado Kurt Göedel, que chamou a atenção para o fato de que a matemática era capaz de fazer proposições arbitrárias, que não podiam ser nem provadas, nem refutadas. E depois perguntam porque filósofos e matemáticos são gente perturbada. Perturbado, como convém, o jovem Turing tentou desmembrar o problema.
Se uma conclusão matemática pode parecer tão abstrata a ponto de não poder ser provada ou refutada, bem, ela ainda pode ser descrita por um raciocínio tolo. Tolo por metódico e chato. São contas, contas em seqüência. E conta não é trabalho para matemático, que deve estar mais preocupado em pensar do que com atividades mecânicas. Se são atividades mecânicas, então uma máquina pode resolver isso. Turing procurou descrever como deveria agir uma máquina que entendesse quais contas deviam ser feitas e que as fazia.
Mas o trabalho de Alan Turing foi escrito em papel e em língua que só matemático entende. Simples que pode ser explicado até por quem não entende matemática, mas tão profundo que quase ninguém viu no trabalho qualquer coisa que não o óbvio. Ou, com o perdão da palavra, o lógico.
Herói de guerra
Quando finalmente seu trabalho foi publicado, Turing estava a cata de um estágio em Princeton, EUA, centro que em finais dos anos 30 era a meca da ciência. Einstein estava lá, e muitos outros, expulsos da Europa pelo nazi-fascismo que estendia suas garras. Mas todos o ignoraram, era um pirralho. Todos menos um. "Johnny" von Neumann, o pai direto da Bomba, ficou fascinado com o jovem inglês e viu que ele tinha inventado um novo ramo do conhecimento. Ao seu lado, no século, Einstein e Freud. Só. Von Neumann fez de tudo para mantê-lo em solo americano. Mas Turing voltou para sua Bretânia.
De volta ao King's College, a Guerra estourou e Turing foi alistado. Trabalhou num centro de pesquisa altamente secreto dedicado à contraespionagem. Os alemães desenvolveram uma máquina, chamada Enigma, que permitia criptografar mensagens a partir de um código, uma chave. Os ingleses sabiam como Enigma funcionava, mas sem conhecer a chave que fazia com que as palavras se embaralhassem de uma ou de outra maneira, era impossível decifrá-las. E nisso navios britânicos eram afundados, Londres bombardeada, enquanto os sinais da comunicação por rádio entre alemães eram indecifráveis.

Alan Turing construiu sua máquina. Demorou um tempo. No início, decifrava em dias - tarde demais. Depois, em horas. Então Colossus, a máquina, resolveu tudo em minutos. Foi como se os alemães trocassem informação em inglês pelo correio de Sua majestade. Diz a lenda que muitas cabeças rolaram no alto comando de Berlim acusadas de alta traição. Os alemães jamais conceberam que os ingleses estivessem de fato quebrando sua criptografia de última geração. (Da próxima vez que você ver Winston Churchill falando em sangue, suor e lágrimas num documentário, pense em um jovem matemático gago, homossexual e desgrenhado, não num soldado com rifle à mão.)

A importância de ser prudente
Passada a Guerra, o herói Turing dedicou-se a estudar as possibilidades de sua máquina. Sob os auspícios de von Neumann, nos EUA, o ENIAC, primeiro computador eletrônico, estava sendo concretizado de acordo com seu trabalho. Enquanto isso, Turing já tentava imaginar seus limites. Ganhando velocidade de processamento, aquela máquina que entendia o problema e fazia as contas necessárias para resolvê-lo não se aproximaria de um cérebro? Será que não poderia transformar-se numa forma de inteligência?
Alan desenvolveu um teste, o Teste de Turing. Imagine-se numa sala de chat, como tantas na Grande Rede. Se em meia hora de papo, perguntas e respostas, você estiver convencido de que seu interlocutor é uma forma pensante, ele não é uma máquina de Turing. Mas isso quer dizer que é humano? A inteligência artificial avançou muito recentemente e existe uma medalha de ouro e um prêmio de cem mil dólares para quem desenvolver um programa que passe no Teste de Turing.

Alan não verá isso, claro. Um dia foi trabalhar e deixou um namorado recém conhecido em casa. O rapaz roubou-lhe um faqueiro de prata e meia dúzia de cacarecos. Seria uma história típica se o matemático não tivesse sido imprudente. Indignado, deu queixa à polícia. Na Inglaterra dos anos 50 as leis do tempo de Oscar Wilde mantinham-se. De vítima, viu-se processado pelo Estado. Como era herói de guerra, foi poupado da prisão mas condenado - por ser homossexual - a um tratamento hormonal que lhe conteria a libido. A um colega confessou humilhado: "estão crescendo peitos em mim." Na noite de 7 de junho de 1954 comeu uma maçã mergulhada em cianeto, inspirado em "Branca de Neve" de Walt Disney.

Pop star
"Turing e o computador em 90 minutos" é um livrinho que se mata em 60. Explica coisa complicada direitinho, fazendo da leitura rápida e agradável. Se viesse com bula como as de brinquedo provavelmente poderia ser recomendado a crianças a partir da sétima série. Mesmo. Basta curiosidade. O que não quer dizer que seja infantil, visto que é profundo. Serve para adultos se deliciarem. Grande introdução a um homem e suas idéias que moldaram o mundo.
Sem a máquina de Turing muito do nosso dia-a-dia não seria o que é. Não falo da Internet ou do caixa-eletrônico, que seria apenas o óbvio, mas dos cálculos necessários para levar o homem à Lua, ou para sintetizar a molécula de um remédio revolucionário, as contas para decodificar o DNA do Projeto Genoma, ou ainda o software que desenha o carro do ano. Se bobear, o tecido, o corte, a prega do botão do paletó que veste o executivo na esquina. O CD que ouvimos. Em 1976 a Apple adotou o símbolo de uma maça mordida em homenagem a memória de Alan Turing.


Lá no submundo da Internet, entre os hackers, Alan Turing é pop star, estampa de camisteta, epígrafe certa. Merece o título. Foi transgressor, excêntrico, poeta na linguagem que escolheu. Viveu (e morreu) inconformado como um Chet Baker, Jimi Hendrix, Kurt Cobain ou Renato Russo.